sexta-feira, 22 de junho de 2018

IMAGO MORTIS - L.S.D.


Ano: 2018
Tipo: CD
Nacional


Tracklist:

1. The LSD Theorem
2. Binary Viscerae
3. Hieros Gamos
4. Incantation
5. The Promise
6. Two Headed Chimaera
7. A Farewell Kiss
8. Black Widow
9. Alone
10. Exile
11. Epitáfio de Um Amor
12. Love Sex and Death (Theme)


Banda:


Alex Voorhees - Vocais
Daemon Ross - Guitarras
Rafael Rassan - Guitarras
Charles Soulz - Teclados
Paulo Ricardo Silva - Baixo, baixo fretless
André Delacroix - Bateria


Ficha Técnica:

Alex Voorhees - Produção, mixagem
Michel Marcos - Masterização
Julia Crystal - Vocais em “The Promise”
Mari  Elbereth  Figueiredo - Vocais em “Two Headed Chimaera”
Thiago Connall - Darbuka, Bodhrán em “The LSD Theorem” e “Hireos Gamos”
Alcides Burn - Artwork


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:
  
Texto: Marcos Garcia


O que poderíamos, em um cenário musical em que a inovação é quase que um pecado mortal (tendo em vista o número absurdo de bandas retrô que surgem todos os dias), definir como uma banda que se diferencia?

Em uma aproximação de caráter subjetivo, poderíamos dizer que uma banda desse tipo é aquela que transcende os rótulos, aglutinando influências musicais diversificadas, e que assim é capaz de recriar-se conforme o tempo passa, e se colocar acima daquelas que apenas repetem fórmulas musicais já erodidas. A criatividade não se faz em cima de clichês musicais exauridos, mas em algo que tenha frescor, que vem da alma do músico e nos dá aquela sensação de novidade. E isso é algo para os que sabem ousar, aqueles que não têm medo de reações adversas e narizes torcidos. Dessa maneira, chegamos à conclusão que o sexteto carioca IMAGO MORTIS é um gigante em termos de ser criativo, e comprovando isso, eis que após 12 anos de espera, eles acabam de soltar “L.S.D.”, seu mais novo trabalho.

Mais uma vez, o grupo usa de um conceito único em suas letras: a sigla L.S.D. significa “Love, Sex and Death”, uma alusão às substâncias químicas que provocam a “paixão”. Na realidade, o romantismo aqui é tratado de uma forma totalmente poética e subjetiva, embora adornada com pensamentos que rementem à filosofia de Platão, Schopenhauer, e Nietzsche, bem como estudos da antropóloga Helen E. Fisher, algo do tantrismo, e mesmo reflexões pessoais sobre o amor, a morte, a vida em si, e como a espiral formada por esses três elementos nos envolve cotidianamente. Realmente algo bem papo-cabeça.

Só que estamos falando de música, e isso, o IMAGO MORTIS sempre tem o que mostrar. Definir o trabalho deles como Doom Metal é ser displicente, já que são tantos elementos aglutinados que remetem à New Age, Bossa Nova, Jazz, ao Rock Progressivo, juntamente com influências de Metal moderno, estilos extremos de Metal e tantos outros que fica difícil tentar pôr um rótulo único. Se podemos aferir algo nesse sentido, temos aqui uma abordagem eclética e moderna de Doom Metal. Por isso, a melhor coisa a fazer para começar a compreender o que “L.S.D.” musicalmente é fugir de qualquer tipo de limitação. Digamos que o impacto criativo desse álbum é tão grande como o que conhecemos de “Vida - The Play of Change”, e que ora soa vigoroso, forte e pesado, ora mais denso, melancólico e introspectivo. É uma autêntica viagem, e meus caros: que disco!

Sim, “L.S.D.” é formidável, um desafio que merece ser encarado de peito aberto.

A produção é do Alex Voorhees, e o trabalho que ele teve não foi simples, pois a sonoridade de “L.S.D.” é digna de muitos discos gringos, com tudo soando audível, sem que detalhe algum fique escondido de nossos ouvidos, mas com energia e muito peso. A timbragem dos instrumentos contribuiu bastante já que ela soa cristalina nos momentos mais suaves; e pesada quando o grupo cai para o lado mais agressivo de sua personalidade. Tudo feito com esmero e cuidado para que o grupo posso ser compreendido em sua totalidade (o que não é simples).

A arte gráfica, muito bem trabalhada, é do veterano artista Alcides Burn, que mostra inspiração e segue a ideia do conceito à risca. No encarte, tudo muito simples em termos de texturas de fundo, mas sabendo usar os tons escuros de vermelho e preto para prender a atenção do ouvinte.

Se já temos dificuldade de rotular o que IMAGO MORTIS faz, quanto mais o disco vai tocando, mais se percebe que, musicalmente, o álbum está longe de ser simples de ser assimilado. Uma audição apenas não é suficiente para absorver tantos detalhes e ecleticismo, embora também não chegue ao minimalismo soporífero de muitos (Não tem nada a ver com técnica musical exacerbada, mas com riqueza de arranjos). Longe disso, as canções de “L.S.D.” prendem completamente nossa atenção, graças a belas linhas melódicas que se distribuem por todas as canções do álbum, e a harmonias bem construídas.

Com mais de 13 minutos de duração, a gigantesca “The LSD Theorem” abre o disco, com muitas partes percussivas e com belas cordas (quase um ritual hindu tântrico) que chega mostra uma canção rica em andamentos e com belíssimas mudanças de timbres vocais (as partes interpretativas são belíssimas). Misturando teclados jazzístiscos com partes brutais e outras mais técnicas, bumbos velozes e alguns tempos quebrados, temos “Binary Viscerae”, onde muita influência de estilos mais modernos de Metal extremo dão as caras. Os mesmos elementos podem ser ouvidos em “Hieros Gamos”, embora seja um pouco mais simples e focada na agressividade (e onde baixo e bateria se destacam em uma base rítmica sólida). Mais introspectiva e bela, “Incantation” possui belos duetos de guitarras, além de pianos bem encaixados. Também bem sensível e cheia de melodias caprichadas é “The Promise”, onde temos a participação especial de Julia Crystal, cantora de New Age que empresta seu talento para criar lindos duetos vocais. “Two Headed Chimaera” rebusca o contraste de partes melodiosas e pesadas com momentos brutais, e outra onde temos excelentes duetos vocais, dessa vez com a presença de Mari Elbereth Figueiredo (ex-vocalista do MELYRA, e atual CHRONICODE). Em “A Farewell Kiss”, surgem aquelas linhas mais etéreas e pesadas comuns às bandas de Doom Gothic Metal, mas logo o peso dos andamentos mais lentos do Doom Metal se impõe, mas sempre adornados com guitarras fantásticas e teclados bem encaixados. Curta e beirando o Thrash Metal, “Black Widow” é outra canção marcada por uma simplicidade técnica mais evidente, mas que é genial (e mais uma vez, o peso criado por baixo e bateria é de primeira). A longa e densa “Alone” tem um enfoque belo e introspectivo, e aquele leve toque de melancolia dado pelos teclados que é uma das marcas registradas do sexteto (e que solos de guitarra). “Exile” é curtinha, uma instrumental de pianos e teclados que antecede “Epitáfio de Um Amor”, declamada em português, é um poema quase filosófico permeado por orquestrações e alguns arranjos de guitarras providenciais, mas sem quebrar o clima soturno. E “Love Sex and Death (Theme)” alterna partes mais melancólicas e intimistas (onde o baixo debulha na técnica) com outros mais grandiosos, onde teclados preenchem os espaços e a bateria mostra-se muito pesada (e nas partes agressivas, com vocais gritados, as guitarras tecem belas linhas melódicas).

Desta forma, a nova encarnação do IMAGO MORTIS se mostra vigorosa e criativa como as anteriores. Logo, “L.S.D.” é um dos grandes discos do ano de 2018, logo, merece estar na coleção de qualquer fã de Metal que se preze. E conforme for sendo assimilado pelos fãs, é um candidato a seguir os passos de “Vida - The Play of Change”: se tornar um clássico do Metal nacional.

Nota: 100%