segunda-feira, 12 de novembro de 2018

DEEP MEMORIES - Rebuilding the Future


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. When the Time for My Last Breath Comes
2. Suffocating Grayish Darkness
3. There is No End
4. Between Two Dimensions
5. Looking at the Black Mirror
6. The Bitter Taste of Illusion
7. Explicit Way to Relieve Pain
8. Erased Directed Mindsets


Banda:


Douglas Martins - Vocais, todos os instrumentos


Ficha Técnica:


Contatos:


Texto: “Metal Mark” Garcia


Muitas vezes, é preciso ousar e fugir do ponto comum para ser notado no mundo do Metal dos últimos anos. E é assim que tem sido mais e mais nos tempos atuais, onde a ousadia tem sido deixada de lado em prol da clonagem pura e simples. Mas ainda existem nomes dispostos a não ficarem presos em velhas fórmulas, e um deles é o da “one man band” DEEP MEMORIES, de Americana (lendária cidade de SP, com longa tradição no Metal brasileiro), que nos chega por meio de “Rebuilding the Future”, seu primeiro álbum (lançando no formato físico pela Heavy Metal Rock Records).

O trabalho do grupo não é simples de ser rotulado acuradamente, mas podemos dizer que é uma forma de Avant-Garde Metal, uma combinação de gêneros mais agressivos do Metal (em especial Death Metal e Black Metal) com nuances de Doom Gothic e Doom Metal. É algo complexo, experimental e mesmo melancólico, mas agressivo e requintado ao mesmo tempo, rico em arranjos e mudanças de ritmos. Além disso, variações de timbres vocais e uso de partes de teclados soturnas dão uma aclimatação sombria às canções. Basicamente, sendo o mais simplista possível, seria o encontro de influências vindas de ROTTING CHRIST, “old” MY DYING BRIDE, ARCTURUS, “old” THE GATHERING e CRADLE OF FILTH, e isso sem levar em conta a personalidade musical que permeia esse disco.

Ou seja, “Rebuilding the Future” é um discão!

A produção buscou associar todos os elementos musicais, mas mantendo uma sonoridade que possuísse certa crueza essencial. E podemos dizer que o objetivo foi alcançado, pois se entende tudo que é tocado sem dificuldades, mas ao mesmo tempo, a timbragem contribui bastante para que melodia e agressividade soem claras aos nossos sentidos.

Musicalmente, o trabalho do DEEP MEMORIES foi amadurecido por anos, basicamente desde 2005 (quando Douglas Martins deixou o DESDOMINOUS). Por isso o disco tem um toque “noir”, mas mantendo uma roupagem atual. Arranjos bem feitos, guitarras, baixo e bateria mantendo peso, vocais alternando entre timbres agressivos e limpos, e tudo isso misturado de forma homogênea, de maneira que cada audição nos dê uma impressão nova sobre o disco.

Triste e densa é “When the Time for My Last Breath Comes”, recheada por teclados providenciais e riffs hipnóticos (e reparem na multiplicidade de tons vocais), seguida de “Suffocating Grayish Darkness” onde os elementos são os mesmos (embora as guitarras se destaquem mais pelos riffs sinuosos e solos melódicos). A linha melódica levemente ríspida de “There is No End” nos lembra do início do Melodic Black Metal nos anos 90, com aquela combinação de uma base rítmica pesada e bons teclados (e como baio e bateria estão bem nesta canção). Belas guitarras limpas introduzem “Between Two Dimensions”, que se transforma em uma mistura de partes agressivas recheadas por melodias melancólicas, novamente com guitarras ótimas e privilegiando mais os timbres rasgados de voz, assim como ocorre em “Looking at the Black Mirror” (que possui alguns momentos de ritmos quebrados e outros mais climáticos). Com guitarras mais evidenciadas, “The Bitter Taste of Illusion” mostra uma forte aura Doom Death Metal anos 90, com vocais guturais bem postados. Ainda com a mesma essência dos anos 90, temos “Explicit Way to Relieve Pain”, que nos leva diretamente à fusão do Black Metal grego com os tempos e peso do Doom Death Metal inglês, ou seja, uma música com uma ambientação fúnebre bem trabalhada, com belas incursões de solos e teclados. E fechando, “Erased Directed Mindsets”, uma  instrumental onde o foco é mesmo os teclados e pianos, dando aquela clara e fúnebre ideia de encerramento.

Basicamente, o DEEP MEMORIES vem para somar e mostrar sua competência no meio. E “Rebuilding the Future” é um disco que nos mostra que podems esperar muito dessa “one man band”.

E o disco pode ser ouvido nas plataformas digitais também.


Nota: 87%

MELYRA - Saving You From Reality


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. My Delirium
2. Fantasy
3. Dead Light
4. Eye of the Maze
5. Lucid Dream
6. Faded
7. Ashes to Ashes
8. Zizi
9. Poison of Myself
10. Run & Burn


Banda:


Verônica Vox - Vocais
Fe Schenker - Guitarras, backing vocal
Roberta Tesch - Guitarras, backing vocal
Nena Accioly - Baixo, vocais guturais
Ana de Ferreira - Bateria


Ficha Técnica:

Celo Oliveira - Produção, mixagem, masterização, gravação
Carlos Fides - Arte da capa
Daniel Accioly - Arte do encarte


Contatos:

Site Oficial: www.melyra.com
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Observar o cenário underground do Metal brasileiro é como olhar para um iceberg no oceano: vê-se muito pouco do que realmente é de toda a coisa. Óbvio que nomes como SEPULTURA, ANGRA e KRISIUN são estabelecidos e reconhecidos internacionalmente. Esta é a “ponta do iceberg” do Metal brasileiro, mas existem bandas tão boas quanto elas que, muitas vezes, não recebem as mesmas chances e/ou atenção (por mais que mereçam). Um dos nomes que desponta no Metal nacional de forma lenta é o do quinteto carioca MELYRA, que enfim chega com seu primeiro álbum, “Saving You From Reality”, uma aula para muitos de como se faz música de bom gosto e alto nível.

Para quem ainda não conhece o trabalho do grupo, estamos falando de uma “female band”, ou seja, uma banda composta exclusivamente por integrantes mulheres. Se no EP “Catch Me If You Can” (de 2014) elas nos brindavam com um Metal tradicional à lá NWOBHM, agora temos o mesmo estilo, apenas com contornos e energia mais atualizados, além de influências do Hard Rock surgirem em vários momentos. Sim, agora elas ganharam toda uma vibração moderna, com mais peso e mesmo vocais guturais, mas sem abandonar sua capacidade de criar ótimas melodias, refrães marcantes (que se ouve uma vez e se cantarola na segunda ouvida), e com uma pegada que empolga os ouvintes.

Sim, “Saving You From Reality” é realmente o que o título diz: uma fuga da realidade em prol de algum tempo de boa música e muita diversão que a banda nos proporciona.

Celo Oliveira (um dos melhores produtores do gênero do RJ) fez a produção, mixagem, masterização e gravação do álbum. E ele acertou a mão em equilibrar peso e agressividade na qualidade sonora, que por sua vez é pesada e limpa do jeito que a música do quinteto precisava. Tudo pode ser entendido e assimilado sem dificuldades, além do capricho com a timbragem dos instrumentos. E a arte da capa, feita por Carlos Fides estar muito bonita e consensual com as letras do disco.

A bem da verdade, o quinteto não inventa nada de novo, mas são capazes de meter a mão na massa e fazer com personalidade. E isso é o que conta. Em cada momento de “Saving You From Reality”, tem-se peso, energia, melodias e muita força de vontade, é algo evidente e que salta os olhos. E é suficiente para estabelecer o grupo como uma das revelações do ano. Além disso, as canções são muito bem arranjadas, mas sem que excessos surjam e matem a acessibilidade latente do que fazem. E nenhuma faixa de “Catch Me If You Can”, logo, temos 10 canções completamente inéditas.

“My Delirium” abre o disco com uma pegada muito pesada e agressiva, sem deixar que o ouvinte fique parado, e temos um ótimo trabalho de vocais (reparem nos contrastes entre os vocais limpos e os urros guturais) e guitarras (especialmente nos duetos e solos); melodias acessíveis e de bom gosto surgem em “Fantasy” (uma boa dose de Hard ‘n’ Roll se faz presente, for a um trabalho ótimo de baixo e bateria) e em “Dead Light” (uma canção mais introspectiva e com certo toque de melancolia, com uma exibição de gala dos vocais, sem mencionar os backing vocals pontuais nos momentos corretos). O Hard ‘n’ Heavy grudento de “Eye of the Maze” é um pé na porta, com arranjos mais simples e boa dose de acessibilidade (reparem nos solos de guitarra com forte inclinação ao Hard/Glam, mas com uma base rítmica sólida e pesada), e a mesma pegada se faz presente na ótima “Lucid Dream” (é incrível como os timbres vocais encaixam como um Lego no instrumental). Em “Faded”, mesmo com a essência Heavy Metal à lá NWOBHM, temos uma canção onde os arranjos foram alinhavados por um peso agressivo e rascante (que não oblitera a vocação melódica do quinteto). Mostrando mais modernidade nas harmonias, tem-se a ótima “Ashes to Ashes”, com momentos introspectivos hipnóticos por conta do ritmo refreado e das guitarras com riffs abrasivos, mesmo elementos de “Zizi” (que soa mais melodiosa aos ouvidos, embora de um jeito rascante). Voltando a algo mais alto astral, temos as melodias pegajosas, temos “Poison of Myself”, que começa soturna (com leve dedilhar no baixo), mas logo ganha energia e melodias de primeira, e mantém uma boa dose de acessibilidade musica. E  a cereja do bolo é a pesada e empolgante “Run & Burn”, uma canção equilibrada em termos de agressividade e melodia, e que refrão de primeira (sem mencionar as guitarras tecendo ótimos riffs).

Evoluindo e sabendo explorar sua própria musicalidade, o MELYRA nos brinda com um disco excelente, maduro e cativante. Assim sendo, permitam que as “Metal Girls” do RJ os levam para fora da realidade com “Saving You From Reality” por um bom e prazeroso tempo.

Ah, sim: “Saving You From Reality” pode ser ouvido/adquirido nas principais plataformas digitais.


Em tempo: a baterista Ana de Ferreira deixou a banda em Maio deste ano.

Nota: 96%