domingo, 30 de junho de 2019

BURNING WITCHES: Martelando Metal duro como o aço (Entrevista)



Por “Metal Mark” Garcia


No meio do tsunami de bandas de Metal Old School que tomou conta do cenário, de tempos em tempos um novo nome chama a atenção. E o quinteto feminino suíço BURNING WITCHES é um deles, como o segundo álbum da banda, “Hexenhammer” (uma bela mistura de Metal tradicional com algumas influências de Power/Speed Metal e Hard Rock) está aqui para provar.

E como o disco está sendo lançado no Brasil, tivemos a oportunidade de falar com essas Bruxas do Metal (mais especificamente com a baterista Lala) para saber um pouco mais da história e ambições delas, bem como sobre o futuro.

Lala Frischknecht

MMG: Antes de tudo, gostaria de agradecer pela oportunidade. Como o BURNING WITCHES é um nome ainda não muito conhecido pelos Metalheads brasileiros, poderia nos falar um pouco da história da banda, como vocês se juntaram? E existia a ideia de formar uma banda exclusivamente de membros mulheres? E qual é o conceito, a ideia principal, por trás do nome da banda?

Lala: Olá, Heavy Metal Thunder. Aqui é Lala e eu vou falar em nome das Bruxas. Obrigado por nos entrevistar.

O BURNING WITCHES foi fundado em 2015, na cidade de Brugg, Suíça. É o sonho de Romana (N.T.: guitarrista do grupo) ter uma banda só com integrantes mulheres. Ela possui outra banda, chamada ATLAS AND AXIS, onde somente ela é mulher.

Ela começou a procurar por integrantes e Jeanine Grob (N.T: baixista do grupo), uma amiga de longa data, se tornou o primeiro membro oficial. Ela então encontrou Seraina Telli em uma festa. Deu um estalo imediatamente por conta das habilidades musicais de ambas. Após uma longa busca e diferentes audições para uma baterista adequada, elas me encontraram. Romana pediu a Alea Wyss para preencher a vaga no outro machado (NT.: é comum o uso de “Axe”, ou seja, "Machado", para falar da guitarra em uma forma bem conhecida no cenário). Mas infelizmente, ela saiu da banda por motivos pessoais e foi substituída por Sonia Nusselder como nova integrante. Tivemos semanas bem difíceis porque Seraina também deixou a banda recentemente e quis se concentrar em sua carreira solo. Encontramos Laura por meio de nosso contato holandês por meio de Sonia. Ela fez o primeiro show dela conosco no Sweden Rock Festival e foi um sucesso.

Todas nós amamos Heavy Metal e por aí vai. E isso nos une. O mundo é muito pequeno. Como um ouvinte e frequentador de shows, você nunca saberá se alguém que irá encontrar vai mudar sua vida. A música une as pessoas e felizmente, não requer linguagem, raça ou gênero.

Somos apaixonadas por tocar e, ao mesmo tempo, ajudar e dar suporte umas as outras em uma família de verdade.

E não podíamos pensar em outro nome, Somos apenas um bando de garotas doidas que estão prontas a queimar pelo Metal, e é por isso que nos chamamos BURNING WITCHES.

Laura Guldemond (vocais)

MMG: A Suíça é conhecida no mundo inteiro por nomes como CELTIC FROST, CORONER e mais alguns, mas aparenta aos que moram fora da Europa que é raro ver mais nomes fortes vindos do país. Como se sentem sendo “herdeiras” de tais nomes do Metal?

Lala: É uma honra sermos herdeiras de tais grandes bandas da Suíça que levaram as pessoas a tocarem música ou serem parte de uma banda.

Talvez isso aconteça porque estamos em um país pequeno, e o Metal perde ouvintes por conta da influência do Pop e outros estilos musicais mainstream. Apesar de essas pessoas darem suporte a diferentes tipos de Metal, bem como vão a shows underground ou grandes concertos, ainda é difícil para as bandas conseguirem algo. A população na Suíça é bem pequena. Mas estamos felizes que, mesmo morando em um país tão pequeno, o cenário musical aqui é apoiado pelas pessoas por elas mesmas, que lutam para manter o cenário vivo.


Romana Kalkuhl (guitarras)
MMG: Mesmo sendo uma banda jovem em 2016, as revistas alemãs Metal Hammer e Rock Hard denominaram sua primeira Demo como a “Demo do Mês”. Esse fato deu uma ajuda em abrir portas e para espalhar o nome do BURNING WITCHES por toda Europa?

Lala: Como uma banda novata na época, seria impossível ter uma chance de nos apresentar, e sendo uma “Demo do Mês” em revistas tão grandes como a Rock Hard e Metal Hammer foi um ótimo começo, e nos ajudou a conseguirmos mais exposição. Não esperávamos aquilo. Somos gratas a elas por nos reconhecerem. Talvez as pessoas tenham nos visto lá se perguntaram quem diabos éramos nós, ficaram curiosas e acabaram checando nossa música.


MMG: Em dezembro de 2016, vocês lançaram um Single, “Burning Witches”, e em maio do ano seguinte, “Burning Witches” (o álbum) foi lançado. Como foi a recepção a ele pela imprensa e fãs de Metal? As coisas melhoraram como esperavam?

Lala: Na realidade, foi uma Demo limitada a 666 cópias com duas canções, “Black Widow” e “Burning Witches”, que esgotou em um período curto de tempo.

E sim, tivemos uma resposta grande das pessoas após o lançamento de nosso primeiro disco, “Burning Witches”. Acho que foi revigorante para elas verem uma banda feminina tocando Heavy Metal dos anos 80 em um cenário dominado por homens. É muito surpreendente ver que as pessoas curtiram nossa música. Não esperávamos que isso acontecesse. E naquela época, começamos a conseguir mais shows, e também uma chance de tocar em grandes festivais como o “Bang Your Head” na Alemanha, que foi nosso primeiro grande festival.


MMG: Hora de colocar “Hexenhammer” como centro das atenções. Levou apenas 1 ano entre o lançamento dele e o de “Burning Witches”, uma estratégia não muito usual para od dias de hoje, onde as bandas preferem períodos mais longos entre dois lançamentos. A pergunta: por que tão cedo? E como a Nuclear Blast Records recebeu a ideia de um segundo álbum apenas um ano depois do primeiro?

Sonia “Anubis” Nusselder (guitarras)
Lala: Após o lançamento de nosso primeiro álbum, continuamos escrevendo canções. Já tínhamos 5-6 músicas antes da Nuclear Blast Records nos oferecer um contrato. Então foi um “timing” perfeito. Sem pressa alguma. Como me lembro ouvir a notícia de que a Nuclear Blast queria nos contratar: foi um momento inesquecível, era inacreditável saber do interesse de um selo tão grande. Estamos muito felizes de saber que eles acreditaram em nosso potencial, não só como uma banda feminina, mas como uma banda que pode fazer música boa e refrescante.


MMG: O título do disco, “Hexenhammer”, está ligado de alguma forma à concepção musical ou lírica de alguma forma? Por favor, nos fale de suas idéias sobre ele.

Lala: Tínhamos a ideia de que o Hexenhammer (NT.: em alemão, significa “Martelo das Bruxas”, o livro conhecido da Idade Média) poderia ser um conceito perfeito para um disco, porque também lida com nossa história. E fazia sentido para todas nós. Ele é uma Bíblia da Caça às Bruxas que lida com a perseguição e extermínio de bruxas. E é também uma parte triste da história.

Existem algumas canções que se referem ao Hexenhammer e ao seu criador. Como nossas canções “Dead Ender” e “Hexenhammer” são sobre Heinrich Kramer, que é o autor do livro, um canalha que dizia que as vidas das Bruxas não tinham importância, e que deveriam ser queimadas vivas. A canção “Executed“ é sobre Anna Göldi, a última Bruxa da Suíça e sua vida angustiante. Mas também temos letras sobre a criação de guerras, comportamento humano, racismo, mitos de Bruxas como “Man-Eater”. Algumas são baseadas em opiniões e na imaginação.


MMG: Uma coisa que chama a atenção em “Haxenhammer” é a presença dos integrantes do DESTRUCTION, Schmier e Damir Eskić trabalhando na produção (junto com V. O. Pulver, que trabalhou também na gravação, na mixagem e na masterização). Mas eles são músicos de Thrash Metal, e vocês estão em um formato mais voltado ao Metal tradicional, então, como foi trabalhar com eles? As diferenças musicais melhoraram as coisas para vocês?

Jeanine Grob (baixo)
Lala: Schmier é um amigo de longa data de Romana, e Damir (também do GOMORRA) é o marido dela. Esses caras formidáveis estão conosco desde o primeiro dia, ou antes do BURNING WITCHES ser formado. São essas as pessoas que nos ajudam de muitas maneiras, nossos mentores e, claro, eles são nossa família. Ter Schmier e Damir a nosso lado é como ganhar na loteria (risos). V. O. Pulver também é um amigo de longa data de Schmier e também de nossa família Metal. Confiamos totalmente nele desde “Burning Witches”. Essas pessoas têm décadas de conhecimento na indústria musical.

E estar em uma banda de Metal tradicional não nos afeta, ou mesmo nossos mentores, que são de uma banda de Thrash Metal. Isso porque todos estão, de uma forma ou outra, ouvindo algo e, no fim do dia, será tudo sobre música e como faze-la de uma forma certa e boa.


MMG: Courtney Cox (guitarrista do THE IRON MAIDENS, e que tocou no PHANTOM BLUE) faz um solo de guitarra em “Maiden of Steel”. Como surgiu a ideia de convidá-la para tocar com vocês? E como se sentem com o resultado?

Lala: Courtney é uma amiga de Romana, e ela pediu a Courtney se ela poderia tocar em alguma canção nossa, e ela concordou. E ficou ótimo. Você pode ouvir muitas variações melódicas no solo dela em “Maiden of Steel”, e sim, ela é uma guitarrista que arrebenta como todos sabem, ha ha. Obrigado, Courtney!


MMG: Não gosto de falar sobre minhas reflexões pessoais em entrevistas, mas quando ouvi a música do BURNING WITCHES em “Hexenhammer”, soou para mim como algo novo, fresco e cheio de vida, o posto ao que ouço com freqüência em bandas que tocam tais gêneros musicais velhos (que tentam desesperadamente emular as qualidades sonoras do passado). Qual é o segredo de tão impressionantes energia e vida?


Lala: Muito obrigada. Romana é quem faz todos os riffs. Seraina fez as letras e também contribuía na composição das músicas. Romana tem muitas idéias e é bem rápida em escrever canções. Acho que é uma mistura de talento e devoção aquilo que você ama fazer. Praticar enquanto se diverte também ajuda bastante e torna a ambientação verdadeiramente maravilhosa e sem nenhum tipo de pressão. Não temos medo de experimentar novos materiais porque a canção já está finalizada, ainda podemos decidir se é suficiente para nossa própria satisfação. Acontece que esse é o sonho de todos hoje em dia, e se torna ainda mais cheio de energia porque nós só temos uma visão e objetivo, e essa visão é de fazer música boa e refrescante, e tocar isso o mais pesado que pudermos, e aproveitar cada momento enquanto estamos no palco tocando. Bons elos e amizade são importantes em uma banda. Eles criam uma boa ambientação para trabalhar da forma mais divertida e fácil.


Lala Frischknecht (bateria)
MMG: Esta pode soar um pouco ingênua, mas porque gravaram uma versão para “Holy Diver” do DIO? E o resultado final é ótimo, me permita dizer.

Lala: Bem, obrigado. “Holy Diver” é a primeira música canção que ensaiamos juntas e tocamos ao vivo pelo menos uma cem vezes. Ela é um dos melhores hinos do Metal no cenário musical. Amamos toca-la ao vivo enquanto as pessoas cantam. E nos conectar a elas é o ponto alto durante nossos shows.


MMG: Como dito acima, no nome do BURNING WITCHES ainda não é muito conhecido no Brasil, mas enquanto falamos, tanto “Burning Witches/Burning Alive” como Hexenhammer” estão sendo lançados aqui pela Shinigamy Records/Nuclear Blast Brasil. O que acha disso? E se talvez isso faça as coisas crescerem por aqui, então esperamos que venham queimar nosso país com shows!

Lala: Obrigado a todos por acolherem nossa música em seu belo país. Não esperávamos que nossa música fosse alcançar o Brasil. É tão bom ver como a música pode navegar pelo mundo. É óbvio que existem pessoas que podem nunca ter ouvido falar de nós. É uma ótima chance a explorar e mostrar as pessoas que fazemos um bom e refrescante Heavy Metal. Esperamos poder ir e tocar em seu país. E ouvimos falar que as plateias brasileiras são insanas! Isso nos interessa, e esperamos algum dia queimar o palco e encanta-los para nosso círculo de bruxas.


MMG: Enquanto falamos, as notícias dizem que a vocalista Seraina deixou o grupo, e que uma nova Bruxa se juntou ao círculo: Laura Guldemond. Como as coisas estão indo com ela na banda? E ela cantou com vocês no Sweden Rock Festival, então como foi esta experiência de tocar o primeiro show com uma nova vocalista em um festival tão grande?

Lala: Sim, infelizmente Seraina deixou a banda. Foi triste, mas não podíamos fazer nada. Todos são livres para fazerem o que quiserem de suas vidas. Mas somos afortunadas em encontrar nossa nova Bruxa, Laura. E que talento imenso e garota louca que ela é, o mesmo que nós, ha há... Não são muitas pessoas que conseguem aprender 10 músicas em um período curto e cantar com culhões em um grande palco. Estamos orgulhosas dela. Ela gosta de ação, então é perfeita, ha ha.

Também gravamos um vídeo para uma canção com ela cantando, chamado “Wings of Steel”, que está no youtube como um visualizador oficial (NT.: este vídeo está logo abaixo da entrevista), mas estará disponível como Digi Single em 19 de Julho. E que canção ótima com tanto poder, melodias e velocidade! Laura realmente acertou nela!

BURNING WITCHES ao vivo no Sweden Rock Festival

MMG: O vídeo promocional para “Hexenhammer” é a canção-título. Quem escolheu esta canção em especial? E existem planos para algum novo para breve?

Lala: Todas nós decidimos fazer desta a faixa-título. Achamos que seria a canção perfeita para mostrar as pessoas o que elas poderiam esperar de “Hexenhammer”. Um verdadeiro Heavy Metal dos anos 80 com um toque da era moderna. Uma vez que tiver ouvido, não poderá sair, pois terá sido enfeitiçado, mas é certo que não vai se arrepender, ha há.

Atualmente, estamos trabalhando de forma intensa para novos materiais para nosso novo álbum, que deverá ser lançado no final de 2020. Logo, cuidado, colegas! Tenham certeza de estarem com os cintos apertados, ha ha. Será um tipo ardente de Heavy Metal.


MMG: Como falamos de shows, como está a agenda de vocês por agora? Alguma turnê fora da Europa está marcada? Espero que o Brasil esteja em seus planos, e vou pedir a vocês para assinarem minhas cópias de “Burning Witches” e “Hexxenhammer” (risos).

Lala: No momento, estamos ocupadas fazendo muitos shows na Europa e trabalhando no novo material para o disco novo que mencionei antes. Ainda não temos datas para o Brasil, mas é claro que visitaremos e tocarem em seu belo país, e beber Caipirinha enquanto caminhamos em Ipanema ha ha.

E ficaremos felizes em autografar seus discos. Sempre amamos fazer isso, ha ha.

BURNING WITCHES

MMG: Bem, é isso. Quero agradecer a você mais uma vez e, por favor, deixe sua mensagem para seus fãs e para os leitores do Heavy Metal Thunder Brasil.

Lala: Muito obrigado pelo seu apoio. Queremos mandar todo nosso amor para vocês. “Keep It Burning”, camaradas. “Stay Heavy” e mais força ao “Heavy Metal Thunder Brazil”! Obrigado por espalharem as palavras. Horns up!


Contatos:



P.S.: O Heavy Metal Thunder Brasil gostaria de agradecer a Shinigami Records e a Marcos Franke (da assessoria de imprensa da Nuclear Blast Brasil) pela oportunidade de entrevistar Lala (and thank a you a lot, Lala).

Veja os vídeos para “Executed”, “Hexenhammer” e “Wings of Steel”:


Executed



Hexenhammer



Wings of Steel

quinta-feira, 27 de junho de 2019

BURNING WITCHES - Hexenhammer


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. The Witch Circle
2. Executed
3. Lords of War
4. Open Your Mind
5. Don’t Cry My Tears
6. Maiden of Steel
7. Dungeon of Infamy
8. Dead Ender
9. Hexenhammer
10. Possession
11. Man-Eater
12. Holy Diver
13. Self Sacrifice (bônus)
14. Don’t Cry My Tears (acoustic) (bônus)


Banda:


Seraina - Vocais
Romana - Guitarras
Sonia - Guitarras
Jay - Baixo
Lala - Bateria


Ficha Técnica:

V. O. Pulver - Produção, Gravação, Mixagem, Masterização
Schmier - Produção, Gravação
Damir Eskić - Produção, Gravação
Gyula Havancsák - Artwork, Layout
Courtney Cox - Guitarra solo em Maiden of Steel”


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

As bandas femininas existem no Metal desde os anos 70, mas apenas após o sucesso comercial da carreira solo de LITA FORD, do WARLOCK (e consecutivamente, de DORO), muitos outros foram surgindo. Hoje em dia, as garotas provaram que elas podem contribuir muito para o Metal com seu talento. E um dos nomes mais fortes do Metal feminino nos dias de hoje é das Bruxas suíças do BURNING WITCHES, um quinteto que acaba de ter seu segundo álbum, o excelente “Hexenhammer”, lançado no Brasil pela parceria da Shinigami Records com a Nuclear Blast Brasil.


Análise geral:

O que se pode esperar de uma banda conterrânea de nomes como HELLHAMMER/CELTIC FROST, CORONER e outros?

Antes de tudo, é preciso deixar claro que o caldeirão dessas Bruxas arde com o mais puro Metal tradicional que se possa pedir, um misto de influências da NWOBHM, do Metal tradicional germânico e do U.S. Metal, com aquela aura dos anos 80. Nomes como JUDAS PRIEST, ACCEPT e mesmo WARLOCK vem à mente, mas sempre com uma personalidade forte pulsando em suas canções, que mostram uma energia absurda, sem mencionar que elas são especialistas em refrães bem feitos, melodias certeiras.


Arranjos/composições:

O grupo sabe fazer um equilíbrio inteligente e espontâneo entre peso, melodias e agressividade, e mantendo um nível técnico muito bom e sem muitas firulas. Além do mais, os arranjos são muito bons, os andamentos são variados (o que não deixa os fãs entediados), e não lhes falta inspiração.

Aliás, os vocais são ótimos, as guitarras criam riffs e solos melodiosos e de fácil memorização, sem falar que baixo e bateria esbanjam peso e diversidade rítmica.


Qualidade sonora:

O BURNING WITCHES é mais um grupo que foge à regra do dito “retro-Metal”: a produção é de primeira.

Gravado, mixado e masterizado no Little Creek Studio sob a tutela de V. O. Pulver, do PÄNZER, e que fez a mixagem e masterização sozinho, embora tendo uma mão de Schmier (baixista/vocalista do DESTRUCTION) e de Damir Eskić (guitarrista do DESTRUCTION) na produção e gravação, “Hexenhammer” soa pesado, sólido e compacto, sem buracos. Mas ao mesmo tempo, a sonoridade espontânea do disco soa clara, bem definida em termos de instrumentos e vocais, com um toque de modernidade que fez bem ao trabalho do quinteto.

Basicamente, tem-se o melhor dos dois mundos em uma qualidade sonora.


Arte gráfica/capa:

A arte gráfica de Gyula Havancsák é belíssima, trazendo para o ambiente visual todos os elementos que o nome e letras do disco inspiram. Para quem não sabe, “Hexenhammer” é a tradução em alemão do nome “Martelo das Bruxas”, ou “Malleus Maleficarum”, livro que tornava práticas heréticas em crime, inclusive passíveis de pena capital. Mais detalhes podem ser lidos aqui pelos mais curiosos.


Destaques musicais:

“Hexenhammer” é um disco difícil de não gostar, pois reúne todos os elementos que um bom fã de Metal exigente quer, e todos em alto nível. Além disso, é um disco bem equilibrado em termos de composição/inspiração. E para as primeiras audições, estas são as mais viciantes:

Executed: um murro nos tímpanos de pura energia, com agressividade alta, ritmo em boa velocidade (as conduções da bateria são ótimas), mas as guitarras chegam pondo a casa abaixo com bases marcantes e de ótimo gosto (e solos inspirados).

Lords of War: a velocidade decresce, mas o peso fica evidenciado, bem como as melodias. Aliás, o refrão é viciante, pegajoso, como toda estrutura harmônica. E que vocais de excelentes!

Open Your Mind: Nessa, as variações de andamento são mais explícitas, ou seja, baixo e bateria de destacam em um trabalho sólido e técnico de primeira (o uso de bumbos duplos em certos momentos ficou perfeito).

Maiden of Steel: um típico Hard ‘n’ Heavy poderoso, com ótimas linhas melódicas, backing vocals inspirados e refrão de alto nível. As guitarras estão excelentes mais uma vez. E nos solos, a presença especial de Courtney Cox (ex-guitarrista do finado PHANTOM BLUE, hoje no THE IRON MAIDENS, onde é conhecida como Adriana Smith).

Dead Ender: os tempos ficam mais arrastados e pesados, criando uma ambientação densa, com linhas melódicas permeadas de certa melancolia. Os vocais se destacam bastante, sem mencionar que as intervenções das guitarras em alguns temas são providenciais.

Hexenhammer: a dinâmica da canção fica entre uma apresentação mais simples termos técnicos (o que a torna mais acessível comercialmente), melodias bem sacadas e um toque de tristeza (pois o tema tratado na letra é realmente denso).

Man-Eater: definitivamente, a banda sabe apelar em termos de guitarras, pois a vida dessa canção vem toda de riffs de primeira (mesmo com alguns toques de Thrash Metal em algumas partes).

Holy Diver: como o nome já evidencia, é uma versão da banda para o velho clássico do DIO. Óbvio que a música ganhou uma roupagem mais moderna e agressiva (algo esperado por conta dos anos e do próprio estilo do BURNING WITCHES), mas respeitando as melodias originais. Os vocais ficaram de primeira.

A versão brazuca ainda tem duas faixas extras:

Self Sacrifice: uma faixa cheia de energia, com partes mais melodiosas incríveis, outra exibição de gala do quinteto.

Don’t Cry My Tears (acoustic): como o nome já deixa claro, é a versão acústica da balada do disco. Aqui, a original ficou mais suave (os vocais especialmente), outra que pode atingir um público mais amplo, mas que também mostra a versatilidade do quinteto.


Conclusão:

A verdade é: apesar de o disco ser de 2018, “Hexenhammer” é disco certo para uma lista de melhores do ano, pois o BURNING WITCHES veio para ficar e vencer na base do talento!

Se deixem seduzir pelo talento dessas Bruxas do Metal!

Em tempo: a vocalista Seraina deixou a banda há pouco tempo, e já foi substituída por Laura Guldemond.

Nota: 97,0/100,0


Executed



Hexenhammer



Spotify


segunda-feira, 24 de junho de 2019

I GATHER YOUR GRIEF - Dystopian Delusions


Ano: 2019
Tipo: Extended Play (EP)
Nacional


Tracklist:

1. Sand Castles
2. Defendant
3. The Farewell's Sacrament
4. Behind the Wheel


Banda:


Fernando Troian - Vocais
Maicon Ristow - Guitarras
Andre Lazzarotto - Guitarras
Wendel Siota - Baixo
Marcelo Vasco - Bateria, Vocais Limpos


Ficha Técnica:

I Gather Your Grief - Produção
Marcelo Vasco - Artwork


Contatos:

Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Projetos musicais paralelos são, quase sempre, uma alternativa para músicos se expressarem em formas que suas bandas principais não permitem, pois nem sempre essas ideias são compatíveis com aquilo que as bandas principais fazem.

E não é de se admirar que o I GATHER YOUR GRIEF, quinteto de Doom/Death Metal do RS formado por integrantes do SWORDS AT HYMNS, PATRIA e DARK CELEBRATION, soe tão maduro em “Dystopian Delusions”, seu primeiro EP físico.


Análise geral:

O trabalho do grupo vai remeter a nomes como MY DYING BRIDE, PARADISE LOST, ANATHEMA e outras bandas do início do Doom Death Metal, mais um pouco da elegância trazida no final dos anos 90 pelo TRISTANIA. Ou seja, é lento, denso e fúnebre, com bom nível técnico e muito foco nas ambientações melancólicas criadas pelos teclados.

Mas não é necessário dizer que o quinteto realmente sabe fazer música bem à sua moda, mostrando personalidade nas quatro canções.


Arranjos/composições:

Se em termos de musicalidade o grupo sabe o que faz, combinando elementos brutos (como o vocal gutural) com atmosferas melancólica, se percebe que o quinteto não se perde em alguma “egotrip” de técnica exacerbada. O enfoque é ser sinistro e melodiosamente macabro, mas mantendo-se agressivo nas medidas certas.

Há momentos em que as guitarras se sobressaem e mostram arranjos realmente fúnebres, e tudo entremeado por teclados elegantes e soturnos. Além disso, a base rítmica é solida e pesada, e assim, cria-se a colcha instrumental devida para os vocais guturais evoluírem com maestria (embora existam partes limpas, como se pode ouvir em “Sand Castles”).


Qualidade sonora:

Um dos maiores acertos de “Dystopian Delusions” é justamente o não uso de algo elegante e limpo demais, o que só faria a banda soar como tantas outras. Mas mesmo assim, se percebe que a rispidez sonora vinda dos timbres instrumentais. Aliás, soube-se equilibrar ambos os lados: da limpeza (necessária para a compreensão e fluxo das melodias) e o da agressividade (de onde vem a energia abrasiva do que se ouve).


Arte gráfica/capa:

“Dystopian Delusions” vem em um “cardboard sleeve”, ou seja, uma capinha tipo envelope à lá discos de vinil dos anos 80. A arte é bonita, enfocando a melancolia da solidão em noites de inverno. Coisa fina, bem no estilo de Marcelo Vasco (baterista do grupo e conhecido artista gráfico).

Capa de “Dystopian Delusions”

Destaques musicais:

Este EP tem apenas 4 faixas muito bem equilibradas, mostrando um resgate renovado dos aspectos brutais do Doom Death Metal clássico dos anos 90, apenas mais robusto e elegante.

Sand Castles: as melodias são simples, o andamento é um pouco mais dinâmico que as outras (ou seja, não tão arrastado assim), além de mostrar ótimas intervenções de vocais limpos e dois bumbos.

Defendant: esta já tem todos os elementos clássicos do Doom Death Metal (andamento arrastado, rispidez sonora azeda misturada com uma atmosfera deprê), permitindo assim que as guitarras se destaquem bastante.

The Farewell's Sacrament: mesmo mantendo toda a aura soturna do estilo, esta canção mostra maior diversidade de ambientações, e mesmo de técnica instrumental. Os vocais ficaram ótimos justamente por conta desses contrastes.

Behind the Wheel: E uma velha canção de um dos nomes mais fortes do Gothic Rock e mesmo do Doom Death Metal, o grupo inglês DEPECHE MODE. Só que o lado mais soturno da canção é exacerbado por teclados e guitarras pesadas. E ficou ótimo: personalizado, mas sem perder a essência original. E o enfoque mais limpo e “goth” dos vocais ficou perfeito.


Conclusão:

Desta forma, se percebe que o Brasil ganhou muito com o I GATHER YOUR GRIEF, e nos resta torcer para que o quinteto não fique apenas nesse EP.


Nota: 85,0/100,0


Youtube

SABATON - Attero Dominatus (Re-Armed)


Ano: 2006 (lançamento original) / 2019 (relançamento)
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Attero Dominatus
2. Nuclear Attack
3. Rise of Evil
4. In the Name of God
5. We Burn
6. Angels Calling
7. Back in Control
8. A Light in the Black
9. Metal Crüe
10. Für Immer
11. Långa bollar på Bengt
12. Metal Medley
13. Nightchild
14. Primo Victoria


Banda:


Joakim Brodén - Vocais
Oskar Montelius - Guitarras
Rikard Sundén - Guitarras
Daniel Mÿhr - Teclados
Pär Sundström - Baixo
Daniel Mullback - Bateria


Ficha Técnica:

Tommy Tägtgren - Produção, Gravação, Mixagem
Henke - Masterização
Mattias Norén - Arte da capa
Hannele Junkala - Backing Vocals
Marie-Louise Strömqvist - Backing Vocals
Sofia Lundberg - Backing Vocals
Maria Holzmann - Backing Vocals
Mia Mullback - Backing Vocals
Åsa Österlund - Backing Vocals


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

O renascimento dos estilos oitentistas de se fazer Metal na segunda metade dos anos 90 encheram o cenário de cópias e mais cópias de grupos antigos. Mas houveram aqueles que realmente vieram dar um respiro, uma vida nova aquilo que estava desgastado.

E não há como negar: o grupo sueco SABATON é uma das pontas de lança nesse assunto. Seu jeito Heavy/Power Metal rebuscam elementos dos anos 80, mas sempre com um olhar no futuro. E em 2006, lá vieram eles com seu terceiro disco, “Attero Dominatus”, que acaba de ser relançado e renomeado “Attero Dominatus (Re-Armed)”, e que chega ao Brasil via Shinigami Records/Nuclear Blast Brasil.


Análise geral:

Basicamente, o estilo do grupo não mudou tanto assim de lá para cá. Ou seja, é o mesmo Heavy/Power Metal sueco (ou seja, bastante influenciado por JUDAS PRIEST, ACCEPT e nomes da NWOBHM), adornado de belas orquestrações. No tocante técnica musical, nada exagerado, evitando romper a simplicidade, e consequentemente, a acessibilidade de suas canções.

Se percebe que a banda soube reciclar muitos clichês musicais do gênero, dando uma vida nova a cada um deles, bem como soube explorar refrães simples e com um toque épico.  

A fórmula mais certa possível para se criar um disco de primeira, e assim pode ser definido “Attero Dominatus (Re-Armed)”.


Arranjos/composições:

A combinação das orquestrações épicas dos teclados com riffs certeiros (e solos melodiosos com boa técnica, mas sempre sem exagerar), mais refrães bem compostos, mudanças de ritmo providenciais, e tudo isso encaixando sob uma colcha de arranjos musicais de primeira é algo que não tinha como dar errado.

Além do mais, o talento do então sexteto (já que é o primeiro disco da banda com Daniel Mÿhr nos teclados como membro fixo) não deixa dúvidas do quanto eles estavam com fogo nas veias e sangue nos olhos. Por isso esse disco é tão sedutor.

Além disso, como o foco da banda é falar de eventos relacionados sobre as guerras e batalhas da história, é uma aula. Aliás, desperta a curiosidade sobre estes temas, e dessa forma, contribuem para a criação de conhecimento.


Qualidade sonora:

“Attero Dominatus (Re-Armed)” soa grandioso, mas é extremamente pesado e claro aos ouvidos. O disco foi gravado no The Abyss Studio, e Tommy Tägtgren (sim, ele é irmão de Peter) fez um trabalho ótimo na produção e captação (ou seja, a gravação), sem falar que sua mixagem deixou os instrumentos todos com uma boa qualidade, e com os níveis certos de volumes e efeitos. Além disso, a masterização de Henke (Henrik Jonsson, também conhecido como Henke Jonsson) deu uma vida, um brilho às canções.

Além disso, a timbragem dos instrumentos ficou muito boa, sem destoar muito do que se ouve nos shows do grupo.


Arte gráfica/capa:

A arte original de Mattias Norén para a capa não foi mudada, apenas deram alguns toques diferenciados nas cores (a envoltória cheia de espinhos que antes era voltada a tons de roxo agora está em anil). Aparenta novo, mas continua com seus aspectos originais preservados.


Destaques musicais:

Embora o sexteto ainda não esteja em seu ápice criativo, “Attero Dominatus (Re-Armed)” vem para sedimentar o estilo da banda. E, aliás, essa versão tem alguns bônus ótimos.

Attero Dominatus: um Heavy/Power Metal melodioso e com uma estruturação harmônica simples. O refrão é daqueles que se ouve e não se esquece mais, sem mencionar o caráter épico dos teclados. Era canção certa nos shows da banda até pouco tempo. Fala sobre a Batalha de Berlin (1945) na perspectiva do exército soviético.

Nuclear Attack: ótimos arranjos de guitarra permeiam esta canção. Ela é bem pegajosa e dinâmica, do tipo que faz os fãs irem à loucura nos shows, especialmente durante o refrão. As letras lidam com os bombardeios nucleares de Hiroshima (06/08/1945) e Nagasaki (09/06/2019).

Rise of Evil: Nesta, o andamento cai e o foco fica numa ambientação densa e pesada, criada pelos contrastes entre guitarras e teclados. Mesmo o baixo começa a surgir em alguns momentos, e o refrão é excelente. Esta fala sobre a criação do III Reich da perspectiva dos nazistas.

Angels Calling: certos arranjos mais tecnicamente complexos adornam a canção, os teclados fazem fundo, e os vocais se sobressaem mais, devido à capacidade de interpretar e dar emoção às letras, que narra os horrores da Primeira Guerra Mundial.

A Light in the Black: outra canção com andamento moderado e toques épicos nos teclados. Embora sem meter mais nos arranjos do que a música pede, a bateria mostra ótima condução rítmica. E é mais uma em que os vocais estão bem, e a letra fala sobre as força que lutam pela paz no mundo.

Metal Crüe: aqui a banda apela para um Hard ‘n’ Heavy feito à maneira deles. As melodias são simples e pegajosas, e a letra deixa claro: é uma homenagem do grupo a todos aqueles que os precederam e influenciaram sua música.

Basicamente, aqui termina o conteúdo do disco original, e começam as canções extras.

Für Immer: é um cover de DORO. E é interessante ver como a banda faz uma releitura pesada e pessoal, mas sem que se perca a caracterização da original. E que arranjos de teclados bem encaixados!

Långa bollar på Bengt: outro cover, agora para a banda conterrânea SVENNE RUBINS. A original (que pode ser ouvida aqui) tem um jeito Pop Rock/Country Rock bem legal, mas a versão aqui apresentada tem peso e pegada pesada, mas sem perder a melodia.

Metal Medley: como o nome já diz, é um “medley” de canções da banda, tocada ao vivo em Falun. Serve para mostrar como a energia da banda não se perde em seus shows. Na verdade, parece aumentar!

Nightchild: é uma canção assentada sobre uma base melodiosa de teclados e boa presença de guitarras. O andamento mais vagaroso dá ênfase ao peso, e os vocais realmente são excelentes.

Primo Victoria: esta é a versão Demo da faixa-título do disco anterior. Desta forma, é a mesma canção, apenas soando mais crua (justamente por todo acabamento não ter sido feito).


Conclusão:

Mesmo 13 anos depois de seu lançamento original, “Attero Dominatus (Re-Armed)” soa atual, cheio de energia, sendo um disco obrigatório para os fãs do grupo. Ainda mais nessa versão nacional cheia de extras.

Ah, sim: “Attero Dominatus” significa "eu destruo tiranias".


Nota: 91,0/100,0


Attero Dominatus



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