sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

KAMALA - Eyes of Creation



Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Internal Peace
2. Stay with Me
3. Open Door
4. Something to Learn
5. Purpose of Life
6. Believe
7. Deep Breath
8. Eyes of Creation
9. Wake Up


Banda:


Raphael Olmos - Guitarras, vocais, samplers, violão
Allan Malavasi - Baixo, vocais
Isabela Moraes - Bateria

Ficha Técnica:

Guilherme Malosso - Produção, gravação, engenharia, edição, mixagem e masterização 
Yuri Camargo - Assistente de gravação
Corentin Charbonnier - Harpa em “Internal Peace”
Simon Pascual - Gravação da harpa em “Internal Peace”
Victor Martins - Didgeridoo em “Purpose in Life”
Marcus Dotta - Bateria em “Deep Breath”


Contatos:

Site Oficial:
Twitter:
Bandcamp:
Assessoria:


Texto: Marcos Garcia


Há dias em que este autor para e reflete: em mais de 30 anos dedicados ao Metal, poucas vezes vi um momento tão ruim em termos de mentalidade dentro do cenário.

A mentalidade atual é destrutiva, quase que orientada à automutilação, à destruição interna de cada um de nós. Sinceramente, já está cansativo ver as repetições das fábulas à lá “Dungeons & Dragons” e mitologia de J. R. R. Tolkien, os temas de críticas sociais (que muitas vezes possuem uma orientação política, e o homem em si é deixado de lado), ou a infantilidade do paganismo/satanismo que muitos teimam (sinceramente, falar nesse tipo de coisa é admitir que não tem mais o que dizer).

Onde foi parar a força positiva que sentíamos nos anos 80 e 90? E quando foi que o Metal virou um velho senil que repete a mesma ladainha chata? Onde foram parar as criticas legais e bem feitas de bandas como RUNNING WILD, HELLOWEEN e GAMMA RAY (pois Kai Hansen sempre teve um alto astral que transpirava em suas músicas e letras)? Se não fossem nomes como GOJIRA, e alguns poucos, que realmente têm algo construtivo a dizer, o Metal já estaria usando um Papa Nicolau há anos. E no Brasil, há um representante digno dessa positividade construtiva: o trio KAMALA, de Campinas (SP). E dois anos após “Mantra”, e precedido pelo ótimo EP “Consequences Of Our Past - Vol 1”, eles nos brindam com mais um discão: “Eyes of Creation”.

A banda teve uma mudança na formação: saiu o baterista Estevan Furlan, e em seu lugar, entrou Isabela Moraes, que manteve a pegada Thrasher da banda intacta. E musicalmente, o KAMALA está mais amadurecido, com uma agressividade mais enxuta (como se pode ouvir em “Fractal” e “The Seven Deadly Chakras”) e uma noção melodiosa bem mais apurada. Óbvio que a brutalidade da banda diminuiu, mas esse lado mais encorpado é mais uma bela face da musicalidade do trabalho deles que é exposta. O trabalho técnico continua vibrante, mas emoldurada por aquilo que cada música pede. Não há excessos, mas ao mesmo tempo, não é algo simplório.

Traduzindo: “Eyes of Creation” é um passo adiante, olhando para o futuro de cabeça erguida e olhos abertos.

A sonoridade do disco ficou bem mais seca e direta, com timbres instrumentais mais bem definidos. Tudo para que as músicas soem claras e compreensíveis aos nossos ouvidos, ao mesmo tempo em que as melodias ficaram evidenciadas. Mas mesmo assim, há um toque “alive”, já que durante os solos, não existem linhas de guitarra base sob eles. Um trabalho ótimo, digamos de passagem. E a arte é muito bonita, com tons não comuns na capa, e uma diagramação inteligente no encarte.

Se “Mantra” é um disco brutal e com muitos toques de Death Metal, “Eyes of Creation” é mais espontâneo, melodioso e burilado. Os refrões são de assimilação fácil (mesmo em um formato musical tão agressivo), e existem toques experimentais e diferenciados, como a participação de harpas (em “Internal Peace”), mais uma vez o som de didgeridoo é ouvido (em “Purpose in Life”). Partes acústicas também enriquecem o disco, logo, se preparem, pois o KAMALA está com fome de fazer música!

Nove torpedos compõem o repertório de “Eyes of Creation”, todas com suas belezas e particularidades.

O começo de “Internal Peace” é suave, com guitarras acústicas melodiosas, mas logo vem toda fúria Thrasher do trio, com tempos excelentes, refrão grudento e um trabalho muito bom de baixo e bateria. Já usando de um “insight” um pouquinho mais técnico, temos “Stay With Me”, com ótimos tempos e riffs (daqueles cheios de groove moderno). E falando em modernidade, “Open Door” mostra uma ambientação mais abrasiva, e com excelente trabalho dos vocais (os dois vocais ficaram bem encaixados, complementando um ao outro em um contraste muito agressivo). Já em “Something to Learn”, temos algumas passagens mais acessíveis, vindas de influências mais melódicas do grupo, e que encaixaram como uma luva no trabalho da banda. O som de didgeridoo é ouvido no início de “Purpose in Life”, outra em que o peso se baseia em um andamento denso e pesado (reparem como as narrativas com efeitos reforçam o peso azedo da canção). Melodias cheias de groove e transpirando modernidade são os elementos da ótima “Believe” (outra com um trabalho excelente de baixo e bateria), os mesmos elementos que permeiam “Deep Breath” (onde se ouvem partes experimentais, e a bateria é tocada por Marcus Dotta). Mesmo mostrando uma agressividade rasgada e evidente, “Eyes of Creation” é outra canção onde melodias acessíveis aparecem, e são daquelas que qualquer fã de Metal pode assimilar facilmente. E fechando, cheia de melodias mais introspectivas, e com uma ambientação densa, temos “Wake Up”, o perfeito encontro de linhas melódicas bem estruturadas e um toque de agressividade moderna (reparem bem nas guitarras e vocais). E por trás de cada uma das músicas, letras que visam construir, protestar, mas sempre com uma ótima positiva.

Em “Eyes of Creation”, o KAMALA mostra que é mais uma banda cuja música não cabe mais no Brasil. E a banda já se prepara para mais um giro pelo Velho Continente!

Nota: 100%