segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

SATURNUS - Veronika Decides to Die

Ano: 2006 (lançamento original) / 2018 (relançamento)
Tipo: Full Length
Selo: Cold Art Industry Records
Nacional

  
Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução/Contexto histórico: A literatura sempre foi uma inspiração e tanto para o Metal. Desde os primórdios do gênero, as referências à obras literárias são comuns em muitas bandas, seja para composição de uma única canção ou mesmo para gerar um álbum conceitual. Mas é bem é raro livros de autores brasileiros serem usados para tal. Mas é interessante ver que “Veronika Decide Morrer”, obra de Paulo Coelho e lançada em 1998, transcender fronteiras e ser transformada em inspiração lírica pelo sexteto dinamarquês SATURNUS em “Veronika Decides to Die”, terceiro disco da banda, originalmente lançado em 2006 e que agora ganha sua primeira versão nacional pela Cold Art Industry Records.

Análise geral: Em linhas bem gerais, o trabalho do grupo é muito bem feito e maduro. É um Doom/Death Metal pesado e denso, com muita ênfase no lado melancólico e belo (devido ao bom trabalho dos teclados tanto na ambientação como nas partes em que fica bem evidente), mas com um tratamento instrumental diferente devido ao bom nível técnico apresentado. Mas óbvio que se percebem as influências de Classic Gothic Rock no som do sexteto. Mesmo para os padrões de hoje é algo diferente, o que se dirá há 13 anos atrás, quando o gênero estava começando a sair de sua evidência. Além do mais, parece que o livro influencia diretamente o título, mas apenas de forma subjetiva as letras.

Arranjos/composições: Embora existam similaridades estilísticas entre eles e grupos como MY DYING BRIDE (da fase “Turn Loose the Swans” e “The Angel and the Dark River”) e PARADISE LOST (algo da época de “Draconian Times”), os dinamarqueses fazem um trabalho de primeira. Há uma dose de energia introspectiva que flui de suas melodias que realmente prendem os ouvintes, mesmo com canções com durações tão longas. Aliás, mesmo com a duração média de 7 minutos por canção, nenhuma delas soa cansativa ou nos provoca tédio, justamente porque existe uma dinâmica interessante entre os instrumentos e bons arranjos sempre (apesar do enfoque técnico não ser a ênfase do trabalho musical aqui exposto). Pode não ser inovador, mas tem valor (e muito) e tende a agradar os exigentes fãs do gênero.

Pôster da edição nacional

Qualidade sonora: A produção é bem simples em termos de instrumental, sem rebuscar tons muito modernos ou distorcidos. Parece que algo mais orgânico e próximo ao “plug ‘n’ play” foi a escolha do grupo. E nas mãos do velho mestre Flemming Rasmussen (o mesmo que produziu o METALLICA de “Ride the Lightning” até “...And Justice for All”), isso já é muito, pois a sonoridade montada para “Veronika Decides to Die” é ótima, limpa a ponto de se entender tudo que é tocado, mas com um peso cavalar e um toque de classe que faz com que os contrastes entre partes limpas e mais distorcidas soem ótimos e claros aos ouvidos.

Arte gráfica/capaSe existem contrastes no aspecto musicai e sonoro do grupo, eles existem também na arte gráfica. Trabalhando com tons claros e escuros, Travis Smith (capa) e Nikolaj Borg (layout) dão ao lado visual do disco uma ambientação soturna e melancólica, que assim, permitem que ela transpire o que existe na música da banda. E a versão da pré-venda ainda tem pôster, slipcase que protege o jewelcase, e um adesivo. Um trabalho e tanto para este lançamento (sim, pois nenhum disco do grupo havia sido lançado no Brasil até o momento).

Slipcase e jewelcase

Destaques musicais: Existe um toque de “não convencional” que permeia as composições de “Veronika Decides to Die”. O lado melodioso flui de forma que os ouvintes sejam absorvidos pela melancolia que a música do SATURNUS expõe. E como um ótimo disco que este é, a qualidade é distribuída em cada uma de suas canções. E como a Cold Art Industry Records sempre oferece aos fãs algo diferenciado que os instigue, esta versão nacional possui duas faixas-extras.

Destacam-se:

“I Long”: Transitando entre o Doom Death Metal e o Melodic Doom Metal, é uma canção rica em arranjos, e onde o trabalho de baixo e bateria estão ótimos na condução dos ritmos.

“Pretend”: A beleza das melodias introspectivas que transpiram melancolia é incrível, adornada por contrastes de timbres vocais (alguns esganiçados nas partes mais agressivas, outros declamados nas partes mais Doom Gothic).

“Descending”: Mesmo mantendo a identidade introvertida de sua música, esta é uma das canções mais pesadas do disco, com ótimas guitarras nas partes agressivas e solos melodiosos onde o grupo cai para o lado mais deprê. E fica óbvio nos solos as melodias que o guitarrista Michael Denner (ex-MERCYFUL FATE, ex-KING DIAMOND) está presente como músico convidado.

“Rain Wash Me”: O ritmo cadenciado fúnebre garante o peso, mas as partes limpas onde guitarras e fundos de teclado criam uma ambientação densa são excelentes.

“All Alone”: Totalmente focada em algo mais limpo, e uma canção onde a banda pende bem mais para a melancolia Doom Gothic que as outras. Mas existem momento mais agressivos que não obliteram a sensação de interiorização, de depressão e mesmo agonia interior, reforçada claramente pelos teclados.

“Embraced by Darkness”: Aqui, já há maior prevalência de peso e agressividade, mesmo com toques limpos. Fúnebre, é uma canção que realmente nos leva a repensar o sentido da vida.

“To the Dreams”: Tal qual a anterior, esta também enfoca mais o soturno, o fúnebre, o melancólico que circunda o ser humano a cada dia. O uso comedido dos teclados e os contrastes dos timbres vocais são o ponto forte desta canção.

“Murky Waters”: A beleza do peso melodioso e certo toque de acessibilidade gótica são os elementos que permeiam esta canção que vem encerrar o disco em grande estilo.

Óbvio que é obrigatório citar o valor das versões Demo para “Embraced by Darkness” e “Raven God” (esta de uma participação da banda em uma coletânea de 1995, chamada “Brutal Youth”) são ótimas, mais sujas e pesadas que as originais, mas ainda assim, mostrando seu valor.

Conclusão: Ao terminar de ouvir “Veronika Decides to Die”, a única coisa que fica em mente é a torcida para que esgote rápido e incentive a Cold Art Industry Records a lançar os outros discos da banda por aqui. Os fãs merecem que os discos do SATURNUS sejam mais acessíveis.


Tracklist:

1. I Long
2. Pretend
3. Descending
4. Rain Wash Me
5. All Alone
6. Embraced by Darkness
7. To the Dreams
8. Murky Waters
9. Embraced by Darkness (Demo Version)
10. Raven God (Demo Version)


Banda:


Thomas AG - Vocais
Peter - Guitarras
Tais - Guitarras
Anders - Teclados
Lennart - Baixo
Nikolaj - Bateria


Ficha Técnica:

Flemming Rasmussen - Produção, engenharia, mixagem
Flemming "Junior" Hansson - Masterização
Travis Smith - Arte da capa
Nikolaj Borg - Layout
Michael Denner - Guitarras em “Descending”


Contatos:

Site Oficial: http://saturnus.dk/
Assessoria:


Unpackage Video:



Youtube:



Spotify:

ROTTING CHRIST - Genesis (ΓΕΝΕΣΙΣ)


Ano: 2002 (lançamento original) / 2018 (relançamento)
Tipo: Full Length
Selo: Cold Art Industry Records
Nacional


Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução/Contexto histórico: O ano de 2002 se mostrava um ano de transição entre as tendências no Metal. Ao mesmo tempo em que as primeiras bandas de Metal “old school” começavam a despontar no underground, o gênero dominante era o Heavy/Power Metal. No lado extremo, o Black Metal retrocedia de popularidade após anos em evidência. Mas um fator marcante dessa época foi o final da tendência em que bandas extremas amaciavam sua música para um formato mais melodioso e acessível próximo ao Gothic Metal vigente. Alguns grupos pararam, mas alguns resolveram ir adiante. Este último é o caso de ΓΕΝΕΣΙΣ (conhecido mais comumente como “Genesis”), sétimo álbum de estúdio do então quinteto grego ROTTING CHRIST, que veio ao mundo em 29/10/2002.
  
Análise geral: O álbum mostra o grupo ainda em uma transição. Do jeito mais sujo do início (fase representada por “Thy Might Contract” de 1993 e “Non Serviam” de 1994), passando pela fase mais limpa em que se apresenta em um formato Black/Death melodioso (onde “Triarchy of the Lost Lovers” de 1996 e “A Dead Poem” de 1997 são os representantes), os toques experimentais de Gothic Metal que adornavam as melodias mais melancólicas de “Sleep of the Angels” (de 1999), o grupo resolve começar a dar uma guinada de volta às raízes em “Khronos” (de 2000). Mas a volta ao Black Metal soturno do qual são pioneiros se dá em “Genesis”. Aqui, mesmo com a estética musical polida e bem cuidada que prevalecia em seus trabalhos desde 1996, as melodias do grupo se tornam mais soturnas, ao mesmo tempo em que a agressividade tornou a ser evidente. Pode-se dizer que “Genesis” é uma mistura de aspectos musicais de “Thy Might Contract” e “A Dead Poem”, mais a estética cuidadosa de “Sleep of the Angels” e traços épicos que serão prevalentes em “Aealo”. Ou seja, o grupo já se mostra olhando para o futuro.

Arranjos/composições: Olhando em perspectiva, o ROTTING CHRIST mostra-se extremamente inventivo em “Genesis”. Cantos gregorianos, teclados evidentes criando ambientações melancólicas nas partes cadenciadas ou que dão aquela impressão de “trilha incidental de filmes de horror clássicos” nas sequências de maior velocidade, riffs agressivos e incursões de guitarras não convencionais ao padrão Black Metal conhecido da época (embora o quinteto já os utilizasse há anos), toques experimentais (as programações encaixaram como uma luva onde são usadas), vocais com ótima diversidade de timbres (a maior parte do tempo são os rasgados tradicionais, mas existem momentos mais graves e mesmo de vozes limpas, como no refrão de “Quintessence”), solidez e peso na base rítmica (fora a boa técnica apresentada), e as composições possuem melodias bem definidas e mesmo de fácil assimilação pelos sentidos, refrães marcantes... Pode-se dizer que é uma combinação musical de tudo que a banda fez em sua carreira, mas abrindo possibilidades musicais que seriam exploradas e seus futuros álbuns.

Qualidade sonora: Um disco nesse formato e com essa concepção musical de vanguarda merecia uma sonoridade bem cuidada. Nisso, Sakis Tolis se aliou a Andy Classen (na época já conhecido por seus trabalhos com HOLY MOSES, ASPHYX, BELPHEGOR, KRISIUN, REBAELLIUN e outros, e com quem o grupo já havia trabalhado em “Triarchy of the Lost Lovers”) no Stage One Studio para montarem uma sonoridade digna do que o quinteto tinha em mente. A masterização é assinada por Tom Müller, que fez sua parte no Gmbh Studio, em Berlim. É uma produção de primeira, que conseguiu fundir cada elemento musical, mixar cada instrumento, de forma que tudo soa claro e pesado, mas um uma estética um pouco mais seca e limpa, com timbres instrumentais definidos, sem que nada se sobrepusesse ou que soe embolado. Mas soa agressivo ao mesmo tempo, sem que as melodias sejam prejudicadas.


Arte gráfica/capa: O artista gráfico norte-americano Mike Bohatch é quem assina a arte de “Genesis”, que ficou muito bonita, mostrando algo que evocava o passado musical do grupo (algo que não faziam de forma tão evidente desde “Triarchy of the Lost Lovers”), além de uma diagramação que é simples, mas ótima. E no caso desse relançamento, ainda tem-se um slipcase belíssimo envolvendo o jewelcase, além de ter um adesivo para todos aqueles que adquiriram o álbum na pré-venda.

Destaques musicais: “Genesis” é um dos melhores discos do grupo, justamente por estar em uma “encruzilhada” de possibilidades musicais. Além disso, a inspiração é óbvia, sendo que nada nesse disco é descartável. Todas as músicas são excelentes. E ainda se faz necessário ressaltar que esta nova edição, como a original do Brasil, tem a faixa bônus exclusiva da época, “Astral Embodiment”.

Analisando:


“Daemons”: A canção mais curta do disco, e ela é uma declaração óbvia de que eles estavam de volta. E é impossível não falar no uso dos teclados sinistros e o uso de tempos velozes. A letra, para quem nunca analisou, é um ritual de banimento vindo diretamente dos escritos de Aleyster Crowley.

“Lex Talionis”: Cantos gregorianos e riffs densos se mesclam criando uma ambientação soturna, mesmo nas partes mais velozes. No refrão, o ritmo diminui para ganhar mais impacto e marcar o ouvinte.

“Quintessence”: Melodias de Heavy Metal tradicional permeiam a canção como um todo, sendo uma das canções mais atmosféricas por conta da maior evidência dos teclados, mas como os timbres limpos de vocais encaixaram perfeitamente no refrão.

“Nightmare”: O andamento fica ainda mais cadenciado, os vocais usam alguns tons mais góticos em alguns momentos (sem mencionar as partes limpas), e os 7 minutos passam rápido, por conta das melodias envolventes que surgem em vários momentos.

“In Domine Sathana”: Uma das canções mais agressivas e marcantes do disco (e uma predileta dos fãs), que encaixaria perfeitamente nos primeiros lançamentos da banda (embora com mais lapidação em várias partes e maior riqueza em termos de arranjos). É uma das mais tocadas do disco nos shows até os dias de hoje, e um dos clássicos da banda.

“Release Me”: Uma canção mais experimental e atípica. O toque meio Doom Gótico/Industrial de alguns momentos aparentam como uma herança tardia de “Sleep of the Angels”, embora seja uma faixa ótima (e com ótimas partes agressivas).

“The Call of the Aethyrs”: Embora com uma energia mais voltada para o Metal extremo, fica óbvio alguns toques mais voltados ao Gothic da época. Se percebe isso especialmente nos riffs e nas mudanças de tons vocais.

“Dying”: Outra em que o grupo mostra sutilezas ainda ligadas aos seus discos anteriores (que são perceptíveis clara e especialmente nos vocais). As linhas melódicas são simples, e como as duas anteriores, dá um toque diferenciado ao disco.

“Ad Noctis”: Novamente, o uso de cantos gregorianos é usado na introdução da faixa (basicamente, é dito“Miserere mei”, parte do salmo 50, que ganhou versões cantadas a capella feita pelo compósito italiano Gregorio Allegri durante o papado de Urbano VIII), mas logo temos uma faixa agressiva, com alguns toques percussivos.

“Under the Name of Legion”: climática e com toques experimentais, esta é uma das canções típicas de encerramento de um disco. As melodias são excelentes, especialmente em certos crescendo que surgem.

“Astral Embodiment”: Esta é a faixa extra que só havia saído no Brasil, na época. Algumas partes próximas ao Gothic/Industrial, mas mantendo sua base Melodic Black Metal, especialmente nas guitarras.

Conclusão: Mesmo 16 anos depois do lançamento original, “Genesis” continua sendo um disco fantástico, e que agora torna a estar acessível aos fãs brasileiros. E corram atrás, pois esta versão só tem 300 cópias prensadas!



Tracklist:

1. Daemons
2. Lex Talionis
3. Quintessence
4. Nightmare
5. In Domine Sathana
6. Release Me
7. The Call of the Aethyrs
8. Dying
9. Ad Noctis
10. Under the Name of Legion
11. Astral Embodiment


Banda:



Sakis Tolis - Guitarras, vocais, programação
Kostas Vassilakopoulos - Guitarras
Andreas Lagios - Baixo
Georgios Tolias - Teclados
Themis Tolis - Bateria


Ficha Técnica:

Andy Classen - Produção
Sakis Tolis - Produção
Tom Müller - Masterização
Mike Bohatch - Artwork


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Assessoria:


Youtube:



Unpackage video:



Spotify: