Ano: 1982
Tipo: Full
Length
Selo: EMI Odeon
Nacional
Tracklist:
1. Invaders
2. Children of the Damned
3. The Prisoner
4. 22 Acacia Avenue
5. The Number of the Beast
6. Run to the Hills
7. Gangland
8. Hallowed Be Thy Name
Banda:
Bruce Dickinson - Vocais
Adrian Smith - Guitarras, backing vocals
Dave Murray - Guitarras
Steve Harris - Baixo
Clive Burr - Bateria
Ficha Técnica:
Martin “Farmer” Birch - Produção, engenharia,
mixagem
Derek Riggs - Artwork
Contatos:
Site Oficial: http://www.ironmaiden.com/
Facebook: http://www.facebook.com/ironmaiden
Instagram: https://instagram.com/ironmaiden/
Assessoria:
E-mail:
Texto: “Metal Mark” Garcia
Existem tradições no Metal que são difíceis de precisar
quando as mesmas surgiram. Uma delas é a mística que envolve o terceiro disco
do uma banda qualquer: ele tem que ser o divisor de águas na carreira do grupo,
e se ele não for um algo de alto nível e que chegue ao sucesso, a banda ficará
eternamente nos níveis inferiores, nunca será do “time principal”. O terceiro
disco é considerado “a nega”, ou seja, não há como escapar. Talvez o pai dessa
mística seja “The Number of the Beast”,
terceiro disco do IRON MAIDEN, a
banda de maior sucesso comercial do Metal em todos os tempos. É o disco
legendário deles, aquele cujo nome vem à mente de qualquer fã quando a banda é
citada.
Antes de tudo, voltemos no tempo: ainda em 1981, devido ao
abuso no consumo de drogas, o vocalista Paul
Di’Anno havia deixado a banda. Em setembro do mesmo ano, o ex-vocalista do SAMSON, Bruce Dickinson (na época, chamado Bruce Bruce) faz sua audição e entra para o quinteto, mas
obrigações legais com seu ex-grupo não o permitiram participar do processo de
composição (onde Adrian Smith e Clive Burr aparecem). Além do mais, o
estilo de compor de Steve Harris evolui
e começa a transitar para o que seria conhecido nos discos posteriores,
ganhando maior ênfase técnica, se afastando da energia crua do Punk Rock que a
NWOBHM carregava, mas mantendo a energia e peso de antes. Ao mesmo tempo, o
quinteto não tinha muito material antigo de sobra a ser aproveitado, logo, o
disco é todo fresco, novo.
O que há nele de diferente?
Ao mesmo tempo em que a voz de Bruce trouxe maior diversificação ao trabalho da banda, o
entrosamento dos outros membros (vindo de shows e turnês incessantes) também
fazia diferença. Mas algo em “The Number
of the Beast” é diferente, tanto em relação aos discos anteriores como aos
posteriores, algo que poderíamos dizer que seria um marco. Talvez a causa dessa
característica seja justamente por ele ser um disco de transição: a banda está
indo do passado com o toque de crueza (embora já houvessem dado sinais que
fariam algo mais elaborado a partir de “Killers”)
para um futuro mais trabalhado e dinâmico (o que se concretizará em “Piece of Mind” e “Powerslave”), ou seja, é um disco em que a banda está entre seu
passado e seu futuro, pegando o melhor de ambos.
Gravado entre janeiro e fevereiro de 1982 no Battery Studios, em Londres, a
produção, como ocorreu com “Killers”,
é assinada pelo veterano Martin Birch,
conhecido por conta de seus trabalhos com FLEETWOOD
MAC, DEEP PURPLE, RAINBOW, BLACK
SABBATH, WHITESNAKE, BLUE ÖYSTER CULT, WISHBONE ASH, entre outros. Basicamente,
a sonoridade é a mesma de “Killers”,
tendo a crueza dos sistemas analógicos, instrumentos musicais e efeitos mais antigos
(gravar uma bateria microfonada não é uma tarefa das mais simples), mas
mantendo a limpeza e bom gosto de sempre. Óbvio que para os padrões modernos
pode soar abafado e cru, mas era algo “top” para aqueles tempos.
Na arte, o trabalho de Derek Riggs é belo e chamativo (embora a montagem com a banda na contracapa seja algo tosco). Óbvio que o choque causado pelo desenho causou polêmicas em excesso, já que o grupo foi perseguido por grupos de fanáticos, sob a acusação de satanismo. Uma pena que poucos viram as entrevistas, por anos a fio, explicando que a letra da faixa-título vem de um pesadelo que Steve Harris (compositor da canção) teve depois de ver “Damien: Omen II” (conhecido por aqui como “A Profecia II”), embora ela também sofra a influência do poema “Tam o’ Shanter”, de Robert Burns.
Musicalmente falando, “The
Number of the Beast” é um disco que pertence a dois mundos ao mesmo tempo:
o passado do IRON MAIDEN e o futuro
que estava à mão. A energia e frescor dele não se dissiparam em nada em 32 anos
desde seu lançamento. Óbvio, pois as melodias bem compostas, refrães marcantes,
a sabedoria de como conduzir os ritmos, tudo nesse disco tem um brilho enorme. Além
disso, a banda estava com sangue nos olhos: Bruce em uma forma esplendorosa, Dave e Adrian entrosados
e fazendo riffs e solos memoráveis, o baixo de Steve mais parecendo um tanque de guerra com peso e brilho (e não é
à toa um dos 5 melhores baixista do Metal de todos os tempos), além do já
finado Clive dar um show de peso e “groove”
na bateria. Não tinha como dar errado.
E não deu!
“The Number of the
Beast” é um dos grandes clássicos do Metal de todos os tempos, e o disco
definitivo do IRON MAIDEN. E as
canções mostram o porquê desta afirmação tão categórica.
O lado A abre com a torrente de energia de “Invaders”, uma faixa que tem clara
influência do Hard ‘n’ Heavy da NWOBHM, que se encaixaria perfeitamente em “Iron Maiden” em termos de
consensualidade (e que trabalho das guitarras e baixo). Em seguida, um dos
grandes clássicos do grupo, “Children of
the Damned”, que é tocada regularmente nos shows até hoje, uma semi-balada
pesada climática onde os vocais já mostram sua potencialidade, e faz uma ligação
interessante entre “Remember Tomorrow”
e “Revelations”. Já com algo que
apontava para o futuro vem “The
Prisioner”, cuja letra é baseada em um seriado inglês de mesmo nome, e que
tem um refrão grudento e as guitarras dão uma aula em termos de riffs e solos. Se
querem entender como o quinteto é uma influência seminal do Metal
norte-americano, basta uma ouvida em “22
Acacia Avenue” (que faz parte da estória contada em “Charlotte the Harlot”, e cuja música pertencia a finada banda
anterior de Adrian, URCHIN). O lado
A, mesmo com seus méritos e pessoalidades, ainda é consensual com “Iron Maiden” e “Killers” em termos estilísticos.
No lado B, o caldo engrossa!
A narrativa do ator inglês Barry Clayton para as citações 12, 12 e 13, 18 do Livro do
Apocalipse (que para quem não sabe, o termo vem do grego “apokalypsis” e significa
“revelação”) introduzem a clássica “The
Number of the Beast”, que começa sinistra e logo surge um grito agudo e a
canção explode em peso, mostrando um trabalho ótimo de baixo e bateria; ela foi
o segundo Single do álbum (lançado em 26 de Abril 1982) e quem nunca gritou “six,
six, six, the Number of the Beast” na vida não sabe o que é Heavy Metal. Em seguida,
talvez a mais icônica canção do álbum, e justamente o primeiro Single (lançado
em 12 de Fevereiro 1982, apenas 10 dias antes do disco): “Run to the Hills”, com guitarras em tom quase zombeteiro no
início, antes de virar uma avalanche de energia intensa, outro refrão que não
se esquece nunca, e o baixo trovejando (e cuja letra trata dos conflitos entre
os povos indígenas da América e dos colonizadores europeus sob a perspectiva de
cada um dos lados), e também concede pistas do que a banda seria nos anos
vindouros. Óbvio que uma enorme parte dos fãs concorda (inclusive o próprio Steve Harris assume isso) que a boa “Gangland” é uma canção que não é tão
boa como as anteriores, logo, puxou o nível do disco para baixo (é uma boa
canção, mas só isso, embora a bateria esteja bem nela). Fechando o disco, a
clássica “Hallowed Be Thy Name”, que
começa lentinha e climática, para depois ganhar mais energia e peso, uma faixa
épica e que terá “crias” no futuro, uma aula de interpretação dos vocais e um
ritmo empolgante, encerrando este clássico com chave de ouro.
Ah, sim: é preciso lembrar que “Total Eclipse” é uma sobra de estúdio que foi um “lado B” da
banda, justamente para o Single de “Run
to the Hills”. E é justamente sobre ele que Steve
manifestou o descontentamento com a escolha da banda de “Gangland” estar no álbum, já que ela talvez se encaixasse melhor no contexto
musical do álbum, conforme consta na biografia “Iron Maiden: Run to the Hills”, de 2004 (escrita por Mick Wall). Uma sorte que ela é
incluída nas edições em CD de “The Number
of the Beast” desde a série remasterizada de 1998.
Algumas curiosidades:
1. Bruce alega que a banda pediu ao ator Vincent Price para fazer introdução de “The Number of the Beast”, mas deixaram
para lá por não poderem na época arcar com valor pedido £25.000.
2. Quando estavam em turnê pela Alemanha em 1982, congelando
em uma van, eles receberam uma ligação de Rod
Smallwood lhes dizendo para continuar, pois o disco estava vendendo bem.
3. Os protestos de fanáticos religiosos contra a banda por
causa da letra de “The Number of the
Beast” é uma mostra do chamado efeito Streisand, ou seja, quanto mais se
tenta abafar, calar, censurar ou outro ato similar, mais divulga aquilo.
4. Curiosamente, ele parece ser o disco que mais “desencaminhou”
filhos de boas famílias, já que o número de versões para as músicas desse disco
é algo absurdo. Não dá para contabilizar.
5. Assim como seus antecessores, “The Number of the Beast” mostra mudanças de formação: Bruce no lugar de Paul nos vocais. E ele seria o último disco de Clive na banda, que seria substituído pelo ex-baterista do grupo francês TRUST (aquele mesmo, que compôs a música “Antisocial”, popularizada pelo ANTHRAX), Nicko McBrain. Interessante saber que o posto de Nicko seria preenchido por ninguém menos que Clive! E sabe-se que o IRON MAIDEN havia tido o TRUST como “opening act” da parte francesa da “Beast on the Road Tour”.
5. Assim como seus antecessores, “The Number of the Beast” mostra mudanças de formação: Bruce no lugar de Paul nos vocais. E ele seria o último disco de Clive na banda, que seria substituído pelo ex-baterista do grupo francês TRUST (aquele mesmo, que compôs a música “Antisocial”, popularizada pelo ANTHRAX), Nicko McBrain. Interessante saber que o posto de Nicko seria preenchido por ninguém menos que Clive! E sabe-se que o IRON MAIDEN havia tido o TRUST como “opening act” da parte francesa da “Beast on the Road Tour”.
No mais, “The Number
of the Beast” justifica a tradição de “o terceiro é à vera”, ou seja, ou
vira celebridade ou vira “Cult”. E ele é um disco tão importante para a história do Metal que não só ajudou a promover o gênero, mas abriu as portas de muitos países para a banda, inclusive o Brasil
The Number
of the Beast: https://www.youtube.com/watch?v=WxnN05vOuSM
Run to the
Hills: https://www.youtube.com/watch?v=86URGgqONvA
Spotify