terça-feira, 29 de maio de 2018

NEBELHORN - Urgewalt


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Skoll Records
Importado


Tracklist:

1. Auf Bifrösts Rücken
2. Urgewalt
3. Ägirs Zorn
4. Wilde Jagd
5. Muspellheim
6. Auf Neue Lande
7. Funkenflug
8. Freyhall


Banda:


Wieland - Todos os instrumentos, vocais


Ficha Técnica:

Wieland - Produção, mixagem, masterização


Contatos:


Texto: Marcos Garcia


O cenário alemão do Metal após os anos 80, para muitos, aparenta ter dado uma resfriada em termos de novos nomes. Uma ilusão, pois a Alemanha continua sendo uma terra que dá ao mundo ótimas bandas, mesmo quando estas permanecem nas profundezas do underground. E um ótimo exemplo é o NEBELHORN, que chega com seu terceiro álbum, “Urgewalt”.

O estilo do grupo (na realidade, uma “one man band”, tendo em Wieland seu mentor) é o bom e velho Viking Black Metal, ou seja, aquela mistura do uso de melodias viking/pagãs com a crueza e rispidez do Black Metal. Óbvio que nomes como ENSLAVED em seu início, FALKENBACH e outros servem para ilustrar, mas o NEBELHORN é um veterano, que sabe o que faz e nos apresenta uma música bem agressiva, climática e cheia de belas melodias. Basicamente, é ouvir e gostar, pois é algo que realmente agrada os ouvidos e a mente.

Traduzindo: “Urgewalt” é uma experiência musical muito boa, e que transcende a música em si.

Wieland tomou conta de tudo em termos de produção. E “Urgewalt” busca aquelas sonoridades mais cruas e sujas do início do Viking Metal, uma referência às origens. Mas é bom que fique claro: além de estar bem compreensível (não há nada que não se entenda, especialmente as partes de teclado), a dita “estética do feio” encaixa perfeitamente na música do grupo. Não há outra possibilidade sonora que seja tão boa assim para o que se ouve nesse disco.

Ouvir o NEBELHORN é um imenso prazer em tempos atuais, onde ou temos superproduções sonoras que deixam os discos um pouco artificiais, ou quando falar com orgulho de suas origens virou um pecado capital aos olhos de muitos. As músicas não são muito longas (exceto por “Auf Neue Lande” e “Funkenflug”, ambas transcendendo os 7 minutos de duração), usam solos de guitarra vez por outra, e evitam serem complexas demais (mas serem simplistas). Há uma mente pensante por trás do grupo, mas esta mente pensante cria algo espontâneo.

“Auf Bifrösts Rücken” é uma introdução épica, que vai aclimatando o ouvinte para a ríspida “Urgewalt”, que usa a crueza do Black Metal permeada por melodias viking (reparem no contraste entre os tons rasgados com vocais pagãos). Sons de chifres e teclados dão um toque pagão aos andamentos mais lentos e cheios de ótimas melodias de “Ägirs Zorn” (mas existem partes rápidas que tornam tudo ainda mais interessante para o ouvinte). Um assalto viking raivoso e permeado por estruturas harmônicas interessantes é ouvido na criativa “Wilde Jagd” (aquele clima denso e introspectivo característico do estilo surge em muitos momentos). Em “Muspellheim”, a opção é por algo mais agressivo (sem perder a essência do grupo), onde as guitarras despejam riffs incríveis, e que passagens opressivas. Mais arrastada e carregada de feeling denso, temos “Auf Neue Lande”, onde baixo e bateria mostram sua força na base rítmica (e reparem na intervenção melódica dos solos de guitarra), mesmos elementos que surgem em “Funkenflug” (aonde a melancolia chega a ser palpável em certos momentos, e mais uma vez, ótimos vocais). E fechando, a instrumental “Freyhall” mostra uma essência bem mais folk, graças ao uso de flautas e partes refreadas (mais uma vez, as guitarras mostram riffs e solos muito bons).

Mesmo sem querer ser revolucionário, se percebe que o NEBELHORN tem muito a oferecer musicalmente. E “Urgewalt” é um disco obrigatório aos fãs do gênero.

Nota: 91%

SACRIFICED - Enraged


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Meet Your Fate
2. Shame
3. Oblivion
4. To Whom You Belong
5. The Unspoken
6. Spiral Down
7. Dear Killer
8. Refugees
9. Interlude
10. Thick Skin
11. Into the Hive
12. Grudge is My Middle Name


Banda:


Kell Hell - Vocais
Diego Oliveira - Guitarras
Sérgio Barbieri - Guitarras
Gabriel Fernando - Baixo
Thales Piassi - Bateria


Ficha Técnica:

Lucas Guerra - Produção
Carlos Fides - Arte da capa, design, artwork


Contatos:

Site Oficial: www.sacrificed.com.br
Assessoria: www.metalmedia.com.br/sacrificed (Metal Media)

Texto: Marcos Garcia


Falar de Metal nacional é quase sempre ter que fazer referência à palavra “resistência”, já que o cenário brasileiro é ingrato. Ainda somos presos demais ao velho pensamento “tudo que é feito aqui não presta, bom é o que vem de fora” (com raras exceções, como SEPULTURA, ANGRA, KRISIUN e alguns outros), algo que remete aos tempos de Brasil-colônia. Mas estas dificuldades lapidam grandes talentos. Um exemplo disso é o quinteto SACRIFICED, de Belo Horizonte (MG), que chega com seu disco novo, “Enraged”, que está para ser lançado pela Shinigami Records.

Sete anos depois de “The Path of Reflections” serviram para ajustar ainda mais a banda, que continua fazendo seu Metal tradicional moderno agressivo (mas com claras referências a passado, especialmente nos duetos de guitarras), mas sempre melodioso, com harmonias charmosas. Ora mais suave e terno, ora mais pesado e bruto, a diversidade impera, com toques regionais em várias partes do disco (reparem bem em “Meet Your Fate”), e mesmo partes mais intimistas com referência à Bossa Nova (isso pode ser ouvido em “Oblivion”). Ou seja, “Enraged” é um passo adiante, uma evolução clara em relação ao que já fizeram.

Ou seja: “Enraged” é um disco surpreendente, levando a tradição mineira em termos de Metal adiante.

Em termos de qualidade sonora, fica claro que a banda se superou. Tendo feito tudo no Guerra Studio sob a tutela de Lucas Guerra (PENSE, SOUTHERN BLACK LIST e CPM22), tudo soa diferente do que esperaríamos de um disco de Metal. Tudo está mais fluido, mais solto e espontâneo, sem muita “dureza”, com todos os instrumentos soando claros e pesados, e os vocais em seu devido lugar. Os timbres mais modernos e pesados não estão gordurosos ao ponto de estragarem as melodias mais tradicionais características da banda. Tudo funciona muito bem.

A arte de Carlos Fides para a capa nos dá a clara sensação do que nos espera em termos de música: contrastes entre peso agressivo e lindas harmonias.

Talvez ao abraçar mais influências musicais diversificadas, o trabalho do SACRIFICED tenha amadurecido. Instrumentalmente falando, a evolução é clara aos ouvidos, e existem arranjos e passagens que irão surpreender os ouvintes. Prova de ousadia e talento de uma banda que, cada vez mais, mostra que tem grandes objetivos.

Em “Meet Your Fate”, passagens pesadas com alguma coisa do Pop Rock anos 80 se mesclam a passagens mais amenas e suaves, com vocais ótimos e coros ótimos no refrão. Pesada e bruta é “Shame”, cheia de linhas harmônicas sinuosas e um trabalho de guitarras de fazer cair o queixo. Partes intimistas de Bossa Nova e aquele jeitão jazzístico do estilo surgem em “Oblivion”, onde as guitarras estão muito bem (os riffs realmente grudam nos ouvidos), e mais um ótimo refrão. A sensível e introspectiva “To Whom You Belong” dá o toque de acessibilidade musical ao disco, apesar do peso (e um trabalho muito bom de baixo e bateria, pois conduzir ritmos nesse formato não é tão simples como parece). Um interlúdio climático todo em vozes é “The Unspoken”, que vem preparar o ouvinte para a pancada de “Spiral Down”, cheia de melodias sinuosas, e onde existem oscilações entre partes etéreas e outras mais pesadas, permitindo aos vocais mostrarem sua versatilidade, mesmos elementos que permeiam a profundidade emotiva de “Dear Killer”. Usando partes exclusivamente de violão e voz, “Refugees” mostra uma aura densa e melancólica, com certa influência da música Folk americana. Em seus pouco mais de 2 minutos, “Interlude” é uma instrumental climática, mostrando como a base instrumental da banda é forte. Em “Thick Skin”, uma música com corais bem colocados, uma boa dose de acessibilidade e arranjos musicais modernos, fora o dueto entre vocais femininos e masculinos que ficou de primeira. Um massacre rítmico pesado surge em “Into the Hive”, inclusive com o uso de vocais em tons bem brutais, algo próximo ao Melodic Death Metal moderno em algumas partes, com baixo e bateria mostrando suas garras. Buscando usar agressividade e melodias em doses equilibradas, a banda vem com o encerramento em “Grudge is My Middle Name”, com alguns riffs remetendo diretamente ao Thrash Metal, mas recheado de lindas melodias, um refrão marcante e muito vigor. Não há destaques, pois “Enraged”, por si próprio, é um destaque em termos musicais.

É ouvir e gostar, e tenham certeza: se existir justiça, o SACRIFICED em breve entre no aeroporto para fazer sucesso fora daqui, e como no caso de outros que fizeram sucesso no exterior, depois foram reverenciados no Brasil.

“Enraged” mostra a tantos o quanto o Brasil pode produzir. E deve sair muito em breve para a apreciação de todos.

Nota: 100%