terça-feira, 29 de janeiro de 2019

SPIRITUAL HATE - Diabolical Dominium

Ano: 2018 

Tipo: Full Length 
Selo: Independente
Nacional 

Texto: “Metal Mark” Garcia



Introdução: Falar em Death/Black Metal no Brasil, em geral, pode acabar causando uma enorme confusão nas mentes dos ouvintes, por um simples motivo: qual escola a banda em questão seguirá?

Ela surge porque algumas bandas seguem uma linha Death/Black explosiva à lá BEHEMOTH e HATE; outras, por sua vez, preferem algo mais elaborado e assumem o uso de melodias, como o caso do DISSECTION de sua fase “Reinkaos”; e por fim, aquelas que são bandas de Death metal com letras com temas blasfemos. Neste último grupo é onde se encaixa o SPIRITUAL HATE, de Diadema (SP) e que chega com “Diabolicum Dominium”, seu primeiro “full length” (depois do Split “Agony in the Profundis Abyss” de 2012, e do EP “Praeludium ad Incursione”, também de 2012). Mas cuidado, pois o grupo tem algo diferente para mostrar.

Análise geral: O que se pode aferir é que o grupo tem 90% de elementos de Death Metal em sua música (com algumas referências na fase “Covenant”/“Domination” do MORBID ANGEL, .e mesmo influências generosas de DEICIDE), mas é impossível não notar o uso de alguns toques mais melodiosos em momentos como “Awating Fucking Jesus”, e mesmo toques de técnica refinada (percebam os toques de Jazz nas partes de baixo de “Ignorance Brought the Decadence”). Além disso, se percebe uma enorme criatividade e energia permeando esse disco em todas as suas canções. Além disso, é uma aula de como se fazer música brutal, mas que gruda nos ouvidos.

Arranjos/composições: O ponto forte do grupo: eles sabem compor muito bem, pois não criam algo que possa ser descartado, ou deixam aquela sensação de que faltou algo. Nada disso, suas canções são justas, bem arranjadas (os solos de guitarra, surpreendentemente, evitam cair no esquema de “estrangulamento-das-notas” que é bem conhecido do Death Metal), com ótimas mudanças de ritmo. Além do mais, ela flui de maneira espontânea, mas sangrando em energia o tempo todo, seja nas partes rápidas ou nos momentos mais cadenciados.


Spiritual Hate
Qualidade sonora: Victor Prospero na produção e Marcos Cerutti na mixagem e na masterização souberam equilibrar bem todos os elementos musicais da banda, fazendo com que cada uma das canções de “Diabolical Dominium” soe limpa, com todos os instrumentos musicais claros, mas com um nível de peso e agressividade inerentes ao Death Metal. Ou seja, tudo está bem equilibrado, na medida certa, sem tirar e nem pôr. 

Arte gráfica/capa: Como se poderia esperar, a arte da capa (muito bem feita e detalhista) é blasfema e explícita, sem abrir espaço para interpretações subjetivas. No encarte, uma diagramação inteligente, focada em tons de preto, branco e vermelho que estão ótimos.


Destaques musicais: O que se ouve nesse disco é algo de alto nível, pesado e agressivo, mas burilado com uma sobriedade. E mesmo sendo um trabalho extremamente equilibrado, destacam-se as seguintes como meras referências para as primeiras audições.

“Excomunion”: apesar de bem trabalhada em termos arranjos, o foco da canção é ser agressiva e bruta de doer os ossos. Oscilando entre uma velocidade estonteante e outros não tão rápidos, é incrível o trabalho técnico de baixo e bateria.

“Awating Fucking Jesus”: outra em que a brutalidade faz os medidores de volume ficarem quase o tempo todo no vermelho. Mas mesmo assim, se percebe uma estética cuidadosa ao arranjá-la, e mesmo sem pudores de usar partes mais melodiosas nas guitarras (especialmente nos solos).

“Ignorance Brought the Decadence”: mais simples em termos de tempos que as anteriores, as partes de guitarra em seus momentos lentos realmente cativam os ouvintes.

“Behind the Lies of God”: incrível como existem partes lindas e com traços melódicos no meio de tanta brutalidade. É outra canção onde a técnica não chega a ser exacerbada, mas as partes de baixo e bateria são de deixar qualquer um de queixo caído por conta da técnica individual de ambos.

“Diabolical Dominium”: por ser a faixa mais longa, é onde se tem maior diversidade de ritmos, e assim, maior riqueza de arranjos. Os vocais guturais encaixam bem sobre a base instrumental da banda, e chega a ser surpreendente como os tempos mudam.

Conclusão: “Diabolical Dominium” é um disco que já tem um tempinho lançado (originalmente, é de 2017), mas com essa música de primeira categoria, tende a se tornar atemporal. Se o leitor é fã de Metal extremo, pode ter certeza: é ouvir e gostar, sem meios termos.

Nota: 93%



Tracklist:

1. Intro
2. Excomunion
3. Awating Fucking Jesus
4. Honour et Gloriam
5. Ignorance Brought the Decadence
6. From the Purity to Fornication
7. Behind the Lies of God
8. Sentenced by Dawn
9. Diabolical Dominium


Banda:


Magnus Hellhound - Vocais, guitarras
F. Blackmortem - Guitarras


Ficha Técnica:

Victor Prospero - Produção, baixo
Morbus - Bateria
Marcos Cerutti - Mixagem, masterização


Contatos:

Site Oficial:
Facebook: https://www.facebook.com/SpiritualHateBand
Instagram: https://www.instagram.com/spiritualhate_official/
Assessoria: http://sanguefrioproducoes.com/artistas/SPIRITUAL+HATE/64
E-mail: spiritualhate@bol.com.br



Awating Fucking Jesus”: https://www.youtube.com/watch?v=NtaPI_vjDVo



Spotify


VERTHEBRAL - Regeneration

Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Tales from the Pit Records, Eclipsys Lunarys Productions, Nomade Records, Extreme Sound Records, Thrash or Death Records, Totem Records
Nacional

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução: A paixão pelo Death Metal dos anos 90 ainda é um sentimento que permeia o cenário mundial do Metal. Ainda existem bandas que preferem uma abordagem mais seminal (ou seja, crua e agressiva) do gênero. E do Paraguai vem o quarteto VERTHEBRAL, e graças aos esforços coletivos de vários selos do Brasil, nos chega com essa versão para “Regeneration”, primeiro álbum do grupo que foi lançado em 2017, e de quebra, ainda tem o EP “Adultery of Soul” (de 2015) como bônus.

Análise geral: O quarteto realmente tem fortes influências da velha escola, especialmente de nomes como DEICIDE, MORBID ANGEL, CANNIBAL CORPSE e MASTER (este último devido a alguns toques de Thrash Metal que surgem nas guitarras vez por outra) e outros da escola norte-americana, buscando usar da própria personalidade para gerar algo mais pessoal. Óbvio que tem aquela aura noventista densa e crua, mas que faz parte do trabalho deles (até soaria artificial sem ela). Sim, é um bom nome, que pode ir mais além, mas já mostra as garras nesse sentido em vários momentos do disco.

Arranjos/composições: O quarteto, como é de se esperar do seu estilo, não tem um trabalho focado em uma técnica rebuscada, embora não seja algo reto e direto. Existem arranjos musicais bem feitos no meio de tanta brutalidade, bem como as variações rítmicas são encaixadas em seus devidos lugares. Óbvio que algumas arestas podem ser aparadas mais adiante, mas já mostram um trabalho promissor, especialmente porque “Regeneration”, se por um lado soa um pouco ingênuo, de outro é um murro de energia empolgante e brutalidade.

Qualidade sonora: Como muitos discos focados no Death Metal Old School, “Regeneration” foca em algo cru e ríspido, e mesmo quase orgânico. Óbvio que a crueza sonora está além do limite certo para sua música, o que acaba deixando os timbres sonoros um pouco mais carregados que o necessário. Mas para um primeiro disco de uma banda do estilo, está muito bom.

Arte gráfica/capa: Marcos Miller (que fez a capa de “Regeneration”), Emisario Karplegia (o artista da capa de “Adultery of Soul”) fizeram trabalhos ótimos, e que rebuscam bastante a arte dos discos dos anos 90 (inclusive a capa de “Regeneration” tem um toque à lá Dan Seagrave), o que por sua vez encaixou no trabalho do grupo. E o design do encarte da versão brasileira foi feito por Filipe Silva, que fez uma editoração simples e eficiente (embora a letra deitada de “Confronting Lies” destoe, mas deve ter sido feito dessa forma por uma questão de espaço).

Destaques musicais: a força do trabalho musical do grupo realmente contagia o ouvinte. E as melhores faixas são:

“Place of Death”: boas mudanças de ritmo, energia fluindo aos borbotões pelas caixas de som, e um trabalho muito bom e sólido da base rítmica (ou seja, baixo e bateria estão muito bem).

“Spirit in Solitude”: o ritmo se torna mais cadenciado em algumas partes, dando diversidade sonora à música do grupo. Mesmo as partes mais velozes apresentam um impacto impressionante, em especial por conta das guitarras mostrarem ótimos riffs.

“Beyond the Garden of Creation”: esta é uma das canções mas ricas em termos de arranjo do grupo, inclusive com melodias pontuais surgindo durante os duelos de solos de guitarras. Isso sem mencionar como os toques Death/Thrash encaixaram muito bem.

“Old Man’s Memories”: outra que mostra momentos mais cadenciados (onde os bumbos duplos são incessantes), mas os momentos mais velozes caem para o lado do Old School Thrash Metal. Empolga o ouvinte justamente por conta do contraste de ritmos.

“The Plague of Insomnia”: novamente uma faixa com 880% dela sendo mais lenta (pois tem partes velozes aqui e ali) e que possui alinhavos melodiosos surgindo em muitos momentos, mostrando que o grupo tem uma personalidade inconformada com modelos musicais, e que pode ser algo explorado no futuro.

“Inside of Me”: mais uma vez, o uso de momentos densos em que o ritmo não é veloz vai mostrando como o grupo sabe ser criativo em termos de arranjos musicais. O vocal gutural da banda mostra uma boa diversidade de timbres que tem potencial para coisas grandes no futuro.

As faixas de “Adultery of Soul” (“Human Limitation”, “Adultery of Soul”, “I Am the Vulture” e “Confronting Lies”) mostram uma sonoridade mais tosca e crua (óbvio que as condições para a gravação eram outras), mas são ótimas, mostrando os mesmos elementos de “Regeneration”, embora menos evoluídos.

Conclusão: Uma coisa sobre o VERTHEBRAL que se pode aferir é sua honestidade e convicção ao que faz. E verdade seja dita: fãs de Death Metal Old School irão amar “Regeneration” sem nada reclamar. Mas verdade seja dita: esse quarteto de Ciudad del Este promete muito!

Nota: 84%


Tracklist:

1. Apocalyptic Seasons (Intro)
2. Place of Death
3. Spirit in Solitude
4. Regeneration
5. Beyond the Garden of Creation
6. Without Any God
7. Old Man’s Memories
8. The Plague of Insomnia
9. Immaterial Essence of Things
10. Inside of Me

Adultery of Soul EP (Bônus):

11. Intro: Final Thoughts
12. Human Limitation
13. Adultery of Soul
14. I Am the Vulture
15. Confronting Lies


Banda:


Cristhian Rojas - Vocais, baixo
Daniel Larroza - Guitarras
Alberto Flores - Guitarras
Gabriel Galeano - Bateria


Ficha Técnica:

Alberto SantaCruz  Produção, mixagem, masterização, remasterização de “Adultery of Soul
Marcos Miller - Capa de “Regeneration”
Emisario Karplegia - Capa de “Adultery of Soul”
Filipe Silva - Encarte (relançamento edição brasileira)


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