terça-feira, 3 de julho de 2018

ORPHANED LAND - El Norra Alila (remasterizado)


Ano: 1996 (original) / 2018 (lançamento brasieiro)
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Find Your Self, Discover God
2. Like Fire to Water
3. The Truth Within
4. The Path Ahead
5. A Neverending Way
6. Takasim
7. Thee by the Father I Pray
8. Flawless Belief
9. Joy
10. Whisper My Name When You Dream
11. Shir Hama’alot
12. El Meod Na’ala
13. Of Temptation Born
14. The Evil Urge
15. Shir Hashirim


Banda:


Kobi Farhi - Vocais
Yossi Sassi - Guitarra solo
Matti Svatizky - Guitarra base
Uri Zelcha - Baixo
Sami Bachar - Bateria


Ficha Técnica:

Kobi Farhi - Produção, mixagem, artwork
Yossi Sassi - Produção, mixagem
Udi Koomran - Engenharia, mixagem, masterização
Ran Bagno - Masterização
Ehud Graff - Artwork
Patrick W. Engel - Remasterização (2016)
Hadas Sasi - Vocais femininos
Amira Salah - Vocais femininos
Abraham Salman - Kanun
Avi Agababa - Tamborim, darbuka, zil, tar, bendir, darbuka
Yariv Malka - Samples, shofar
Sivan Zelikoff - Violino
Felix Mizrahi - Violino
Avi Sharon - Oud, backing vocals
David Sasi - Vocais, backing vocals


Contatos:

E-mail:

Texto: Marcos Garcia


Muitas vezes, algumas pessoas se perguntam o motivo de certos discos serem relançados em versões remasterizadas. A mais óbvia das respostas é a mais certa: por um motivo ou outro, muitos fãs ainda não possuem aquele disco em questão. Logo, os relançamentos têm esse fundo nobre, além de despertarem certa nostalgia. Para nós, que moramos no Brasil, o lançamento da versão remasterizada de “El Norra Alila”, segundo disco do grupo israelita ORPHANED LAND, vem não só para despertar a paixão dos fãs, mas acessibilidade, já que nunca foi lançado oficialmente por aqui. Ponto para a Shinigami Records mais uma vez.

Se nós podemos dividir a carreira do quinteto em duas, “Sahara” e “El Norra Alila” estão na parte que antecede um silêncio de 8 anos sem lançamentos oficiais deles (que só será rompido em 2004, com o lançamento de “Mabool - The Story of the Three Sons of Seven”). E embora ainda mantenha certa crueza sonora devido às influências de Metal extremo, este CD já está bem próximo dos últimos discos do quinteto, com maior esmero em termos de arranjos, mas mantendo a fórmula de Metal + música regional do Oriente Médio, apenas de uma forma mais bem lapidada. Inclusive os vocais limpos tão característicos do grupo começam a ter maior proeminência em relação o que ouvimos em “Sahara”, onde a maior parte deles se focada em tons quase góticos.

Desta forma, se percebe que “El Norra Alila” faz a ponte entre a agressividade do passado com a estética mais elaborada do futuro.

Assim como “Sahara”, este disco foi gravado e mixado nos Sigma Studios, em Tel-Aviv (Israel), exceto “Shir Hashirim”, que foi gravada no The Infinite Studio. A qualidade sonora melhorou bastante, com maior clareza, bem como uma estética mais burilada em termos de tons instrumentais (agora nem tão voltados ao Metal extremo assim). Embora ainda use de certa crueza sonora, ela está paralela ao que o disco nos mostra. Inclusive a remasterização, feita mais uma vez no Temple of Disharmony na Alemanha, em 2016, deu uma melhorada, um brilho extra à sonoridade.

A arte gráfica, assim como em “Sahara”, é toda nova, trazendo uma nota introdutória do vocalista Kobi ao que é o Oriental Metal. Ficou elegante e vistosa, como se vê em relançamentos remasteriados.

Um dos pontos fortes desse álbum são os contrastes entre as partes pesadas e aquelas onde temos a presença de elementos orientais. Tanto o é que o nome “El Norra Alila” é a junção dos termos hebraicos ‘El Nor’ (deus da luz) e ‘Ra Alila’ (mal da noite). O disco também mostra maior presença de percussões, além da utilização de violinos, vocais femininos e outros elementos que, se por um lado já eram presentes antes, agora ganham maior evidência. Sim, o ORPHANED LAND evoluiu bastante de um disco para o outro.

15 músicas são apresentadas ao ouvinte (embora algumas sejam temas bem curtos em que o lado oriental do trabalho deles seja bem mais evidenciado). E mesmo formando um contexto homogêneo, destacam-se as melodias sinuosas e densas de “Find Your Self, Discover God” (um belo trabalho nas guitarras, verdade seja dita, com riffs muito bons), a complexidade rítmica de “Like Fire to Water” (realmente, baixo e bateria mostram-se ótimos, e a presença de percussões regionais deixa tudo ainda mais interessante), a densa e bem emotiva “The Truth Within” (embora os vocais estejam ótimos, é impossível não citar os belos solos de guitarra), o peso evolvente à lá anos 90 de “Thee by the Father I Pray” (que nos remete ao Melodic Death Metal praticado naqueles dias em suas partes mais cruas) e de “Whisper My Name When You Dream” (os vocais mais limpos e sem entonações sussurradas contrastam muito bem com as incursões de vozes femininas), a calmaria melodiosa de “Shir Hama’alot” (outra canção deles que é focada apenas em elementos regionais, que ficou excelente), o mix de Metal com estilos musicais do Oriente Médio que surge em “El Meod Na’ala”, além da agressividade delineada por partes melancólicas de “Of Temptation Born”. Todas são músicas excelentes, assim como as que não foram mencionadas.

Óbvio que as letras do grupo já estão melhores do que se vê em “Sahara”, pois a banda evoluiu em todos os sentidos. O chamado à paz que é feito está ainda mais claro, com o grupo usando letras em hebraico e mesmo latim. As mudanças que explodirão no futuro começam a aparecer.

Dessa forma, “El Norra Alila” vem até nós, fãs brasileiros, pela primeira vez em um lançamento nacional. E é um disco ótimo, que tende a conquistar ainda mais fãs para o grupo.

Shalom!
  
Nota: 94%

ORPHANED LAND - Sahara (remasterizado)



Ano: 1994 (original) / 2018 (lançamento brasileiro)
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

Sahara:

1. The Sahara’s Storm
2. Blessed Be Thy Hate
3. Ornaments of Gold
4. Aldiar Al Mukadisa

The Beloved Cry:

5. Seasons Unite
6. The Beloved’s Cry
7. My Requiem
8. Orphaned Land, the Storm Still Rages Inside...


Banda:


Kobi Farhi - Vocais
Yossi Sassi - Guitarra solo, oud
Matti Svatizky - Guitarra base
Itzik Levi - Teclados, piano, samples
Uri Zelcha - Baixo
Sami Bachar - Bateria


Ficha Técnica:

“Neve Israel” Synagogue - Backing vocals
Abraham Salman - Kanun
Hadas Sasi - Vocais femininos
Amira Salah - Vocais femininos
Albert Dadon - Darbuka
Asaf Bar-Lev - Mixagem
Tamir Muskat - Engenharia, mixagem
Gary Gani - Mixagem, engenharia (assistente)
Yotam Agam - Engenharia (segundo assistente)
Eran Zira - Engenharia (segundo assistente)
Kobi Farhi - Artwork
Uri Zelcha - Artwork
Patrick W. Engel – Remasterização (2016)


Contatos:

E-mail:

Texto: Marcos Garcia


Cada dia que passa, vemos as famosas versões “remaster” de discos antigos, ou seja, aqueles que passam por uma nova masterização, visando adequar a qualidade aos tempos atuais, e ao mesmo tempo, dar mais peso e brilho ao som. Nisso, somos sortudos, pois a Shinigami Records nos presta mais uma vez um serviço maravilhoso: disponibilizou as versões nacionais remasterizadas de 2016 de “Sahara” e “El Norra Alila”, que vieram ao mundo para comemorar os 25 anos do grupo israelita ORPHANED LAND.

Nesta resenha, falaremos do primeiro disco do grupo, “Sahara”, de 1994.

Digamos que aqueles tempos eram bem conturbados. Ainda haviam brasas intensas devido à Guerra do Golfo de 1991, bem como se buscavam saídas pacíficas. Yitzhak Rabin e Yasser Arafat (líder da Organização para a Libertação da Palestina) buscavam soluções diplomáticas, mas como sabemos, em novembro de 1995, Rabin foi assassinado. Em um contexto tão caótico, o Metal se torna uma possibilidade para lidar com as frustrações. Nisso, juntando o amor pelo Heavy Metal às influências de música oriental e World Music que o líder do grupo, o vocalista Kobi Farhi, adquiriu com a família (ele é natural de Jaffa, uma cidade de população heterogênea, com muitos cristãos, israelitas e muçulmanos), e pronto: nasceu o mix de Metal com música do Oriente Médio, que chamamos Oriental Metal.

Em “Sahara”, mesmo com um estilo novo, o sexteto já mostra uma veia muito experimental, algo incomum naqueles anos. Mas apesar disso, a maior contribuição ao lado “Metal” do ORPHANED LAND ainda tem profundas raízes no Death Metal e no Doom Metal (reparem bem nos timbres dos vocais limpos e nos das guitarras). Por isso, a música da banda ainda está bem crua e cheia de agressividade, mas ainda assim, mostram uma técnica instrumental rebuscada, além de criatividade. Óbvio que o tempo iria lapidar bastante o trabalho deles, mas já se mostravam uma banda e tanto na época.

Esta versão de “Sahara” é remasterizada das fitas DAT originais da época, sendo que o disco foi gravado no Sigma Studio, em Tel Aviv, Israel, no mês de junho d 1994. E imaginem gravar, produzir e mixar o disco eles mesmos, sendo que eram todos adolescentes, e sem quem os ajudasse. É, não foi simples, ainda mais que gravar Metal em Israel era algo totalmente novo. Por isso, o que eles conseguiram não deixa de ser surpreendente, pois fazer com que o balanço entre a crueza, a agressividade de sua música não sobrepusesse suas influências orientais ou destruísse a clareza (o que nos permite compreender a complexidade de sua música) nesse estágio e com essas condições é um trabalho muito difícil. E com um resultado ótimo, digamos de passagem.

Além disso, o CD nos mostra a arte original na capa (embora diferente daquela vista na primeira versão), uma foto tirada da Mesquita Azul, em Istambul (Turquia). O encarte é todo novo, com uma editoração mais bonita, e ainda possui uma introdução sobre o Oriental Metal, escrita pelo próprio Kobi.

Apesar de tantos percalços para lidar, o grupo fez de “Sahara” um disco marcante, que mostra estruturações melódicas e complexidades em termos de arranjo que irão pavimentar sua carreira, anos depois. A raiz que daria frutos em clássicos como “Mabool” e “All is One” está clara, apesar da crueza vinda das influências extremas. Tanto o é que o grupo mostra a participação de vozes femininas,

As oito canções do álbum foram divididas em duas partes.

A primeira é “Sahara”, que mostra faixas novas, todas mixando as influências da banda. E é interessante ver a alternância entre partes melodiosas, outras mais agressivas e toques de estilos musicais do Oriente Médio que permeiam a diversificada “The Sahara’s Storm”, a mais agressiva e pesada “Blessed Be Thy Hate” (esta mostra aquele jeitão Doom/Death das bandas da Europa, mas reparem bem como os toques regionais surgem em vários momentos), a complexa e cheia de passagens mais introspectivas “Ornaments of Gold”, e a totalmente oriental “Aldiar Al Mukadisa” (aqui, parece uma canção tradicional, com trechos das palavras de louvor Halel e do livro do Tehilim, que nada mais é que o livro de Salmos).

A segunda parte, “The Beloved Cry”, é composta de canções um pouco mais duras e agressivas, pois pertencem ao EP de mesmo nome, lançado em 1993. Isso pela comparação das anteriores com elas, mas mesmo assim, a consensualidade é evidente. E “Seasons Unite”, “The Beloved’s Cry”, “My Requiem”, e “Orphaned Land, the Storm Still Rages Inside...” são as sementes que germinaram e nos deram um dos melhores grupos da atualidade.

As letras merecem uma citação especial. A mensagem pacifista e em prol da união dos povos já está nas músicas do grupo, embora ainda em um estágio inicial.

Desta forma, “Sahara” não é apenas um disco que serve como documentação ou para completar coleção, pois não soa datado. E ele nunca havia sido lançado oficialmente no Brasil, logo, aproveitem a chance!

Nota: 91%