sexta-feira, 5 de julho de 2019

FLESHGOD APOCALYPSE - Veleno


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Fury
2. Carnivorous Lamb       
3. Sugar
4. The Praying Mantis’ Strategy
5. Monnalisa
6. Worship and Forget
7. Absinthe
8. Pissing on the Score
9. The Day We’ll Be Gone
10. Embrace the Oblivion
11. Veleno (instrumental)
12. Reise, Reise (Bônus)
13. The Forsaking (Nocturnal Version) (Bônus)


Banda:

Foto: Dave Tavanti

Paolo Rossi - Baixo, Vocais limpos
Francesco Paoli - Vocais, Guitarras, Bateria
Francesco Ferrini - Piano, Orquestrações


Ficha Técnica:

Jacob Hansen - Mixagem, Masterização
Marco “Cinghio Mastrobuono - Gravação
Daniele Marinelli - Gravação (adicional)
Matteo Gabbianelli - Edição (adicional)
Travis Smith - Capa, Artwork
Aurora Bacchiorri - Violinos
Lucrezia Sannipoli - Violinos
Federico Micheli - Viola
Tommaso Bruschi - Violoncelo
Federico Passaro - Baixo acústico
Daniele Marinelli - Bandolim
Maurizio Cardullo - Gaita Irlandesa
Matteo Flori - Percussão Orquestral
Veronica Bordacchini - Vocais (soprano)
Fabio Bartoletti - Guitarra Solo


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Há muito de discute a influência da Música Clássica no Heavy Metal, e basicamente quando ela começou a surgir.

No documentário “Metal - A Headbanger’s Journey” (do antropólogo Sam Dunn), existe esta discussão, mas é fato consumado que, desde as origens, nomes como Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Niccolò Paganini, Johann Sebastian Bach, Richard Wagner e tantos outros estão no bojo cultural do Metal, seja pelo motivo que for.

Há alguns anos, com o surgimento das vertentes sinfônicas no Metal, isso se tornou ainda mais evidente, mas a verdade seja dita: o trabalho digno de “estado-da-arte” do grupo italiano FLESHGOD APOCALYPSE já vinha se destacando bastante, e com “King” (2016), atingiram certo renome. Mas seu novo disco, “Veleno” (que em italiano significa “veneno”), o grupo se superou e criou uma obra-prima em termos musicais!


E ainda bem que a aliança da Shinigami Records com a Nuclear Blast Brasil permite o acesso mais fácil a todos.



Análise geral:

A priori, o grupo vem reduzido a um trio, pois Tommaso Riccardi (vocais, guitarra base) e Cristiano Trionfera (guitarra solo, backing vocals) saíram do grupo em 2017, e com isso, Francesco Paoli, que era baterista, assumiu as guitarras e os vocais (e também gravou as partes de bateria do disco). A identidade musical do grupo não se alterou, pois o grupo continua fazendo o Symphonic/Technical Death Metal de antes, mas extrapolaram em tudo.

Basicamente, “Veleno” não é apenas um disco, mas uma obra de arte, com toda uma ambientação clássica vinda dos movimentos Barroco, Clássico e Romântico (tanto na concepção musical como na estética visual), permeado de orquestrações, vocais e corais de ópera, lindas melodias em ambientações que variam do brutal ao suave e então o neoclássico sem pudores, criando contrastes perfeitos, vocais sopranos, teclados e pianos perfeitos, orquestrações minimalistas, e instrumentos de orquestra criando uma colcha instrumental perfeita. Fora isso, há muito de Era Vitoriana em termos de letras, e mesmo um toque burlesco em alguns momentos.


Palavras são vãs para traduzir toda beleza e profundidade artística de “Veleno”...


Arranjos/composições:

Anteriormente, em “King”, a banda já havia feito algo de bom gosto e que transcendia fronteiras. Mas como “Veleno”, o trio vem derrubando qualquer tipo de limite e destroçando modelos musicais.

O minimalismo impera, o experimentalismo é extrapolado, e tudo para criar uma música rica, forte e vigorosa, pesada e elegante, agressiva e melódica, com todo um “insight” espontâneo. Os tempos se alternam de forma caótica e inesperada, mas sempre consensual, as guitarras estão fenomenais, e tudo isso sob uma imensa e sólida carapaça sinfônica.

Óbvio que os instrumentos tradicionais estão fazendo um trabalho excelente, mas não destoam dos instrumentos orquestrais. Pelo contrário: a fusão é perfeita!


Qualidade sonora:

“Veleno” foi gravado em duas etapas: as partes voltadas ao Metal foram captadas em Roma, nos estúdios Bloom Recording Studio e Kick Studio, tendo o produtor Marco Mastrobuono os acompanhado nessa parte; já as partes orquestrais foram gravadas no Musica Teclas Studio, em Perugia. E tudo foi entregue a Jacob Hansen nos Hansen Studios para ser mixado e masterizado. Basicamente, a banda levou apenas 3 meses (tendo em vista bandas que gastam meses, e mesmo anos no processo de composição) para toda a produção do disco.

Óbvio que mesclar tantos elementos e instrumentos musicais não foi algo simples, mas a presença de Jacob foi providencial para equilibrar cada aspecto sonoro, e manter tudo audível, sem problemas. Dessa forma, peso, melodia e clareza estão no mais alto nível possível, possibilitando o ouvinte a acessar cada mínimo detalhe sem problema algum.


Arte gráfica/capa:

Para dar uma arte digna de um disco desse porte, o artista norte-americano Travis Smith (conhecido por ter feito artes gráficas para ICED EARTH, AMORPHIS, OVERKILL, CRADLE OF FILTH, ANATHEMA, DEATH, entre outros) foi contratado. E todo desenvolvimento gráfico pegou a idéia de “Veleno”, transitando entre a arte clássica e o terror, e de muito bom gosto.

FLESHGOD APOCALYPSE (formação ao vivo) - foto: Dave Tavanti

Destaques musicais:

É a parte onde realmente fica difícil...

“Veleno” é um disco sem pontos fracos. É homogêneo e sólido, soprando um frescor enorme em meio a um cenário já bem desgastado.

“Fury” abre o disco com bastante peso e agressividade, mas mantendo o equilíbrio entre os elementos clássicos e as partes Metal, e sem mencionar o trabalho de baixo e bateria (que está fantástico em todo disco). Com belíssimas melodias e guitarras furiosas nos riffs (e com solos bem construídos), “Carnivorous Lamb” é poderosa, sem mencionar o contraste entre vocais urrados, limpos e sopranos. O fogo brutal e neoclássico que cozinha elementos díspares no caldeirão chamado “Sugar” (um dos primeiros Singles do disco), fluindo do brutal e opressivo ao melódico de forma magistral (a letra parece ser um manifesto em relação ao consumo de drogas injetáveis). A singela “The Praying Mantis’ Strategy” é uma introdução para a ultra-romântica e sedutora “Monnalisa” (outra com muitas variações vocais, e momentos introspectivos inspirados no Gothic Rock, mas cheia de crescendos clássicos, e assim, os teclados se destacam, e se Lord Byron fosse um músico de Metal, certamente faria algo dessa maneira). Em “Worship and Forget”, o lado mais brutal e agressivo domina, justamente pelo uso de andamentos mais rápidos, mas certo alinhavo clássico está presente. Cheia de partes grandiosas com melodias pegajosas e vocais sopranos, “Absinthe” tem a essência da literatura Vitoriana pulsando em suas harmonias (reparem bem nos contrastes vocais mais uma vez). Pianos permeiam a mais melodicamente sinuosa “Pissing on the Score”, e se destacam mais uma vez na introspectiva e plenamente na ópera extrema “The Day We’ll Be Gone” (os vocais em soprano contrastam belamente com os guturais e limpos agonizantes), e as guitarras vão tecendo melodias aconchegantes. Em “Embrace the Oblivion”, peso, melodia e momentos grandiosos se alternam, com baixo e bateria se destacando por sua técnica e pelo peso dado à diversidade de ritmos. “Veleno” fecha o disco, sendo uma instrumental de piano com um toque clássico perfeito.

A versão nacional ainda possui duas faixas extras: “Reise, Reise”, outra em que agressividade e peso se aliam à partes sinfônicas perfeitas, e de onde os teclados elevam uma aura completamente à lá Mary Shelley em muitos momentos, embora no todo, os momentos introspectivos sejam mais evidentes. E “The Forsaking (Nocturnal Version)” é uma versão introspectiva e soturna, feita em teclados e voz, da canção que está em “Agony”, disco de 2011 do grupo, e que ficou ótima nessa ambientação ainda mais melancólica que a original, onde exploraram a mesma música, mas de forma diferente.


Conclusão:

Encerrando, “Veleno” é um dos grandes discos do ano, sem sombra de dúvidas, mostrando que o FLESHGOD APOCALYPSE é capaz de se reinventar mais e mais, capaz de renovar sua música mesmo em meio às vicissitudes que uma banda de Metal passa.

Bebam desse doce veneno, se embriaguem e se deixem levar por esta obra de arte em forma de música.


Nota: 10,0/10,0


Carnivorous Lamb



Sugar



Worship and Forget



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ANDRALLS - Bleeding For Thrash


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Distro Rock Records / Metal Under Store
Nacional


Tracklist:

1. We Are the Only Ones
2. Andralls on Fire Part III
3. 64 Bullets
4. Bleeding For Thrash
5. Legion
6. Noiséthrash
7. After Apocalypse
8. Imminent Cancer
9. Acid Rain - Fasthrash Version (Subtera)
10. On Fire
11. 27*02*18


Banda:


Alex Coelho - Vocais, Guitarras
Felipe Freitas - Baixo, Backing Vocals
Alexandre Brito - Bateria, vocais em Noiséthrash”


Ficha Técnica:

Caio Monfort - Produção, Gravação, Mixagem
Neto Grous - Masterização
Edu Nascimentto - Artwork


Contatos:

Site Oficial:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

A ausência pode destruir todo um trabalho musical criado na base da raça e de muito suor. Isso porque os fãs tendem a ficar desnorteados. Mas ao mesmo tempo, um retorno depois das dificuldades pode dar sangue novo a um grupo.

E é justamente este o caso do trio de Thrashers ANDRALLS, de São Paulo. Depois de um quase fim com a ruptura da formação em 2015 e outros aspectos, eis que eles voltam com sangue nos olhos com “Bleeding For Thrash”, disco que vai causar dores de pescoço!


Análise geral:

Sem Eddie C. (baixo) e Cléber Orsioli (vocais, guitarras), a banda tinha as alternativas de parar ou reformular-se. Escolheram a segunda alternativa, trazendo de volta Alex Coelho (vocalista/guitarrista original), além da entrada de Felipe Freitas (baixo, backing vocals, e ex-NERVOCHAOS), e junto com o remanescente Alexandre Brito (bateria), o grupo deu continuidade à sua saga Fasthrash.

Óbvio que algumas mudanças sutis são perceptíveis, mas sem que a identidade do grupo tenha sido alterada.

Basicamente, “Bleeding For Thrash” é mais um disco ótimo do trio.


Arranjos/composições:

O trio sempre se caracterizou por arranjos não tão rebuscados e técnicos, sempre deixando um toque de Hardcore evidente. Agora, elementos de Metal tradicional, Death Metal e mesmo estilos não convencionais aparecem de forma subjetiva, dando uma requintada ao trabalho musical deles.

Basicamente, soa mais sujo e encorpado, com um enfoque mais denso, mais ainda assim continuam bem velozes, e mantendo a brutalidade. Mas cuidado: não é porque eles tocam rápido que a diversidade rítmica não existe, sem falar que a dinâmica dos arranjos ficou excelente.


Qualidade sonora:

O disco foi gravado no Papirys Studio, tendo Caio Monfort cuidando da produção, gravação, e mixagem, sendo que a masterização é de Neto Grous do Absolute Máster Studio, tudo para dar uma sonoridade vibrante e feroz a “Bleeding For Thrash”.

Todos os instrumentos podem ser ouvidos com clareza e com ótimos timbres em cada um, além de sua devida quantidade de peso. Tudo soa claro, mas mantendo aquela apresentação pesada e agressiva de sempre.



Arte gráfica/capa:

Edu Nascimentto é quem fez a arte da capa, que mostra um lado agressivo e brutal. É algo chamativo, mas que desperta a curiosidade de quem não conhece a banda, bem como deixa claro que eles não perderam a pegada.

Aliás, existe certo “q” orgânico presente nessa arte, coisa de quem é tatuador (como Edu o é).


Destaques musicais:

Pode-se dizer que “Bleeding for Thrash” reapresenta o ANDRALLS aos fãs depois desse tempo todo sem disco inédito (foram 7 anos desde o lançamento de “Breakneck”), e não irá desapontar os antigos seguidores, bem como deve atrair alguns novos.

“We Are the Only Ones” começa com batidas tribais e riffs gordurosos, antes de virar um ataque velos e insano, um cartão de apresentação da nova formação (e que vocais insanos). A pancadaria veloz continua em “Andralls on Fire Part III” e “64 Bullets”, ambas apresentando toques modernos nos riffs de guitarra (embora a segunda apresente alguns momentos mais cadenciados). Em “Bleeding For Thrash”, tem-se uma canção mais seca e direta, um murro nos dentes que vai causar danos nos moshpits da vida (sem falar alguns momentos mais técnicos do baixo que surgem). Já “Legion” tem algo de Death Metal em certas partes de guitarra, mas impera a atordoante velocidade do grupo (e a bateria mostra boa condução e mudanças de ritmo), e o refrão se refere ao REBAELLIUN. Em “Noiséthrash” é justamente onde algumas influências de Metal Industrial aparecem, e é uma música não convencional, uma declaração de pouco mais de um minuto de duração. O pique veloz e com bom trampo de guitarras surge mais uma vez em “After Apocalypse”, seguida do Crossover/Thrash Metal bruto e reto em “Imminent Cancer”. Fazendo uma releitura de “Acid Rain” do SUBTERA, o trio mostra uma influência Thrash moderna, dando uma cara própria à canção (que é o primeiro cover que o trio grava em seus 21 anos de vida). Em “On Fire”, a velocidade thrasher do trio alcança níveis insanos, embora momentos rockers à lá MOTÖRHEAD permeiem os solos. e elementos de Death Metal apareçam aqui e ali. Fechando, a triste e soturna instrumental “27*02*18”, que é uma homenagem do trio a Fabiano Penna, que chegou a tocar com a banda e produzir seus trabalhos.

É, eles voltaram por cima, e na voadora sonora!


Conclusão:

“Bleeding For Thrash” é uma declaração do ANDRALLS, onde dizem “estamos vivos e mais agressivos que nunca”, e podem acreditar: eles ainda têm muita, mas muita lenha para queimar!

Preparem-se para torcicolos bem longos e sofridos!


Nota: 9,0/10,0


Bleeding For Thrash



On Fire



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