sexta-feira, 17 de agosto de 2018

SLAYER - Reign in Blood


Ano: 1986
Tipo: Full Length
Selo: Geffern Records
Nacional


Tracklist:

1. Angel of Death
2. Piece by Piece
3. Necrophobic
4. Altar of Sacrifice
5. Jesus Saves
6. Criminally Insane
7. Reborn
8. Epidemic
9. Postmortem
10. Raining Blood
11. Aggressive Perfector
12. Criminally Insane (Remix)


Banda:


Tom Araya - Vocais, baixo
Kerry King - Guitarras
Jeff Hanneman - Guitarras
Dave Lombardo - Bateria


Ficha Técnica:

Rick Rubin - Produção
Howie Weinberg - Masterização
Andy Wallace - Engenharia de som
Larry Carroll - Arte da capa


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: M. Garcia


1986.

Neste ano que começava a segunda metade dos anos 80, as bases e características do que chamamos de Thrash Metal foram finalmente assentadas com o lançamento de “Master of Puppets” do METALLICA. Mas já seguidos por uma imensa legião de fãs, o SLAYER era considerado o mais insano e brutal grupo daqueles anos. E parecia que eles não estavam dispostos a deixar que ninguém lhes tirasse isso, já que o mercado foi inundado por discos extremos na agressividade naqueles anos.

Mal sabiam, mas o quarteto de Huntington Park (California) estava preparando um disco definitivo, que iria fazer todos os grupos extremos virarem seus seguidores. E sinceramente, poucos discos podem ser tão marcantes e influentes como “Reign in Blood”.

A verdade é que “Hell Awaits” (de 1985) havia recebido uma resposta em termos de venda muito boa. Eles estavam prontos para o pulo do gato com seu próximo disco, logo, o batalhador Brian Slagel (dono da Metal Blade Records e produtor do grupo) correu atrás de uma gravadora grande. E de todos, foi a Def Jam Recordings (especializada em Hip Hop, que tinha Rick Rubin como Manda-Chuva) quem levou, pois Rick foi conversar em pessoa com o grupo, para convencê-los a dar este passo. E lembrando: a Def Jam era um selo que tinha distribuição da Columbia Records, logo, portas poderiam se abrir.

Mas os fãs da época suaram frio vendo o SLAYER assinando com um selo enorme, ainda mais um que trabalhava prioritariamente com Hip Hop. Para quem viveu aqueles tempos, é fácil lembrar-se de quantos grupos saíram de selos independentes como ótimos e viraram bandas de Glam Metal nas “majors”.

Mal sabiam o que “Reign in Blood” faria com a percepção de todos...

Antes de gravarem o disco, pela primeira vez, o grupo fez uma sessão de fotos profissionais, usada em um “tour book”, bem como uma das fotos é a clássica da contracapa da versão em vinil. Algumas mostravam a banda de bermudas coloridas, e que provocaram comoções nos radicais da época. Nunca esqueço que a revista Metal chegou a ser acusada de montagem.

Mas o que “Reign in Blood” tem de revolucionário?

A primeira coisa é que eles fugiram completamente do modelo!

Antes de tudo, as músicas ficaram bem mais curtas. Óbvio que era uma influência do Hardcore/Punk Rock, mas ao mesmo tempo, o grupo estava cansado de ouvir muitas repetições de riffs (o que eles tiveram ao ouvir os discos recentes do METALLICA e MEGADETH). Por isso, tudo mais curto, mais rápido, e uma ferocidade absurda. É o SLAYER mostrando que ninguém tinha condições de batê-los em termos de agressividade e brutalidade. Menos de 30 minutos de amassa-crânios, de um festival de ferocidade ímpar. Sinceramente, eis aqui o disco que veio para lançar as bases do que seria o Death Metal dos anos 90.

Traduzindo: o SLAYER foi além, criando músicas rápidas e muito brutais, abandonando das evidentes influências da NWOBHM que existiam em “Show No Mercy”, e deixando para trás as canções longas que são a característica de “Hell Awaits”. Aqui, nasceu o SLAYER que se popularizou, com seus riffs de guitarras marcantes, agressivos e de fácil assimilação (uma descrição interessante dos 80 era que a velocidade era tamanha que lembrava um ataque de vespas, devido ao zunido), solos doentios que duelam em questão de segundos, uma base rítmica sólida e veloz (sem deixa de ser técnica em termos de bateria), e vocais em tons agressivos próximos ao normal. Uma fórmula triunfal que ganhou o mundo e influenciou gerações.

Em “Reign in Blood”, pela primeira vez, o quarteto teve uma produção sonora de ponta. Rick Rubin chamou a responsabilidade de produzir, pela primeira vez, um disco de uma banda de Metal, tendo Howie Weinberg na masterização e Andy Wallace na engenharia de som. Ele ajudou a moldar o som do SLAYER por toda sua carreira, pois de lá para cá, esse “inprint” não mudou continua. No caso, Rock limpou o som deles de todos os efeitos que eram usados “no talo”, ficando algo mais orgânico, direto e seco, fazendo com que os timbres abrasivos ficassem mais audíveis. Sim, era uma qualidade de banda grande à disposição deles, que souberam usar disso muito bem.

Na arte, fugindo do primitivismo ingênuo dos discos anteriores, o artista Larry Carroll (especialista em ilustrações de cunho político, com trabalhos feitos para The Progressive, Village Voice, The New York Times e outras publicações) trouxe algo estilisticamente mais complexo e marcante, mas sombrio e completamente doentio. E capa mostra tudo o que o som do disco é sem tirar e nem pôr.

A verdade é que com “Reign in Blood”, o SLAYER estabelece um novo paradigma musical dentro do Thrash e do Death Metal: a velocidade insana, aliada à musicalidade impactante, dura e sem firulas da banda, mais os temas agora mais maduros de suas letras (o satanismo infantilóide deu lugar a algo mais violento, totalmente focado em mortes, medos humanos em uma abordagem subjetiva entre outras coisas mais agressivas).

Contracapa da versão em vinil.
Nesse disco curto e grosseiro, dez temas icônicos transformam a audição em algo traumático, já que um novo modelo foi estabelecido. É ame ou odeie, sem meios termos. E verdade seja dita: o impacto de “Angel of Death” com sua muralha de riffs insanos e duelos de solos ogrescos (haja alavancas!), a grosseria curta e grossa de “Necrophobic” (vai cantar rápido e firme assim no raio que o parta, vai!), as mudanças de ritmo grotescas da insana “Altar of Sacrifice” (baixo e bateria firmes, e as baquetas e bumbos guiam o assassinato musical), os contrastes dos andamentos em “Criminally Insane”, as melodias duras e opressivas de “Reborn” (riffs insanos herdados diretamente do Hardcore, e que refrão!), as guitarras marcantes de “Postmorten” (os vocais estão com uma dicção ótima, e se essa canção não te faz bater cabeça em sua metade lenta e na outra mais veloz, você não é do meio, simples assim), e a marcante introdução brutal de “Raining Blood” são clássicos absolutos, que o tempo estabeleceu. E na versão CD remasterizada ainda temos dois bônus: uma versão regravada de “Agressive Perfector” (mais curta e hardcorizada que a original) e a mixagem diferente para “Criminally Insane”. Mas mesmo assim, “Piece by Piece”, “Jesus Saves” e “Epidemic” são autênticos hinos à agressividade que o quarteto criou.

E sem tocar em rádios, sem vídeos na MTV, “Reign in Blood” vendeu mais de 500.000 cópias!

Tal como todos os discos clássicos, “Reign in Blood” tem suas muitas polêmicas:

1. O conteúdo lírico do disco e a capa fizeram com que a Columbia Records se negasse a distribuí-lo. Resultado: a Geffen Records se responsabilizou pela distribuição;

2. “Reign in Blood” não pode ser veiculado em rádios pelas letras;

3. No ano de 1988, em uma matéria da finada Metal, pouco depois do lançamento de “South of Heaven”, é mencionado que o SLAYER foi acusado de causar problemas idênticos aos que sabemos do JUDAS PRIEST e OZZY OSBOURNE por suas letras. Embora não se encontrem informações na internet sobre isso (eu procurei e não achei);

4. O único caso que vi de assassinatos relacionados à banda: os pais de Elyse Pahler (uma jovem de 15 anos que foi estuprada e morta por Jacob Delashmutt, Joseph Fiorella e Royce Casey) acusaram e processaram o quarteto em 1996 de “inspirarem os assassinos”. Óbvio que o caso foi encerrado em favor do quarteto;

5. A maior de todas: a letra de “Angel of Death” trata do médico nazista Joseph Mengele e seus experimentos com seres humanos no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Só que isso causou uma comoção enorme entre os sobreviventes do campo de concentração em questão, e que dura até os dias de hoje, sendo que vez por outra o grupo se vê obrigado a dar declarações negando qualquer tipo de simpatia pelo regime nazista.

Sim, apesar de ser estranho, já havia o pensamento do politicamente correto na época. A sorte é que na época, os fãs de Metal estavam mais preocupados com a música do que com vertentes políticas e orientações morais. Cada um com a sua, mas os amigos pessoais desse que vos escreve que são fãs incondicionais de “Reign in Blood” nunca fariam mal a uma mosca sequer. Hora de repensarem suas prioridades.

Este autor tem uma: ouvir “Reign in Blood”, esse clássico da música extrema mundial.

Ah, sim: Kerry King ainda tinha cabelos compridos na época.