sexta-feira, 31 de agosto de 2018

SYMMETRYA - Beyond the Darkness


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Recipe for Disaster
2. Rose the Hat
3. Fragments of Life
4. Lights Go Down
5. Dying Hard
6. Crime of the Century
7. Seeds of Suicide
8. Black Mirror
9. Harvester of Dreams
10. Insidious


Banda:


Jurandir Moreira - Vocais
Alexandre Lamim - Guitarras
Milton Maia - Teclados
Gean Carlos - Baixo
Marcos Vinicius - Bateria


Ficha Técnica:

Carlos Fides - Arte da capa, layout


Contatos:


Texto: “Metal Mark” Garcia


Em geral, fazer o “blend” de gêneros de Metal com elementos do Rock Progressivo em geral pode abranger um “range” amplo de musicalidades, e que pode dar em um belo “fail” ou em algo sublime. É preciso entender que este gênero em especial (que começou com o RUSH lá nos anos 70) tem particularidades que necessitam ser levadas em conta quando ouvimos discos deste. O Brasil tem bons representantes no gênero, e o SYMMETRYA, de Joinville (SC), mostra-se uma banda excelente, como o ótimo “Beyond the Darkness” deixa isso claro.

Eles preferem algo mais próximo ao “approach” clássico do Prog Metal, com muito peso, ótimas melodias e linhas vocais limpas (e que belo trabalho em termos de backing vocals, digamos de passagem). Não chega a ser um pecado dar como referência para eles bandas como QUUENRYCHE e FATES WARNING, uma vez que eles evitam exagerar na técnica. Mas o grande diferencial da banda é a capacidade de explorar possibilidades em termos de ambientação sonora, e fogem ao ponto comum ao qual estamos acostumados. Uma diferença sutil, mas que é extremamente importante para explica como essas canções grudam em nossos tímpanos!

Sim, “Beyond the Darkness” é um discão!

A sonoridade do disco nos dá a clara idéia de que tudo foi trabalhado com calma e esmero, em busca dos melhores timbres, e de uma qualidade sonora que pudesse ser limpa, e com as doses certas de peso e agressividade. As melodias estão bem audíveis, assim como todas as camadas sonoras e elementos que tornam o trabalho do grupo bem pessoal (e mais um ponto legal: há certos momentos em que a banda não coloca bases sob os solos de guitarra, o que os faz soar espontâneos). E a arte, feita por Carlos Fideis, é linda, algo que realmente chama nossa atenção e parece paralela aos temas líricos do grupo (que são baseados na literatura, ou sejam, eles buscam sua inspiração em livros, o que é algo sensacional para um país como o nosso, que carece de maior conhecimento).

Vocais bem trabalhados, guitarras com riffs e solos excelentes, baixo e bateria com boa dose de técnica e peso, e teclados que sempre criam atmosferas perfeitas, nós podemos dizer que a capacidade do SYMMETRYA em fazer música é talentosa, coisa de primeiro mundo. E a versatilidade eclética em termos de camadas sonoras (pois o grupo não se furta de usar elementos de outros gêneros do Metal em sua música) e arranjos que se encaixam como um Lego ajudam muito as canções de “Beyond the Darkness”.

Outro ponto forte: tirando “Insidious” e seus mais de 8 minutos de duração, a maioria das músicas dura, em média, entre 4 e 5 minutos, o que as torna mais simples de sere assimiladas pelos ouvintes não iniciados no estilo. E é preciso dizer que “Recipe for Disaster” (que transita entre o Metal tradicional e o Prog Metal belamente, e que tem um refrão precioso e um trabalho de baixo e bateria ótimo), as passagens mais etéreas bem arranjadas da bem balanceada “Rose the Hat” (o trabalho dos vocais ficou muito bom, com boa dicção e variação de timbres, além de um refrão carregado de bons backing vocals e teclados inteligentes), a grudenta e introspectiva “Fragments of Life” (mais uma vez, baixo e bateria se postando com boa diversidade técnica, sem exagerarem, e que refrão), a melodiosa balada de peso “Lights Go Down”, o peso melodioso e Prog Metal de “Dying Hard” (reparem como o jeito mais abrasivo dos riffs de guitarra pegou bem), as linhas melodiosas mais técnicas e grudentas de “Crime of the Century”, o peso moderno intenso e quase Groove que flui em meio aos arranjos de teclados de “Seeds of Suicide (S.O.S.)” (baixo e bateria arrasando mais uma vez), a maciez rascante e bem feita que transpira dos arranjos de “Black Mirror”, a dinâmica mezzo Hard ‘n’ Heavy, mezzo Prog Metal de “Harvester of Dreams”, e a viagem multifacetada de “Insidious” vão fazer a alegria de muitos fãs de Prog Metal mais ortodoxos, e de fãs de Metal que apenas querem ouvir algo de primeira. Ou seja, é um disco para se aplaudir de pé.

No mais, “Beyond the Darkness” é um disco de primeira grandeza, merece uma ouvida carinhosa, e é indicado para todos os fãs não só de Prog Metal, mas de música pesada em geral.

Nota: 97%


PAGAN THRONE - Live Thorhammerfest


Ano: 2018
Tipo: Disco ao vivo
Nacional


Tracklist:

1. Invasion
2. Swords of Blood
3. Rites of War
4. Fallen Heroes
5. Beast of the Sea
6. Path of Shadows


Banda:


Rodrigo Garm - Vocais
Renan Guerra - Guitarras
Hage - Teclados, programação
Eddie Torres - Baixo
Alexandre Daemortiis - Bateria


Ficha Técnica:

Thiago Freitas - Produção, mixagem, masterização
Rodrigo Garm - Arte da capa, layout


Contatos:

E-mail:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Apesar dos efeitos funestos da crise econômica que devasta o país, o Metal nacional parece estar vivendo um momento muito bom, com lançamentos de qualidade. É interessante perceber isso não apenas pelo lançamento de discos de estúdio ou EPs, mas também porque vemos discos ao vivo sendo lançados (um recurso que anda caindo no desuso nos últimos anos). E o quinteto carioca PAGAN THRONE mostra personalidade ao lançar “Live Throhammerfest”,

Gravado durante a apresentação da banda na edição de 2017 do festival Thorhammerfest, em São Paulo, temos a mostra pictórica do que é um show do quinteto: o Pagan Metal da banda, que mixa a agressividade do Black Metal de bandas como IMMORTAL e MARDUK com as sutilezas do Viking/Pagan Metal, funciona muito bem ao vivo, mantendo-se fiel ao que eles fazem estúdio, mas ficando ainda mais climático, denso e cheio daquela energia crua que os shows possuem. Dessa forma, se percebe que o grupo é coeso, que estavam muito bem ensaiados e mostrando seu melhor.

Sim, “Live Thorhammerfest” é um excelente disco ao vivo!

Em termos de qualidade sonora, ela é realmente o retrato do que temos no Brasil: uma qualidade muito boa, com a crueza dos shows presente. O peso está evidente, bem como se ouve a interação entre banda e público claramente, sem picaretagens (como aqueles discos em que se adicionam aplausos, e que sabemos que existem). A captação feita pelo Studio Prisco (São Paulo) ficou muito boa, bem como a mixagem e masterização dos THAF Studios (Rio de Janeiro). E a arte da capa é muito boa, bem como as fotos ao vivo no encarte do CD (esta edição em cardsleeve ficou bem legal, e lembrando: a crise econômica nos leva a economizar em muitos aspectos para que possamos lançar discos).

Ao vivo, o PAGAN THRONE vai muito bem, mostrando uma música dinâmica e bem arranjada. Uma olhada atenta nos mostra que o material gravado é oriundo inteiramente de “Swords of Blood”, disco da banda de 2015. Óbvio que poderiam existir faixas de seus outros discos, mas os lembro de que nesses festivais as bandas nacionais possuem tempo limitado para tocar, logo, pode ser a motivação. Mas não chega a ser um desabonador para o que se ouve no CD.

Em termos musicais, as cinco canções de “Live Thorhammerfest” são todas muito boas, mostrando que as versões ao vivo de “Swords of Blood” (os contrastes entre as partes mais agressivas com outras mais melodiosas ficou excelente, e reparem nos teclados de fundo e nas mudanças de ritmo bem feitas por baixo e bateria), da climática “Rites of War” (o ritmo mais cadenciado privilegia a melancólica ambientação pagã dada pelos teclados), de “Fallen Heroes” com sua pegada envolvente (guitarras e vocais fazendo um trabalho ótimo, sem contar que a presença de solos de guitarra é um diferencial da banda), “Beast of the Sea” com seu toque Pagan divertido à lá FINNTROLL e KORPIKLAANI, e da longa e bem trabalhada “Path of Shadows” merecem toda a atenção. Mesmo porque, musicalmente, se percebem nelas que o grupo possui influências musicais bem diversificadas que entram nas músicas.

O PAGAN THRONE continua sendo um grupo diferenciado dentro do cenário nacional, logo, descolem urgentemente suas cópias de “Live Thorhammerfest” antes que acabe!

Nota: 92%

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MISCONDUCTERS - Reanimated



Ano: 2018
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Denfire Music
Nacional


Tracklist:

1. Unleash
2. Control Evasion
3. Stagnant
4. Deceived
5. No More


Banda:


Denfire - Guitarras, vocal
Mr Blue Note - Baixo
Tony King - Bateria


Ficha Técnica:

Denfire - Produção, artwork da capa


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: M. Garcia


Bandas e mais bandas dão continuidade à suas carreiras musicais. Algumas vão se modificando conforme o tempo (graças à adição de novas influências musicais), outras preferem permanecer onde estão. Ambas as formas são extremamente válidas, e podemos aferir que o trio MISCONDUCTERS se encontra no segundo grupo, ainda mais com esse novo trabalho deles, o ótimo EP “Reanimated”.

O fato é: a banda aglutina influências de Heavy Metal tradicional, Punk Rock/Hardcore e Rock ‘n’ Roll. É como se juntássemos a energia espontânea de bandas como MOTORHEAD, RAMONES e AC/DC, mas com a personalidade bem definida que guia a banda desde seus primeiros passos. O trabalho em termos técnicos busca ser simples e direto, totalmente “in your face”, mas justamente por isso que desce bem. Não é inovador, nem o suprassumo da técnica, e por isso é tão empolgante, divertido e pesado de doer os ouvidos dos menos acostumados. Ah, sim: essas músicas grudam nos ouvidos e não saem mais, nem adianta!

O guitarrista/vocalista Denfire mais uma vez fez a produção sonora. E mais uma vez ele acerta a mão na combinação de peso e sujeira orgânica (pois o trabalho deles é daqueles que tem que ter certo tom de crueza sonora) com uma sonoridade bem definida, onde possamos compreender o que é tocado. Tudo é tão orgânico que mesmo a arte da capa nos remete aos anos 70 e 80. Tudo do jeito que realmente se adequa ao trabalho musical do trio.

Na verdade, “Reanimated” merece o nome que tem, já que todo material são revisões de canções de seus dois primeiros álbuns e do terceiro EP da banda (lembrando que eles já possuem uma discografia longa nesses 10 anos de existência). Mas estas roupagens novas deram um sabor especial às músicas, tornando tudo ainda melhor, e elas são preenchidas por arranjos ótimos. E se preparem: o MISCONDUCTERS se mostra inspirado e cheio de vontade mesmo quando faz cover de si mesmo.

Unleash” já começa o EP em alto nível, com aquele jeitão mezzo Metal/mezzo Punk Rock tão vibrante e soltando energia para todos os lados (e que belas guitarras, mostrando riffs e arranjos simples e diretos, além de solos melodiosos de primeira), E a mesma pegada se dá em “Control Evasion”, que é mais agressiva, mas mantendo o apelo envolvente (a base rítmica está de parabéns, pois essas mudanças de ritmo são ótimas). Já não tão rápida (só em algumas partes) é “Stagnant” com sua aura Metal Punk de guetos (e os vocais ficaram ótimos, fora os arranjos do baixo). Já para chutar o pau da barraca, temos a curta e grossa “Deceived”, onde a bateria se destaca junto com os riffs de guitarra (criatividade é pouco para definir o quanto são grudentos). Um pouco mais acessível (mais ainda com jeitão de pub esfumaçado) temos “No More”, que vai causar muitos moshpits, pois é um convite claro a isso (e na simplicidade técnica eles ganham de goleada, sem falar que os vocais estão muito bem encaixados, com boa dicção e certo tom de ironia).

Ou seja, “Reanimated” vem nos apresentar a nova formação do MISCONDUCTERS, e assim, se percebe que o trio está revigorado e pronto para encarar novos desafios.

Vai encarar?

Ah, sim: o lançamento de “Reanimated” está previsto para 11 de setembro próximo, logo, podem ir juntando uma grana, pois vai valer cada centavo. Satisfação garantida!

Nota: 96%

HELLWAY PATROL - Desert Ghost


Ano: 2018
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Desert Ghost
2. Fear the War Machine
3. Satan Free Me


Banda:


Ricardo Pigatto - Vocais, baixo
Thiago Franzim - Guitarras
João Bolognini - Bateria


Ficha Técnica:

Michel Kuaker - Produção, mixagem
Absolute Master Studio - Masterização
David Paul Seymour - Artwork (capa)
Silvano Aguilera - Vocais em “Fear the War Machine”
Mayara Puertas - Vocais em “Satan Free Me”


Contatos:

Site Oficial:

Texto: M. Garcia


Um dos fatos que em geral vemos é a formação de novos grupos com músicos que tenham bandas de certo renome no cenário. É bem comum até, mas muitas vezes, isso nos gera expectativas, especialmente sobre o que a banda nova irá fazer em termos musicais. Em alguns casos, o novo tem semelhanças com o antigo, em outros, nem tanto. E o segundo caso é justamente onde se encaixa o trio paranaense de Londrina HELLWAY PATROL, que está lançando seu segundo trabalho, o EP “Desert Ghost”.

É fato bem conhecido que o baixista/vocalista Ricardo Pigatto fez parte do DOMINUS PRAELII (onde gravou o álbum os discos “Holding the Flag of War” e “Bastards and Killers”), mas a musicalidade do HELLWAY PATROL segue por outro rumo: o trio faz algo mais próximo a uma mistura de Heavy Metal tradicional com aspectos do Speed Metal e do Thrash Metal, certo acento Old School, além de muita energia. Óbvio a experiência dos músicos os ajuda a criar algo que, embora não soe exatamente novo, tem muito valor pela personalidade. E como a energia flui dessas canções é algo absurdo.

As linhas instrumentais de “Desert Ghost” foram gravadas na cidade natal da banda, enquanto os vocais, mixagem e masterização foram feitos em São Paulo. No que tange à sonoridade, os trabalhos de Michel Kuaker na produção e mixagem, mais os da masterização feita no Absolute Master Studio ajudaram a dar clareza sonora ao grupo, sem que a estruturação mais orgânica fosse afetada (uma vez que os instrumentos foram gravados “ao vivo” em estúdio, ou seja, todos juntos), ou seja, está pesado e agressivo, mas artesanal e bem acabado. Além disso, gravar os vocais em SP lhes possibilitou a presença de Silvano Aguilera (do WOSLOM) e Mayara Puertas (do TORTURE SQUAD) como convidados especiais. A arte da capa, por sua vez, é assinada pelo artista norte-americano David Paul Seymour (que assina trabalhos do SLAYER, ANTHRAX, OPETH, MASTODON, PENTAGRAM, entre outros), e na simplicidade, passa sua mensagem e transparece o que o trio faz musicalmente.

Furioso, melodioso e bem feito, o trabalho do HELLWAY PATROL não chegar a ser complicado tecnicamente falando, mas nem de longe é simplório na base do “1, 2, 3 e desce o braço”. Não, a banda busca fazer algo direto e cheio de energia, mas bem arranjado. E se preparem, pois essas canções vão agarrar em seus ouvidos e não soltam mais, especialmente no tocante aos refrães. É quase como um MOTORHEAD tocando Metal tradicional em alguns momentos (especialmente nos solos de guitarras). 

Em “Desert Ghost”, temos uma faixa refreada, com um andamento lento empolgante, e que nos mostra excelentes riffs e bons solos (e boa técnica instrumental, sem ser complexamente pedante). “Fear the War Machine” tem algumas passagens mais técnicas em alguns pontos, mas onde o lado Heavy Metal tradicional se evidencia graças às linhas melódicas (e que trabalho legal nos vocais). Fechando, “Satan Free Me” tem uma pegada mais cheia de energia, sendo a faixa mais veloz do EP, e com uma solidez imensa na base rítmica.

Ou seja, “Desert Ghost” é tão bom que nos perguntamos porque raios o grupo ainda não lançou um álbum!

Nota: 85%

FALANGE - Falange


Ano: 2018
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Destruction of Sky
2. Madness
3. Fight
4. Humano Debilmental
5. Fuck Your Play
6. Fogueira


Banda:


Luciano Piagentini - Vocais
Ivan Miotto - Guitarras
Marcelo Coletti - Baixo
Caio Imperato - Bateria


Ficha Técnica:

Falange - Mixagem, masterização
Rafael Romanelli - Artwork


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:

Texto: M. Garcia


É interessante ver como o Metal é viciante. Além dos fãs que nunca deixam de sê-lo por uma vida, ainda existem aqueles viciados em fazer música. Sim, não dá para ficar quieto por muito tempo, que o diga o FALANGE, quarteto do ABC Paulista (especificamente Santo André), que nos chega com seu EP de estreia, que leva o nome da banda.

O grupo é formado por quatro sujeitos com nomes clássicos do cenário Metal brasileiro nas costas (entre eles, SLAUGHTER, BLASPHEMER, ANTICHRIST, ATOMIC THRASHER, FORKA, entre outros). Mas o que chama a atenção é que eles criaram um híbrido: o jeitão do grupo é totalmente voltado à Thrash Metal Old School (com um forte carrego de EXODUS, SLAYER e ANTHRAX, e alguma coisinha de NUCLEAR ASSAULT), mas com uma sonoridade impactante e feroz que mostra uma vibração jovem e cheia de energia. Sim, e justamente por isso eles tendem a angariar fãs de todos os lados. Para ser bem sincero, para gostar da música deles basta ser fã de Metal e não ser surdo! Simples assim!

O EP foi gravado no Bay Area Studios, tendo o agora baterista do grupo Diego Henrique cuidando da mixagem e da masterização. E é justamente o que afirmo tantas vezes: para ser Old School não precisa soar cru além do ponto. No caso do FALANGE, a crueza vem do jeito que gravaram (soa bem “plug ‘n’ play” aos ouvidos), pois a estética é clara e limpa, mas com um peso rascante e timbres instrumentais ferozes. Ou seja, um feliz casamento entre o velho e o novo.

Na arte gráfica, algo bem mais orgânico, que realmente fica a cara da banda.

A verdade é que o grupo tem personalidade, mostrando uma agressividade impar em sua música, é evidente que eles não estão nem aí, descem a marreta e pronto. Mas ao mesmo tempo, em termos de arranjos musicais, eles estão ali, dando peso e preenchendo as linhas harmônicas de forma incrível. Estamos vendo um grupo promissor se erguendo do underground!

O EP abre com a brutal, curta e grossa “Destruction of Sky”, uma enxurrada de guitarras insanas (que é uma releitura de uma canção do ATOMIC THRASHER, da Demo Tape de 1988, “Atomic Future”, e percebe-se que ela não perdeu sua pegada e energia, pelo contrário), seguida da velocidade empolgante e feroz “Madness” (refrão de primeira, além de um trabalho fantástico de baixo e bateria), e de “Fight” (vai criar riffs grudentos assim na China, mesmo nos momentos mais refreados durante o refrão). Mais pesada e cadenciada é “Humano Debilmental” (que dá uma acelerada próxima ao fim, mas mostra uma força ímpar nos vocais urrados), seguida da paulada quase Crossover de “Fuck Your Play” (que bela técnica da bateria e do baixo na condução dos tempos). O EP fecha com “Fogueira”, outra com uma levada bem mais lenta e opressiva no início, antes de explodir em uma velocidade ganchuda e muita rispidez nas guitarras.

Faço questão de frisar: se gostas de Thrash Metal à lá Bay Area, vai gostar do FALANGE com certeza, que é mais um dos ótimos representantes do “SP/ABC Area Thrash Metal”.

Nota: 87%


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

SLAYER - Reign in Blood


Ano: 1986
Tipo: Full Length
Selo: Geffern Records
Nacional


Tracklist:

1. Angel of Death
2. Piece by Piece
3. Necrophobic
4. Altar of Sacrifice
5. Jesus Saves
6. Criminally Insane
7. Reborn
8. Epidemic
9. Postmortem
10. Raining Blood
11. Aggressive Perfector
12. Criminally Insane (Remix)


Banda:


Tom Araya - Vocais, baixo
Kerry King - Guitarras
Jeff Hanneman - Guitarras
Dave Lombardo - Bateria


Ficha Técnica:

Rick Rubin - Produção
Howie Weinberg - Masterização
Andy Wallace - Engenharia de som
Larry Carroll - Arte da capa


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: M. Garcia


1986.

Neste ano que começava a segunda metade dos anos 80, as bases e características do que chamamos de Thrash Metal foram finalmente assentadas com o lançamento de “Master of Puppets” do METALLICA. Mas já seguidos por uma imensa legião de fãs, o SLAYER era considerado o mais insano e brutal grupo daqueles anos. E parecia que eles não estavam dispostos a deixar que ninguém lhes tirasse isso, já que o mercado foi inundado por discos extremos na agressividade naqueles anos.

Mal sabiam, mas o quarteto de Huntington Park (California) estava preparando um disco definitivo, que iria fazer todos os grupos extremos virarem seus seguidores. E sinceramente, poucos discos podem ser tão marcantes e influentes como “Reign in Blood”.

A verdade é que “Hell Awaits” (de 1985) havia recebido uma resposta em termos de venda muito boa. Eles estavam prontos para o pulo do gato com seu próximo disco, logo, o batalhador Brian Slagel (dono da Metal Blade Records e produtor do grupo) correu atrás de uma gravadora grande. E de todos, foi a Def Jam Recordings (especializada em Hip Hop, que tinha Rick Rubin como Manda-Chuva) quem levou, pois Rick foi conversar em pessoa com o grupo, para convencê-los a dar este passo. E lembrando: a Def Jam era um selo que tinha distribuição da Columbia Records, logo, portas poderiam se abrir.

Mas os fãs da época suaram frio vendo o SLAYER assinando com um selo enorme, ainda mais um que trabalhava prioritariamente com Hip Hop. Para quem viveu aqueles tempos, é fácil lembrar-se de quantos grupos saíram de selos independentes como ótimos e viraram bandas de Glam Metal nas “majors”.

Mal sabiam o que “Reign in Blood” faria com a percepção de todos...

Antes de gravarem o disco, pela primeira vez, o grupo fez uma sessão de fotos profissionais, usada em um “tour book”, bem como uma das fotos é a clássica da contracapa da versão em vinil. Algumas mostravam a banda de bermudas coloridas, e que provocaram comoções nos radicais da época. Nunca esqueço que a revista Metal chegou a ser acusada de montagem.

Mas o que “Reign in Blood” tem de revolucionário?

A primeira coisa é que eles fugiram completamente do modelo!

Antes de tudo, as músicas ficaram bem mais curtas. Óbvio que era uma influência do Hardcore/Punk Rock, mas ao mesmo tempo, o grupo estava cansado de ouvir muitas repetições de riffs (o que eles tiveram ao ouvir os discos recentes do METALLICA e MEGADETH). Por isso, tudo mais curto, mais rápido, e uma ferocidade absurda. É o SLAYER mostrando que ninguém tinha condições de batê-los em termos de agressividade e brutalidade. Menos de 30 minutos de amassa-crânios, de um festival de ferocidade ímpar. Sinceramente, eis aqui o disco que veio para lançar as bases do que seria o Death Metal dos anos 90.

Traduzindo: o SLAYER foi além, criando músicas rápidas e muito brutais, abandonando das evidentes influências da NWOBHM que existiam em “Show No Mercy”, e deixando para trás as canções longas que são a característica de “Hell Awaits”. Aqui, nasceu o SLAYER que se popularizou, com seus riffs de guitarras marcantes, agressivos e de fácil assimilação (uma descrição interessante dos 80 era que a velocidade era tamanha que lembrava um ataque de vespas, devido ao zunido), solos doentios que duelam em questão de segundos, uma base rítmica sólida e veloz (sem deixa de ser técnica em termos de bateria), e vocais em tons agressivos próximos ao normal. Uma fórmula triunfal que ganhou o mundo e influenciou gerações.

Em “Reign in Blood”, pela primeira vez, o quarteto teve uma produção sonora de ponta. Rick Rubin chamou a responsabilidade de produzir, pela primeira vez, um disco de uma banda de Metal, tendo Howie Weinberg na masterização e Andy Wallace na engenharia de som. Ele ajudou a moldar o som do SLAYER por toda sua carreira, pois de lá para cá, esse “inprint” não mudou continua. No caso, Rock limpou o som deles de todos os efeitos que eram usados “no talo”, ficando algo mais orgânico, direto e seco, fazendo com que os timbres abrasivos ficassem mais audíveis. Sim, era uma qualidade de banda grande à disposição deles, que souberam usar disso muito bem.

Na arte, fugindo do primitivismo ingênuo dos discos anteriores, o artista Larry Carroll (especialista em ilustrações de cunho político, com trabalhos feitos para The Progressive, Village Voice, The New York Times e outras publicações) trouxe algo estilisticamente mais complexo e marcante, mas sombrio e completamente doentio. E capa mostra tudo o que o som do disco é sem tirar e nem pôr.

A verdade é que com “Reign in Blood”, o SLAYER estabelece um novo paradigma musical dentro do Thrash e do Death Metal: a velocidade insana, aliada à musicalidade impactante, dura e sem firulas da banda, mais os temas agora mais maduros de suas letras (o satanismo infantilóide deu lugar a algo mais violento, totalmente focado em mortes, medos humanos em uma abordagem subjetiva entre outras coisas mais agressivas).

Contracapa da versão em vinil.
Nesse disco curto e grosseiro, dez temas icônicos transformam a audição em algo traumático, já que um novo modelo foi estabelecido. É ame ou odeie, sem meios termos. E verdade seja dita: o impacto de “Angel of Death” com sua muralha de riffs insanos e duelos de solos ogrescos (haja alavancas!), a grosseria curta e grossa de “Necrophobic” (vai cantar rápido e firme assim no raio que o parta, vai!), as mudanças de ritmo grotescas da insana “Altar of Sacrifice” (baixo e bateria firmes, e as baquetas e bumbos guiam o assassinato musical), os contrastes dos andamentos em “Criminally Insane”, as melodias duras e opressivas de “Reborn” (riffs insanos herdados diretamente do Hardcore, e que refrão!), as guitarras marcantes de “Postmorten” (os vocais estão com uma dicção ótima, e se essa canção não te faz bater cabeça em sua metade lenta e na outra mais veloz, você não é do meio, simples assim), e a marcante introdução brutal de “Raining Blood” são clássicos absolutos, que o tempo estabeleceu. E na versão CD remasterizada ainda temos dois bônus: uma versão regravada de “Agressive Perfector” (mais curta e hardcorizada que a original) e a mixagem diferente para “Criminally Insane”. Mas mesmo assim, “Piece by Piece”, “Jesus Saves” e “Epidemic” são autênticos hinos à agressividade que o quarteto criou.

E sem tocar em rádios, sem vídeos na MTV, “Reign in Blood” vendeu mais de 500.000 cópias!

Tal como todos os discos clássicos, “Reign in Blood” tem suas muitas polêmicas:

1. O conteúdo lírico do disco e a capa fizeram com que a Columbia Records se negasse a distribuí-lo. Resultado: a Geffen Records se responsabilizou pela distribuição;

2. “Reign in Blood” não pode ser veiculado em rádios pelas letras;

3. No ano de 1988, em uma matéria da finada Metal, pouco depois do lançamento de “South of Heaven”, é mencionado que o SLAYER foi acusado de causar problemas idênticos aos que sabemos do JUDAS PRIEST e OZZY OSBOURNE por suas letras. Embora não se encontrem informações na internet sobre isso (eu procurei e não achei);

4. O único caso que vi de assassinatos relacionados à banda: os pais de Elyse Pahler (uma jovem de 15 anos que foi estuprada e morta por Jacob Delashmutt, Joseph Fiorella e Royce Casey) acusaram e processaram o quarteto em 1996 de “inspirarem os assassinos”. Óbvio que o caso foi encerrado em favor do quarteto;

5. A maior de todas: a letra de “Angel of Death” trata do médico nazista Joseph Mengele e seus experimentos com seres humanos no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Só que isso causou uma comoção enorme entre os sobreviventes do campo de concentração em questão, e que dura até os dias de hoje, sendo que vez por outra o grupo se vê obrigado a dar declarações negando qualquer tipo de simpatia pelo regime nazista.

Sim, apesar de ser estranho, já havia o pensamento do politicamente correto na época. A sorte é que na época, os fãs de Metal estavam mais preocupados com a música do que com vertentes políticas e orientações morais. Cada um com a sua, mas os amigos pessoais desse que vos escreve que são fãs incondicionais de “Reign in Blood” nunca fariam mal a uma mosca sequer. Hora de repensarem suas prioridades.

Este autor tem uma: ouvir “Reign in Blood”, esse clássico da música extrema mundial.

Ah, sim: Kerry King ainda tinha cabelos compridos na época.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

BULLET - Dust to Gold


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Speed and Attack
2. Ain’t Enough
3. Rouge Soldier
4. Fuel the Fire
5. One More Round
6. Highway Love
7. Wildfire
8. Screams in the Night
9. Forever Rise
10. The Prophecy
11. Hollow Grounds
12. Dust to Gold


Banda:


Hell Hofer - Vocais
Alexander Lyrbo - Guitarras
Hampus Klang - Guitarras
Gustav Hector - Baixo
Gustav Hjortsjö - Bateria


Ficha Técnica:

Magnus Sedenberg - Produção, mixagem


Contatos:

Assessoria:
E-mail:

Texto: M. Garcia


O Metal possui momentos em que um ou outro de seus subgêneros está na moda, ou seja, fica mais evidente que os outros. A atual é o resgate sonoro dos anos 80 por bandas mais jovens. Isso não é ruim, contanto que as bandas sejam adeptas de fazer as coisas ao jeito delas. Repetir o passado por repetir é perda de tempo. Muitos se perdem e fazem trabalhos aquém de suas possibilidades, enquanto outros, mesmo sem serem originais, nos brindam com discos excelentes. No último grupo, temos os suecos do BULLET, que chegam ao Brasil via Shinigami Records, que lançou “Dust to Gold”, mais recente disco deles, por aqui.

Podemos dizer que o trabalho deles é baseado na fusão de elementos melodiosos do Heavy Metal germânico (nomes como ACCEPT, GRAVE DIGGER, e RUNNING WILD vêm às nossas mentes) com alguma coisa do Hard ‘n’ Heavy da NWOBHM, melodias grudentas que eram comuns em bandas de Heavy Metal da Bélgica e a energia crua de um AC/DC. E tudo isso feito com uma pegada voltada ao Metal dos anos 80. Assim, temos uma música forte, cheia de vida e energia (pois eles preferem fazer as coisas ao jeito deles), refrães extremamente grudentos, e uma personalidade sólida.

Sim, “Dust to Gold” é um discão, e vai causar dores de pescoço em muitos!

As mãos de Magnus Sedenberg (que fez a produção e mixagem do disco) deram uma vida e brilho ao estilo à moda antiga do quinteto, trazendo para os dias de hoje o estilo da banda. Ou seja, é Metal Old School, mas com a força, intensidade e clareza da modernidade, ou seja, é como se a banda plugasse seus instrumentos e tocasse na forma mais orgânica possível, mas com captação digital, e dessa forma, a crueza vem dos timbres instrumentais, o que é um ponto muito positivo. A capa, por sua vez, é bem retrô, algo bem pensado.

Chega a ser uma covardia com o coração dos bangers mais velhos o que o BULLET faz em suas canções, e vai conquistar muitos fãs mais jovens também. “Dust to Gold” é o típico disco onde a energia e as melodias se mesclam de forma inspirada, e quem ganham no final de tudo é o ouvinte, pois esse disco é “bão pra mais de metro”, com uma forma bem espontânea de nos tomar de assalto!

Embora todas as músicas sejam excelentes, destacam-se a força e peso de “Speed and Attack” (um andamento sólido, sem ser veloz, e com um trabalho ótimo de baixo e bateria), o jeito envolvente e intenso de “Ain’t Enough” (as melodias Hard ‘n’ Roll no meio do peso que eles conjuram são ótimas, com excelentes guitarras tanto nos riffs como nos solos) e de “Rouge Soldier” (se você não gostar, é sinal que está morto, pois haja grude, e os vocais à lá Chris Boltendhal são excelentes), a energia abrasiva e empolgante de “Fuel the Fire”, a força opressiva das linhas harmônicas de “Highway Love” e do jeito setentista de “Wildfire” (puro AC/DC com ACCEPT, só que vibrante, atual e grudenta como ela só), o charme Old School de “Hollow Grounds”, e os tempos não tão velozes (mas pesados de doer os tímpanos) de “Dust to Gold”. Mas este é um play que vocês ouvirão do início ao fim sem reclamar.

É o sexto disco desses veteranos suecos, mas acreditamos que “Dust to Gold” será um pulo do gato para o BULLET, que os levará a um patamar mais alto, pois merecem. Eles têm música para tanto. E recomendo fortemente que todos ouçam!

Nota: 95%