terça-feira, 16 de julho de 2019

HATEMATTER - Metaphor


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Flow (intro)
2. Before the Plunge
3. They Arrive
4. Tears in Rain (intro)
5. At Tannhauser Gates
6. Nexus 9 (intro)
7. Blackout Afterglow
8. A Bitter Taste
9. The Wasteland (intro)
10. Fury Road
11. The Agonizing Wail
12. The Burning Dogma
13. Scourge of the Earth


Banda:

Foto: Tuco Media

Luiz Artur - Vocais
Gustavo Polidori - Guitarras
André Buck - Guitarras
André Martins - Baixo
Lucas Emidio - Bateria


Ficha Técnica:

Brendan Dufay - Produção, Mixagem, Masterização
Rafael Augusto Lopes - Gravação
Raquel Lopes (VOX ígnea) - Vocais em 3


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria: http://www.asepress.com.br/music (ASE Music)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Por conta da falta de cultura e mesmo de ensino de alto nível no Brasil, muitos fãs de Metal tendem a manter posicionamentos extremamente conservadores, não se permitindo ouvir tendências sonoras modernas. Talvez isso seja a fonte de muitas bandas Old School do Brasil terem um enfoque tão oitentista que acabam tentando (e não conseguindo) emular a crueza sonora da época. O caminho não é esse. Isso é estar em uma caverna ideológica idêntica à da Alegoria da Caverna de Platão.

Raros são os que, no Brasil, se atrevem a trilhar moldes de vanguarda. Mas eles existem, e um deles é o quinteto HATEMATTER, de São Paulo. “Metaphor”, terceiro álbum da banda, atesta isso.


Análise geral:

Basicamente, eles são uma banda de Death Metal moderno com a pegada mais melódica e esteticamente bem cuidada do que conhecesse como “Gothenburg Death Metal”, ou seja, aquele Death Metal agressivo, mas lapidado com boas melodias, praticado por nomes como IN FLAMES, SOILWORK, AT THE GATES e DARK TRANQUILLITY em suas fases mais iniciais. Mas calma lá: o quinteto vai além disso, pois tem personalidade própria.

Ou seja, a música do quinteto é tecnicamente bem feita, solda e pesada, onde o balanço entre melodias e agressividade está ótimo. A energia que flui das canções é absurda!


Arranjos/composições:

Na linha das bandas citadas, é fácil encontrar contrastes entre vocais rasgados, guturais e limpos, bem como entre momentos limpos e introspectivos com rispidez desmedida. Tudo isso com ritmos que se alternam bastante, boa diversidade técnica, e mesmo partes tribais aparecem (como em “Blackout Afterglow”).

É interessante ver como a energia que flui desse disco é algo abusivo, e pode causar dor nos tímpanos dos menos acostumados. Aliás, a capacidade da banda arranjar suas canções de forma consensual, bem como de criar ótimas melodias e momentos pegajosos é algo incrível!


Qualidade sonora:

“Metaphor” foi gravado no Brasil, sendo que tudo foi feito no estúdio Casanegra, sob a supervisão de Rafael Augusto Lopes. A Produção, mixagem e masterização (feitas nos EUA) são de Brendan Duffey. Desta forma, a banda recebeu uma qualidade sonora perfeita para que sua música soe viva e agressiva, unindo peso, melodia e agressividade em um formato moderno e coeso.

A timbragem dos instrumentos ficou excelente, de uma forma que tudo pode ser compreendido, mas as guitarras e baixo fugiram daqueles tons gordurosos que muitas bandas mais modernas utilizam. Por isso, está distante sonoramente do New Metal (este autor se recusa a escrever errado) e do Metalcore.


Arte gráfica/capa:

A capa possui um design até simples, mas que permite muitas interpretações diferentes. Fica óbvio que a temática das letras do quinteto lida com temas de um futuro distópico e claustrofóbico, como o visto em livros e filmes como “Blade Runner” (1982). Papo cabeça profundo e mostrando algo que tanto anda em falta ao povo de nosso país: maior profundidade cultural.


Destaques musicais:

Pode-se dizer que “Metaphor” é um disco corajoso, justamente por ousar fazer aquilo que muitos têm receio de fazer. E justamente por isso é tão bom, soa tão bem aos ouvidos.

“Flow” é uma introdução com teclados e cordas, preparando o ouvinte para o “blend” de melodias e agressividade de “Before the Plunge”, cheia de energia e partes empolgantes (os contrastes de tons vocais são excelentes, do normal ao rasgado, e depois urros guturais). Belas melodias introspectivas se misturam a uma ambientação agressiva moderna para criar a forte “They Arrive” (baixo e bateria mostram uma ótima técnica e peso, sem deixar de falar nos solos de guitarras, que andam caindo em desuso, e nos belos vocais femininos). “Tears in Rain” é outra introdução claustrofóbica para abrir alas para “At Tannhauser Gates”, que também mistura agressividade com tempos melodiosos e variados, e uma exibição de gala das guitarras em riffs excelentes (e em belíssimas partes limpas, além dos solos de primeira), e “Nexus 9” (outra introdução) fecha a trilogia conceitual do álbum. “Blackout Afterglow” é uma faixa moderna e com melodias bem maduras, e onde mais uma vez, a base rítmica se destaca. Em “A Bitter Taste”, tem-se a canção mais moderna e próxima ao Melodic Death Metal sueco atual, mais ainda assim, agressiva ao ponto de causar incômodo aos ouvidos cheios de bolor ou metidos à vanguarda. “The Wasteland” (mais uma intro) precede “Fury Road”, que apesar de uma sonoridade Melodic Death Metal, remete o ouvinte diretamente aos primórdios do Swedish Death Metal clássico por conta da pegada hardcorizada empolgante, mas sem deixar de ter solos melodiosos bem encaixados, e esses mesmos elementos são encontrados em “The Agonizing Wail” e “The Burning Dogma” (esta última com alguns tempos mais complexos que a média do disco, e algumas partes bem bate-estacas). E fechando, a bruta e pegajosa “Scourge of the Earth”, com belas linhas melódicas e mais uma vez, com “inserts” de vocais femininos providenciais.

É o típico disco para se ouvir a aproveitar a exibição de gala.


Conclusão:

O HATEMATTER é a prova que se pode fazer algo diferente e moderno no Brasil em termos de Death Metal, e “Metaphor” mostra-se um disco ótimo, inteligente e refinado. Um dos grandes discos nacionais desse ano!


Nota: 9,7/10,0


Blackout Afterglow



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