quinta-feira, 11 de abril de 2019

IN THE WOODS... - HEart of the Ages


Ano: 1995 (lançamento original) / 2019 (lançamento nacional)
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Yearning the Seeds of a New Dimension
2. HEart of Ages
3. ...In The Woods...
- Prologue
- Memories of...
- Epilogue
4. Mourning the Death of Aase
5. Wotan’s Return
6. Pigeon
7. The Divinity of Wisdom
8. White Rabbit (Jefferson Airplane cover)


Banda:


Ovl. Svithjod - Vocais
Christian “X” Botteri - Guitarras
Oddvar A:M. - Guitarras
Christopher “C:M.” Botteri - Baixo


Ficha Técnica:

Bjorn “Berserk” Harstad - Produção
Trond Are - Produção
Thorbjorn Haugland - Artework
Anders Kobro - Bateria
Synne “Soprana” Larsen - Vocais femininos


Contatos:

Site Oficial:
Instagram:
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:


1993.

Este foi o ano em que a cena Metal da Noruega foi exposta ao mundo todo por conta do assassinato de Oystein Aarseth (conhecido como Euronymous, guitarrista e líder do MAYHEM). Basicamente, todos os olhares do mundo se voltaram para ver o que o país poderia oferecer musicalmente. Em verdade, o Black Metal recebeu uma formatação nova, fresca e inebriante por lá, ao ponto de gerar tantos subgêneros de si mesmo que chega a ser difícil a catalogação do mesmo.

1995.

Após dois anos, percebeu-se que a fragmentação do Black Metal havia gerado algo novo, sensacional e quem tem inúmeros representantes: o chamado Avant-garde/Progressive Black Metal, ou seja, a fusão de aspectos musicais do Black Metal “made in Norway” com aquela ambientação etérea e encorpada do Rock Progressivo dos anos 70. Grupos como VED BUENS ENDE, ARCTURUS e BORKNAGAR começaram a deixar sua marca na história do estilo.

Mas o que poucos sabem é que a Noruega teve (e ainda tem) um pioneiro do estilo: IN THE WOODS..., que está há anos lutando e lançando discos de primeira, sendo que o que teve maior impacto no Brasil é o seu primeiro lançamento, “HEart of the Ages” (sim, a grafia é assim mesmo). E a Cold Art Industry Records nos brinda com um luxuoso relançamento dessa obra de arte musical (no caso do Brasil, é a primeira vez que ele ganha uma versão nacional), com algumas surpresas realmente deliciosas.


Análise geral:

De seus pares de época, o IN THE WOODS... é o que tem uma maior influência de Rock Progressivo dos anos 70, em especial das viagens lisérgicas etéreas de YES e PINK FLOYD, e algo do famoso Space Rock com o uso de teclados que dão uma ambientação suave e mesmo introspectiva em muitos momentos, inclusive com o uso de vocais limpos muito bem encaixados. Mas quando o grupo pega pesado e mostra seu lado Black Metal, em nada fica a dever a nomes como SATYRICON e MAYHEM daqueles dias (embora o grupo seja musicalmente bem mais diversificado e técnico).

Existem também momentos mistos, onde os vocais limpos se encaixam sobre partes instrumentais mais ríspidas.

Para os dias de hoje, “HEart of the Ages” pode não parecer tão inovador ou experimental para os que não viveram aqueles anos entre 1993 e 1996, mas continua soando clássico, e é uma tentação aos fãs do gênero.


Arranjos/composições:

Como os grupos do gênero, o quarteto usa de muitas mudanças de ritmos e ambientações, o que faz com que suas longas canções não soem entediantes aos ouvidos. Além disso, o IN THE WOODS... tem por característica soar mais sujo, mais primordial em termos de Black Metal, quando mostra seu lado mais agressivo.

A dinâmica de andamentos, os encaixes dos arranjos musicais, tudo funciona perfeitamente, de forma espontânea, com uma vibração e energia que muitas vezes chega a surpreender o ouvinte. E isso é o que torna “HEart of the Ages” um disco único.


Qualidade sonora:

Nesse ponto, o grupo não foge do que as bandas da época faziam, ou seja, um “blend” da força, peso e crueza do Black Metal norueguês em termos de sonoridade. Mas sabendo que a música do quarteto precisava soar clara e inteligível para os ouvintes, Bjorn “Berserk” Harstad (o produtor) buscou algo que conseguisse ter clareza suficiente para tanto, mas sem que os tons instrumentais da banda deixassem sua sujeira natural.

Tal afirmação deixa claro que “HEart of the Ages” tem uma carga musical herdada do “true Norwegian Black Metal” de sua época, mas mesmo assim, com horizontes mais amplos.


Arte gráfica/capa:

Lembrando: esta é a primeira vez que “HEart of the Ages” recebe uma versão brasileira, que por si só já mostra diferenças.

A primeira é a existência de um “slipcase” de proteção da capa acrílica muito bem feita. O encarte foi todo reformulado, agora com as letras mais claras e inteligíveis que na versão original, brancas com um fundo preto, mas mantendo a fonte original, bem como suas linhas de rodapé. E é todo em papel envernizado brilhoso.

Trocando em miúdos: é a apresentação ideal para esse discão. E ainda tem pôster e um card que acompanham o CD, caso adquiram o disco na pré-venda.


Destaques musicais:

A verdade é que “HEart of the Ages” tem uma beleza estética que transcendeu os anos, e que continua tão envolvente quanto em Abril de 1995 (época de seu lançamento original). E além das sete canções da versão original, esta versão ainda tem um bônus.

“Yearning the Seeds of a New Dimension”: 12 minutos de puro prazer musical. Uma introspectiva e longa introdução de teclados precede uma parte calma e amena, focada em vocais limpos e foco nos teclados. Mas depois de dois versos, vem uma parte mais brutal, cheia de guitarras sujas em riffs rasgados e solos melodiosos, onde predominam vozes rasgadas, mas depois, mesmo ainda com distorção, vocais melodiosos surgem em uma sequência altamente envolvente e empolgante.

“HEart of the Ages”: Aqui, a coisa fica pesada e agressiva em um andamento lento e toques de Space Rock (por conta dos sintetizadores). Há algo do BATHORY da época de “Hammerheart” alinhavando a canção (provavelmente por conta das guitarras). Mas mesmo assim, existem partes mais Progressivas em diversos momentos.

“...In The Woods...”: Mesmo não tão longa assim, esta canção é dividida em 3 partes, com a primeira (“Prelude”) sendo puramente Black Metal na linha tradicional da Noruega, com guitarras bem agressivas. Na sequência, “Memories of...” vem em um meio termo entre o Black Metal tradicional e elementos de Rock Progressivo (muito devido aos vocais e backing vocals), com baixo e bateria mostrando serviço. “Epilogue” volta a ter prevalência ríspida e suja, mas com o andamento mais lento.

“Mourning the Death of Aase”: uma canção bem climática e introspectiva, como a introdução de “Yearning the Seeds of a New Dimension”, com muito foco nos teclados e tendo por diferencial o uso de belos vocais femininos, quase como em um lamento fúnebre.

“Wotan’s Return”: Agora se chega a 14 minutos de um verdadeiro festival de mudanças de ritmo, com prevalência de partes extremas (e de solos de guitarra técnicos), mas é bom notar que existe uma parte experimental no meio, algo bem soturno. Nela, o lado Progressivo realmente ficou oculto (a não ser pela boa técnica musical mostrada pelo quarteto).

“Pigeon”: segue a mesma linha Progressiva de “Mourning the Death of Aase”, com muita prevalência de teclados e pianos.

“The Divinity of Wisdom”: E lá vem outro gigante (mais de 9 minutos de duração), com momentos de riffs sujos e ríspidos sobre momentos mais Space Rock dos teclados, criando um início denso e melancólico. Óbvio que existem partes mais focadas na introspecção que são belíssimas, mas também aqueles outros em que a agressividade chega a saltar os olhos. E os vocais femininos mais uma vez dão aquele toque de beleza adicional.

“White Rabbit”: Esta é uma versão de um velho e conhecido “hit” do finado JEFFERSON AIRPLANE, que ficou mais pesada e densa devido à personalidade do quarteto norueguês. Mas não existem motivos para preocupação: esta não chega a alterar nada da versão original, mesmo com os acréscimos de teclados e distorção nas guitarras. E esta versão pertence a um Single do grupo, lançado em 1996 (no lado A, e no lado B está “Mourning the Death of Aase”).


Conclusão:

Enfim, o público brasileiro tem acesso a esse clássico do Avant-garde/Progressive Black Metal. E aproveitem, pois a versão nacional de “HEart of the Ages” é limitada a poucas cópias!

Ah, sim: como curiosidade, o IN THE WOODS... foi formado em 1991 por membros da formação original do GREEN CARNATION, banda fundada e liderada pelo guitarrista Tchort (ex-baixista do EMPEROR).


Nota: 100%


HEart of the Ages (álbum completo sem “White Rabbit”)



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