segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

STOMACHAL CORROSION - Stomachal Corrosion


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Intro
2. A Crutch
3. Mental Dispain
4. Horror Show
5. Subterrâneo
6. Two Centuries to You Die
7. Infinita Psicopatia
8. Moviment?           
9. Choice a Label
10. Life of Lies
11. No, Nothing
12. Shits Factory
13. You Fool
14. Ato Premeditado           
15. Alucinações Apoiando o Terror
16. Behavior
17. This Again
18. Mi Ne Kurbigu
19. Década de Dor
20. Maníaco Inimigo
21. As a Kick in Your Head           
22. I’m Arrogant


Banda:


Saulo Eustáquio - Vocais
Charlie Curcio - Guitarras, backing vocals
Hash Golem - Baixo
Fred Catarino - Bateria


Ficha Técnica:

Stomachal Corrosion - Produção
Cristiano Fucker - Produção, mixagem
André Scares - Masterização
Fernando Drowned - Artwork


Contatos:

Instagram:
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução: Na primeira metade dos anos 80, surgiu um filho extremo dentro do Metal que tem fascinado alguns, sido fonte de desgostos para outros, mas cujo valor o tempo já provou: o Grindcore. Nascido graças a bandas como NAPALM DEATH (os pioneiros), AGATHOCLES e REPULSION, o estilo surge de uma mistura de Hardcore, Thrash Metal e Death Metal, mas que tem o uso extremado de “blast beats” e outros elementos. E nesse terreno, ou é “ame ou odeie”, não existe meio termo. E o Brasil já revelou (bem como ainda revela) nomes fortes no gênero, sendo o STOMACHAL CORROSION, de Belo Horizonte (MG), um quarteto famigerado que acaba de lançar seu mais recente álbum, “Stomachal Corrosion”.

Análise geral: Simplesmente, Grindcore/Crust/Noisegrind na veia mais “Old School” possível, sem abrir concessões a nada que soe bonitinho. Aqui, a ogrice extrema à lá “Scum” e “From Enslavement to Obliteration” impera, embora não se possa dizer que eles não possuem algumas influências individuais de algo diferente (existem partes que remetem ao Death Metal dos anos 80, como se percebe nas passagens cadenciadas de “Horror Show”). Obviamente, não vai agradar a todos os fãs de música pesada que não gostam de Grindcore (ou que dizem não gostar sem nunca ter ouvido por mera infantilidade), mas para quem gosta de algo extremo, bruto e agressivo de doer os dentes, este é o disco certo!

Arranjos/composições: O ponto forte nas músicas do quarteto é justamente evitar refinamento técnico excessivo ou algo do tipo. É duro, cru e direto, sem firulas, e justamente por isso é tão bom, espontâneo e cujo único compromisso é gerar a impressão que existe uma furadeira elétrica desentupindo os ouvidos de uma forma, digamos, nada aconselhável. Mas não pense que a simplicidade técnica implica em algo repetitivo. Nada disso, é justamente nisso que reside a genialidade do quarteto: simples, direto e feito com o coração. É uma torrente de energia, e que gruda nos ouvidos!

Qualidade sonora: Os iniciados no gênero sabem muito bem que fazer superproduções no Grindcore não adianta. É preciso saber gerenciar a crueza sonora e agressividade com algo de boa qualidade. No caso do STOMACHAL CORROSION, eles mesmos junto com Cristiano Fucker fizeram um bom trabalho na produção, pois evitando fazer algo excessivamente limpo, sua música soa espontânea e cheia de vida. Mas isso não significa que é algo tosco e embolado, longe disso: tudo é compreensível, apenas soa rude e sujo porque é algo do gênero.

Arte gráfica/capa: Fernando “Drowned” Lima é o designer da arte do CD, e ele pegou a essência das letras e da música do grupo e lhes deu corpo. A capa vai rebuscar algo do AUTOPSY na arte, enquanto o encarte tem aquele jeitão de “Scum”, embora mais bem organizado e limpo.

Destaques musicais: 21 murros no nariz esperam o ouvinte, com canções curtas que mal chegam aos 2 minutos de duração (apenas duas passam dos 3 minutos). Mas dessa forma, não se torna enjoativo aos ouvidos em momento algum. E “A Crutch” (pancadaria extrema e insana, com urros guturais extremos e andamento entre a velocidade tradicional do Hardcore e outros mais Grindcore mesmo), “Mental Dispain” (ótimos riffs de guitarra, mostrando a essência Grind/Crust da banda), “Horror Show” (onde o NAPALM DEATH nas partes rápidas se encontra com o MORBID ANGEL nos momentos lentos, mostrando um trabalho muito bom de baixo e bateria), o jeito mais Crust com ritmos mais lentos de “Two Centuries to You Die”, a selvageria Hardcore/Grind de “Infinita Psicopatia” (vocais guturais urrados de primeira, herdando o jeitão extremo de Lee Dorrian do passado e “Barney” Greenway sem copiá-los), “Moviment?” (um tiro nos ouvidos de tão bom, outra em que o ritmo se alterna bastante), “No, Nothing” (como o quarteto sabe fazer músicas que grudam nos ouvidos, sendo essa bem arranjada e com variações vocais entre gutural e timbres esganiçados de primeira), “You Fool” (essa em uma pegada/vibe mais tradicional em termos de Grindcore, e reparem bem no jeitão HC do baixo e da bateria em muitas partes), “Alucinações Apoiando o Terror” (por ser uma das canções mais longas, ela possui um jeitão Grind/Death Metal à lá “Harmony Corruption”, mesmo com sua essência extrema), a curta e grossa “This Again”, “Década de Dor” (ótimas variações de ritmo e toques de influências do Thrash Metal germânico dos anos 80), a bruta e “na cara” “As a Kick in Your Head” (outra com toques de Thrash Metal, especialmente nos riffs de guitarra), e a cadenciada e azeda “I’m Arrogant” (que mostra a versatilidade e maturidade do grupo, justamente por fazerem algo mais lento e cadenciado).

Conclusão: Sabendo não se perder em meio aos tempos modernos, o STOMACHAL CORROSION veio para mostrar que continua vivo, selvagem e disposto a provocar surdez em muitos com “Stomachal Corrosion”. Mas aos fãs, é um belo presente!

Nota: 90%


AFFRONT - World in Collapse


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Intro - Dirty Blood
2. Your Lies, Your Fall
3. Favelas, Senzalas
4. Monument to Hate
5. There’s no Tomorrow
6. Violence
7. Ancestral
8. Forgotten by God
9. Sowed by Lies
10. World in Collapse
11. Mazurka


Banda:


M. Mictian - Vocais, baixo
R. Rassan - Guitarras
R. Lobato - Bateria


Ficha Técnica:

M. Mictian - Produção
R. Rassan - Produção
Ciero - Mixagem, masterização
Edu Nascimentto - Arte da capa


Contatos:

Site Oficial:
Instagram:
Assessoria:
E-mail: affrontmetal@gmail.com (imprensa/merchandising) / janisluanini@gmail.com (shows)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução: Entre os anos de 1986 e 1987, muitos fãs da época encararam alguns discos com muita desconfiança. Aqueles que faziam algo mais brutal começaram a abrir mão da agressividade desmedida em pró de uma sonoridade mais “internacionalizada” (ou seja, mais polida e trabalhada, e menos explosiva). Discos como “Beyond the Gates” do POSSESSED, “Eternal Devastation” do DESTRUCTION, “Terrible Certainty” do KREATOR, e “Persecution Mania” do SODOM marcam o início do que chamamos hoje de Thrash/Death Metal, ou seja, é o “caminho” que bandas de Death Metal e/ou Black Metal usaram para chegar ao Thrash Metal. Assim sendo, nesse meio termo, temos inúmeras bandas, entre elas o trio carioca AFFRONT nos surpreende em “World in Collapse”, seu segundo disco álbum.

Análise geral: O segundo play da banda mostra uma mudança no “line up” do trio: o baterista Jedy Nahay (que gravou “Angry Voices”) deu lugar a R. Lobato (conhecido por seu trabalho com nomes como ÂNSIA DE VÔMITO, MYSTERIIS, PROPHECY, TELLUS TERROR, UNEARTHLY, entre outros). De um lado, a banda ganhou um pouco mais de técnica, mas a brutalidade musical de antes dá espaço a algo mais seco e “rasgado” (um bom exemplo disso se percebe nos timbres dos vocais, que estão mais esganiçados que guturais, embora existam momentos em que eles estão evidentes), ao mesmo tempo em que a musicalidade ganhou maior ênfase melódica (como se percebe nos solos de guitarra). Ou seja, se for aferido que “Angry Voices” é um disco de Death/Thrash Metal (ou seja, a ordem mostra maior ênfase no lado Death Metal), “World in Collapse” mostra o trio em um formato mais Thrash/Death Metal, ou seja, mais trabalhado influenciado pela escola alemã. Mas se pode aferir que existem influências musicais externas que são percebidas com clareza na versão do grupo para “Mazurka”, um antigo chorinho de Villa Lobos.

Arranjos/composições: o que salta aos olhos é que, mesmo mantendo a coerência com sua personalidade musical, o trio soube trabalhar bem os seus arranjos, sem que a espontaneidade fosse perdida. A sonoridade mais seca evidencia o trabalho instrumental, mostrando que houve evolução no aspecto técnico, além de amadurecimento em termos melódicos. Além disso, apesar da agressividade inerente ao AFFRONT, “World in Collapse” mostra-se mais acessível, de melhor digestão.

Qualidade sonora: Para esse disco, o trabalho de M. Mictian e R. Rassan na produção foi muito bem feito. Gravado no Musicálico Studio no Rio de Janeiro, e com a mixagem e masterização de Ciero (conhecido produtor musical que já assinou trabalhos de nomes como RATOS DE PORÃO, KRISIUN, CLAUSTROFOBIA, TORTURE SQUAD e outros), os esforços deles resultou em uma qualidade sonora seca e ríspida, algo quase que oposto ao que se ouviu em “Angry Voices”. Nisso, temos que os instrumentos estão com timbres mais próximos do som ao vivo, sem muitos enfeites. Ponto para a banda, pois essa sonoridade encaixa no contexto musical de “World in Collapse”.

Arte gráfica/capa: O conhecido tatuador Edu Nascimento assina a capa do CD. Nela, transpira toda a revolta, a agressividade lírica do grupo, e serve como uma “carta de apresentação” ao conteúdo musical.

Destaques musicais: O nível de composição é bem distribuído por todo o disco, mas se destacam “Dirty Blood” (uma canção agressiva e veloz, com ótimos riffs e solos), a cadência envolvente de “Your Lies, Your Fall” (esta é cheia de energia, mostrando bons vocais e boas conduções rítmicas), a opressiva “Favelas, Senzalas” (rápida e com partes equilibradas entre Thrash Metal e Death Metal, além de lindas melodias), a explosiva “Monument to Hate” (uma solidez rítmica incrível, com momentos mais velozes aqui e ali, mas imperando uma ambientação opressiva devido aos andamentos cadenciados), a presença de toques de Groove no início de “Violence” (que logo se mostra um torpedo Thrash/Death Metal à lá anos 80), o ritmo envolvente de “Forgotten by God”, os toques percussivos nativos do Brasil em “Sowed by Lies” (algo próximo ao Frevo, sendo que a música tem um alinhavo denso e bem influenciado pelo Death Metal inglês em certos momentos), e a beleza curta de “Mazurka”, uma instrumental que encerra o disco quase que em uma forma de lamento.

Conclusão: mais maduro, e menos furioso; mais voltado ao Thrash Metal que ao Death Metal, “World in Collapse” vem para mostrar o quanto o AFFRONT ainda pode render, pois se renovam sem perder sua identidade.


Nota: 100%