segunda-feira, 15 de abril de 2019

REATTOR - Reattor


Ano: 2019
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Black Legion Productions, Under Machine, Headcrusher Produções, Fronteira Produções
Nacional


Tracklist:

1. Into the War (intro)
2. Trincheira
3. Thrash Command
4. Primavera Nuclear
5. The Red Witch


Banda:


D. Legions - Vocais
Cláudio Souza - Guitarras
Léo Freitas - Guitarras


Ficha Técnica:

Víctor Próspero - Produção, baixo
Diego Almeida - Bateria


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria: www.blacklegionprod.com (Black Legion Productions)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Hoje em dia, com a poeira baixando, é possível ter-se apenas as bandas que estão dispostas a fazer trabalhos em determinadas vertentes sonoras. Isso ocorre quando um subgênero de Metal começa a sair da evidencia, caso atual do Thrash Metal.

Sim, pois a moda do “revival do Thrash Metal” já está com sinais óbvios de cansaço, e apenas quem quer fazer o estilo está ficando, o que é ótimo para os fãs do gênero, já que a avalanche de lançamentos estava ficando difícil de acompanhar. E é bom ouvir um EP como “Reattor”, da banda REATTOR, de Diadema (SP).


Análise geral:

O quinteto é jovem, tendo apenas 5 anos de existência (embora seus integrantes já tenham experiência em outros grupos da região). Mas se percebe em “Reattor” que o quinteto tem talento, impondo um Thrash Metal vigoroso e cheio de energia, na veia do Thrash Metal germânico dos anos 80 (especialmente KREATOR da fase “Extreme Aggression”/”Coma of Souls”, e alguns toques de SODOM da fase de “Agent Orange”), alguns toques de EXODUS, e nuances de Death Metal estão presentes (como ficam evidentes em “Thrash Command”). Ou seja, é bruto, mas sempre com bom trabalho em termos técnicos.

Vocais esganiçados à lá Mille Petrozza (embora alguns “inserts” guturais possam ser ouvidos), uma dupla de guitarras com riffs empolgantes e solos caprichados, base rítmica sólida e com boa técnica (e esbanjando peso), e tudo soando unido. É para dar dor de pescoços, pois empolga o ouvinte!


Arranjos/composições:

Longe de buscar ser inovador, o quinteto mostra ótima diversidade técnica, sendo capaz de fugir do ponto comum e criar algo que realmente ganha o ouvinte com facilidade.

O segredo deles: o grupo não se nega o uso de partes que sejam alienígenas ao Thrash Metal, ganhando assim mais variações, bem como mostra a capacidade em criar ótimos arranjos. Sim, eles são bons demais, e o dinamismo de suas canções é para não deixar que os ouvintes acreditem que eles são uma banda comum. Embora ainda possam amadurecer mais, estão longe de serem apenas mais uma banda.


Qualidade sonora:

Gravado no Toca do Chico Preto Studio, em São Bernardo do Campo (SP), sob a tutela do músico e produtor Víctor Próspero (que gravou as partes de baixo por conta dos problemas de saúde do ex-baixista Ricardo “Thrash” Costa), a sonoridade do EP é de um nível muito bom, soando claro e agressivo, mas de forma que se pode entender o que eles estão tocando.

Além disso, os timbres instrumentais foram escolhidos de forma que o EP soe agressivo e com certo toque de crueza, mas sem passar do ponto.

Poderia ser melhor, mas está de bom nível.


Arte gráfica/capa:

A capa é simples, direta, mostrando um reator nuclear com uma pessoa se protegendo contra a radiação. E essa arte tão simples traduz bastante a musicalidade da banda: cheia de energia e difícil de resistir!


Destaques musicais:

REATTOR
O grupo não tem por intenção renovar o Thrash Metal, mas por outro lado não aceita ser apenas mais um no meio de tantos. As canções de “Reattor” mostram elementos que podem ser mais explorados em trabalhos futuros, e assim, lapidando a personalidade do quinteto. Mas o que se ouvem nas 4 faixas do EP é um grupo que não tem por conformidade por meta de vida, ou seja, fazer mais do mesmo apenas para agradar certos setores da cena.

“Trincheira”: Uma faixa com boas mudanças de ritmo, agressiva e cheia de energia, daquelas que incitam o slamdancing facilmente. Cheia de bom trabalho técnico, se destacam baixo e bateria pelo peso e diversidade rítmica.

“Thrash Command”: Outra em que a pancadaria come solta, cheia de arranjos ganchudos, muita energia e empolgação, e mesmo algumas partes bem Death Metal surgem aqui e ali. As guitarras estão excelentes, com riffs fortes e solos caprichados.

“Primavera Nuclear”: Novamente trechos oriundos do Death Metal em termos de ritmo surgem, mas em geral é uma canção com tempos não muito velozes, mas com uma pegada daquelas que faz a cabeça balançar sozinha. Destaque para os contrastes dos vocais rasgados com os guturais.

“The Red Witch”: Força e peso bem acima da média, apresentando boa técnica, além daquela energia espontânea que embala o ouvinte. Mas existem alguns toques mais técnicos aqui e ali que tornam a audição um prazer.

Aliás, as letras ds canções são ótimas, falando de temas como o acidente nuclear de Chernobil (“Primavera Nuclear”), a psicopata Ilse Koch, esposa de Karl Otto Koch, comandante dos campos de extermínio de Buchenwald e Majdanek (“The Red Witch”), guerra (“Trincheira”), e mesmo a dureza da vida cotidiana dos fãs de Metal (“Thrash Command”).


Conclusão:

“Reattor” vem para mostrar que o Thrash Metal ainda tem muita lenha para queimar, e que o REATTOR é um nome bastante promissor do cenário brasileiro.

Só uma crítica: bem que “Reattor” poderia ser um álbum, pois a sensação de “quero mais” é inevitável...

Em tempo: o baterista Diego Almeida foi efetivado na banda após as gravações, e no baixo entrou Beto Júnior.


Nota: 8,4/10,0


Trincheira



The Red Witch


UGANGA - Servus


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Anno Domini (intro)
2. Servus
3. Medo
4. O Abismo
5. Dawn
6. Hienas
7. 7 Dedos (Seu Fim)
8. Couro Cru
9. Imerso     
10. Lobotomia
11. Fim de Festa
12. E.L.A.
13. Depois de Hoje...


Banda:


Manu Joker - Vocais
Murcego González - Guitarras
Christian Franco - Guitarras
Thiago Soraggi - Guitarras
“Ras” Franco - Baixo, vocais
Marco Henriques - Bateria


Ficha Técnica:

Manu Joker - Produção
Gustavo Vasquez - Produção, mixagem, masterização
Wendell Araújo - Artwork (capa e contracapa)
Marco Henriques - Artwork (encarte)


Contatos:

Site Oficial: www.uganga.com.br
Assessoria: www.somdodarma.com.br (Som do Darma)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Em geral, as más experiências com bandas geram desânimo, fraqueza, desistência, e então, o fim. Muitos cansam de apanhar dentro do cenário, seja no Brasil ou no exterior, pois fazer música (e tentar viver dela) nunca é algo simples. Mas existem bandas que não aceitam, não se rendem, e usam o caos e provações para se fortalecer e criar música.

Neste grupo, sem sombra de dúvidas, está o sexteto mineiro UGANGA, das férteis terras de Minas Gerais que, depois de realizar um exorcismo de emoções negativas e frustrações no DVD “Manifesto Cerrado”, enfim lança seu quinto álbum, “Servus”.


Análise geral:

Chamar o trabalho do grupo meramente de Thrashcore ou Crossover não lhe faz justiça. Se uma análise da música do sexteto for feita de forma mais profunda, serão percebidos traços de estilos não convencionais (e mesmo alienígenas ao Metal) no meio desse caldeirão musical/cultural que é o trabalho deles. O que se sente nas canções de “Servus” é que a liberação de emoções vista no DVD lhes fez bem.

Sim, até demais, pois apesar do estilo musical ainda ser o mesmo conhecido desde seus primeiros trabalhos, o sexteto soa mais coeso e evoluído, e bem mais solto. Mesmo porque a adição de uma terceira guitarra (com a entrada de Murcego González) deu mais “punch”, mais peso e agressividade, mas ajudou a aglutinar mais influências e certo “groove” ao som do sexteto.

Basicamente, quem já gostava do UGANGA antes, vai continuar gostando; quem não gostava até agora, precisa lhes dar uma chance.


Arranjos/composições:

A essência Thrashcore do grupo é evidente, puxando-os para algo mais direto e reto, mas quando o arcabouço de influências individuais começa a surgir, as músicas vão ganhando mais e mais diversidade em termos de arranjos. O ritmo continua sendo um dos pontos fortes do grupo: justamente por ter um amplo espectro de influências musicais, a diversidade rítmica é enorme.

Os vocais são, como sempre, muito bons. O uso dos timbres agressivos normais é entremeado por urros guturais aqui e ali, fora os backing vocals (que lembram aqueles usados por bandas de Hardcore “Old School”). As guitarras estão ótimas como sempre, mostrando um peso e agressividade, mas sem perder a noção melódica e certo groove latino.

E se preparem, pois eles podem ir de CRO-MAGS a LED ZEPPELIN com direito a toques à lá PANTERA em uma mesma canção de poucos minutos sem pudores. Mas quem conhece esses mineiros, não esperaria outra coisa.


Qualidade sonora:

Gravado, mixado e masterizado no Brasil, “Servus” soa ríspido e cru nas medidas certas para ter o “feeling” orgânico que o grupo tanto busca, mas sem abrir mão de algo feito com qualidade. Sim, tudo soa claro, intenso e pesado.

Mas existe um “segredo” no som do grupo: nada é gravado de forma a buscar os tons instrumentais mais absurdos possíveis. Longe disso: tudo é gravado da forma em que o UGANGA pode reproduzir ao vivo, ou seja, fogem de excessivas edições digitais. Soar cru e com qualidade é isso.


Arte gráfica/capa:

Feita em um digipak muito bonito, a arte de Wendell Araújo evoca a aura rebelde do Hardcore, mas ao mesmo tempo, invocando elementos de ancestralidade afro-brasileira (a figura da capa remete diretamente aos cultos de Cadomblé, Umbanda e outras vertentes da religiosidade em questão).


Destaques musicais:

UGANGA
Se a música do grupo mostra diversidade, não há pelo que se assustar, pois todas as canções de “Servus” soam coesas e consensuais. Talvez seja o disco mais evoluído, denso e pesado do grupo, mas não é nem de longe simples.

Melhores canções:

“Servus”: O ritmo em geral não é veloz, com ótimas conduções e backing vocals à lá H.C.N.Y. Mas existem partes bem “sabbáthicas” em alguns momentos (onde os vocais ganham tons mais amenos), partes de “1X1” herdadas do Crossover, e mesmo solos melódicos.

“Medo”: Hardcore à lá CRO-MAGS com o peso de partes mais cadenciadas e mesmo técnicas surgem. É uma música mais simples, direta e empolgante, graças às harmonias bem feitas.

“O Abismo”: Fugindo um pouco do Thrashcore, esta é uma canção longa e de andamento cadenciado, mas empolgante e cheia de ótimas melodias. As guitarras estão excelentes nos riffs, os solos são caprichados, esbanjando toques mezzo Tony Iommi, mezzo Southern Rock. Mas o peso da base baixo-bateria é incrível.

“Hienas”: Uma mistura de Thrashcore com Crossover e a adição pontual de elementos de Death Metal se faz presente, juntamente com momentos percussivos bem encaixados (juntamente com vocais cantando em uma entonação típica do Rapcore). Criativa e esmagadora de ossos.

“7 Dedos (Seu Fim)”: De cara, tem-se um ritmo mais voltado ao Hardcore europeu do início dos anos 80, mas logo surgem partes mais cadenciadas e remetendo ao Metal/Hardcore moderno. Outro ótimo momento da base rítmica, que dá peso e fluência à canção.

“Imerso”: Thrashcore com toques “grooveados” brasileiros de muito bom gosto. É uma canção permeada por uma aura agressiva de bruta, destilando revolta e peso ao mesmo tempo.

“Lobotomia”: Puro Hardcore à lá “Brazilian Way”, pois é uma versão do clássico do grupo paulista LOBOTOMIA. Mas esse “ramake” deles respeitou a original, logo, é uma faixa simples, direta, e agressiva até os dentes.

“E.L.A.”: “Scratches” e batidas programadas se mistura com viola caipira, além de vocais cantados em ritmo de Rap e MPB, e mesmo a presença de vocais femininos é perfeita. É um momento mais experimental, muito bem feito e que ajuda a dar uma folga aos ouvidos.

“Depois de Hoje...”: outra faixa bem experimental, com certo toque de Space Rock, com passagens mais lentas e efeitos eletrônicos. Mas a expressividade densa e agressiva dada pelos vocais ríspidos e riffs brutos.


Conclusão:

Uma verdade no final das contas: “Servus” é realmente fruto de todo processo de superação visto em “Manifesto Cerrado”, bem como uma resposta se a banda deveria ou não continuar (dúvida que eles tiveram na época).

E, diga-se de passagem: ainda bem que continuaram, pois a energia que flui desse disco mostra que o UGANGA é daqueles que faz falta demais.

Nota: 9,7/10,0

Servus



Spotify