Ano: 2018
Tipo: Full
Length
Selo: Independente
Nacional
Tracklist:
1. Internal
Peace
2. Stay with
Me
3. Open
Door
4. Something
to Learn
5. Purpose
of Life
6. Believe
7. Deep
Breath
8. Eyes of
Creation
9. Wake Up
Banda:
Raphael Olmos - Guitarras,
vocais, samplers, violão
Allan Malavasi - Baixo,
vocais
Isabela Moraes - Bateria
Ficha Técnica:
Guilherme Malosso - Produção, gravação, engenharia, edição, mixagem e masterização
Yuri Camargo - Assistente de gravação
Corentin Charbonnier - Harpa em “Internal
Peace”
Simon Pascual - Gravação
da harpa em “Internal Peace”
Victor Martins - Didgeridoo em “Purpose in Life”
Marcus Dotta - Bateria em “Deep Breath”
Contatos:
Site Oficial:
Facebook: https://www.facebook.com/kamalaofficial/
Twitter:
Instagram: https://www.instagram.com/KamalaOfficial/
Bandcamp:
Assessoria:
E-mail: kamalaofficial@gmail.com
Texto: Marcos Garcia
Há dias em que este autor para e reflete: em mais de 30 anos
dedicados ao Metal, poucas vezes vi um momento tão ruim em termos de
mentalidade dentro do cenário.
A mentalidade atual é destrutiva, quase que orientada à automutilação,
à destruição interna de cada um de nós. Sinceramente, já está cansativo ver as
repetições das fábulas à lá “Dungeons
& Dragons” e mitologia de J. R.
R. Tolkien, os temas de críticas sociais (que muitas vezes possuem uma
orientação política, e o homem em si é deixado de lado), ou a infantilidade do
paganismo/satanismo que muitos teimam (sinceramente, falar nesse tipo de coisa é
admitir que não tem mais o que dizer).
Onde foi parar a força positiva que sentíamos nos anos 80 e
90? E quando foi que o Metal virou um velho senil que repete a mesma ladainha
chata? Onde foram parar as criticas legais e bem feitas de bandas como RUNNING WILD, HELLOWEEN e GAMMA RAY (pois Kai Hansen sempre teve um alto astral que transpirava em suas
músicas e letras)? Se não fossem nomes como GOJIRA, e alguns poucos, que realmente têm algo construtivo a
dizer, o Metal já estaria usando um Papa Nicolau há anos. E no Brasil, há um
representante digno dessa positividade construtiva: o trio KAMALA, de Campinas (SP). E dois anos após “Mantra”, e precedido pelo ótimo EP “Consequences Of Our Past - Vol 1”, eles nos brindam com mais um
discão: “Eyes of Creation”.
A banda teve uma mudança na formação: saiu o baterista Estevan Furlan, e em seu lugar, entrou Isabela Moraes, que manteve a pegada Thrasher da banda intacta. E musicalmente, o KAMALA está mais amadurecido, com uma
agressividade mais enxuta (como se pode ouvir em “Fractal” e “The Seven
Deadly Chakras”) e uma noção melodiosa bem mais apurada. Óbvio que a
brutalidade da banda diminuiu, mas esse lado mais encorpado é mais uma bela face
da musicalidade do trabalho deles que é exposta. O trabalho técnico continua
vibrante, mas emoldurada por aquilo que cada música pede. Não há excessos, mas
ao mesmo tempo, não é algo simplório.
Traduzindo: “Eyes of
Creation” é um passo adiante, olhando para o futuro de cabeça erguida e
olhos abertos.
A sonoridade do disco ficou bem mais seca e direta, com
timbres instrumentais mais bem definidos. Tudo para que as músicas soem claras
e compreensíveis aos nossos ouvidos, ao mesmo tempo em que as melodias ficaram evidenciadas.
Mas mesmo assim, há um toque “alive”, já que durante os solos, não existem
linhas de guitarra base sob eles. Um trabalho ótimo, digamos de passagem. E a
arte é muito bonita, com tons não comuns na capa, e uma diagramação inteligente
no encarte.
Se “Mantra” é um
disco brutal e com muitos toques de Death Metal, “Eyes of Creation” é mais espontâneo, melodioso e burilado. Os
refrões são de assimilação fácil (mesmo em um formato musical tão agressivo), e
existem toques experimentais e diferenciados, como a participação de harpas (em
“Internal Peace”), mais uma vez o
som de didgeridoo é ouvido (em “Purpose
in Life”). Partes acústicas também enriquecem o disco, logo, se preparem,
pois o KAMALA está com fome de fazer
música!
Nove torpedos compõem o repertório de “Eyes of Creation”, todas com suas belezas e particularidades.
O começo de “Internal
Peace” é suave, com guitarras acústicas melodiosas, mas logo vem toda fúria
Thrasher do trio, com tempos excelentes, refrão grudento e um trabalho muito
bom de baixo e bateria. Já usando de um “insight” um pouquinho mais técnico,
temos “Stay With Me”, com ótimos
tempos e riffs (daqueles cheios de groove moderno). E falando em modernidade, “Open Door” mostra uma ambientação mais
abrasiva, e com excelente trabalho dos vocais (os dois vocais ficaram bem
encaixados, complementando um ao outro em um contraste muito agressivo). Já em “Something to Learn”, temos algumas
passagens mais acessíveis, vindas de influências mais melódicas do grupo, e que
encaixaram como uma luva no trabalho da banda. O som de didgeridoo é ouvido no
início de “Purpose in Life”, outra
em que o peso se baseia em um andamento denso e pesado (reparem como as
narrativas com efeitos reforçam o peso azedo da canção). Melodias cheias de
groove e transpirando modernidade são os elementos da ótima “Believe” (outra com um trabalho
excelente de baixo e bateria), os mesmos elementos que permeiam “Deep Breath” (onde se ouvem partes
experimentais, e a bateria é tocada por Marcus
Dotta). Mesmo mostrando uma agressividade rasgada e evidente, “Eyes of Creation” é outra canção onde
melodias acessíveis aparecem, e são daquelas que qualquer fã de Metal pode
assimilar facilmente. E fechando, cheia de melodias mais introspectivas, e com uma
ambientação densa, temos “Wake Up”, o
perfeito encontro de linhas melódicas bem estruturadas e um toque de
agressividade moderna (reparem bem nas guitarras e vocais). E por trás de cada uma das músicas, letras que visam construir, protestar, mas sempre com uma ótima positiva.
Em “Eyes of Creation”,
o KAMALA mostra que é mais uma banda
cuja música não cabe mais no Brasil. E a banda já se prepara para mais um giro
pelo Velho Continente!
Nota: 100%
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