terça-feira, 30 de abril de 2019

WOSLOM - Paranoia


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Paranoia
2. Game Over
3. Suffering Myself
4. High Voltage


Banda:


Silvano Aguilera - Guitarras, vocais
Rafael Iak - Guitarras
André G. Mellado - Baixo
Fernando Oster - Bateria


Ficha Técnica:

Woslom - Produção
Diego Rocha - Produção, mixagem
Neto Grous - Masterização
Alex Spike - Artwork (capa)


Contatos:

Site Oficial: www.woslom.com
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

O que pode ser chamado de “Classic Thrash Metal” é aquilo que algumas bandas fazem e que remete diretamente aos anos 80, em especial à bandas como METALLICA, MEGADETH e ANTHRAX, bandas que sedimentaram as vertentes mais trabalhadas e melódicas desse gênero de Metal específico.

No Brasil, felizmente existem ótimos representantes do gênero, como o quarteto WOSLOM, de São Paulo, que depois de uns tempos quieto em termos de lançamento chega com “Paranoia”, seu novo EP, para matar a vontade de seus fãs. Aliás, é bom avisar que o EP será lançado oficialmente em 20 de Maio próximo.


Análise geral:

Basicamente, todas as lições que a banda aprendeu em seus discos anteriores (os álbuns “Time to Rise” de 2010, “Evolustruction” de 2013, e “A Near Life Experience” de 2016), e a experiência consegue mostrar consensualidade com o passado, mas com os olhos no futuro. Em “Paranoia”, o lado mais melodioso da época de “Evolustruction” está evidenciado, bem como algo mais próximo do Metal tradicional em termos de melodias, e mesmo de Rock ‘n’ Roll (como se percebe nos refrães e algumas partes mais simples e grudentas).

Basicamente, shows, discos e tudo mais só lapidou o grupo, transformando sua música em algo que não cabe mais no Brasil.

WOSLOM ao vivo.

Arranjos/composições:

Quem conhece a banda já sabe o que esperar de seus arranjos: tudo muito bem feito, com ótima dinâmica entre instrumental e vozes, mas agora, adicionado a isso existe um “feeling” de espontaneidade ainda maior, e mesmo certo despojamento (sem ser algo relaxado). Aliás, isso só aumentou o clima mais Rock ‘n’ Roll visceral que andava dando as caras na música deles há algum tempo.

Os vocais estão cada vez melhores, se encaixando muito bem e com boa dicção, as guitarras nem é necessário comentários mais profundos, pois os riffs são sensacionais (e os solos estão ótimos), e a base rítmica andou melhorando, já que o entrosamento entre baixo e bateria está de alto nível.


Qualidade sonora:

O Bay Area Studio é o local onde “Paranoia” foi gravado e mixado. E assim como aconteceu em “A Near Life Experience”, a sonoridade mostrada é algo mais direto, seco e direto, sem muitos enfeites. Mas é justamente assim que tudo se encaixa perfeitamente, sem muita masturbação digital, o que permite que a energia bruta da música da banda flua intensa e selvagem. Ou seja, assim as músicas soam vivas aos ouvidos.

Aliás, mesmo com isso, a mixagem e a masterização (esta última feita por Neto Grous no Absolute Studio) deram uma vida e tanto ao trabalho. Soa espontâneo, pesado e de bom gosto.


Arte gráfica/capa:

Indo um pouco no sentido oposto ao que a banda vinha apresentando, a arte de Alex Spike para a capa é bem simples, com poucas cores. Mas isso permite que os fãs foquem sua atenção apenas na música do quarteto (o que é o mais importante).


Destaques musicais:

Paranoia: Esta canção tem uma pegada mais seca e agressiva que remete diretamente ao que se ouve em “A Near Life Experience”. E os vocais estão muito bem, embora o trabalho de baixo e bateria esteja ótimo.

Game Over: Aqui, existem passagens Thrash Metal do final dos anos 80 à lá MEGADETH (mas não tão técnico), mas a adrenalina Rock ‘n’ Roll com um jeitão “motorheadiano” encaixou como uma luva. Refrão de primeira, baixo e bateria desencadeando um peso absurdo na base rítmica, e um solo de guitarras de primeira.

Suffering Myself: Outra em que elementos de Rock ‘n’ Roll sujo dão as caras, em tempos não muito velozes e um refrão grudento como ele só. Os riffs de guitarra estão mais técnicos em alguns pontos, os solos esbanjam melodia mais uma vez, alguns duetos de guitarra à lá NWOBHM e é uma faixa para bater cabeça, pois o torcicolo é o limite (ou não).

High Voltage: E lá vêm eles mostrando de onde vem o lado Rock sujo que se sente no EP. Esse velho clássico do AC/DC ganhou uma vida nova nas mãos deles, mas sem perder sua essência. Ótimos vocais, com baixo e bateria criando um “algo a mais” (as conduções nos dois bumbos e os toques mais técnicos das quatro cordas são exemplos disso). Bon Scott e Malcolm Young devem estar aplaudindo do outro mundo esses pupilos deles.


Conclusão:

A verdade é simples: o WOSLOM tem tudo para ser um dos grandes nomes do Metal brasileiro no exterior, pois já estão em outro nível. Resta apenas desejar-lhes boa sorte, e que “Paranoia” lhes abra as portas (e que saia em versão física, óbvio).


Nota: 96,0/100,0


Paranoia


segunda-feira, 29 de abril de 2019

FUSION BOMB - Concrete Jungle


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Importado


Tracklist:

1. Zest of Scorn
2. Knuckleburger
3. Concrete Jungle
4. You're a Cancer to This World
5. Blazing Heat
6. T.M.N.A.
7. Bird of Prey
8. Nyctophobia
9. Slam Tornado
10. I Never Denied (Excel Cover)


Banda:


Miguel “Texasranger” Teixeira Sousa - Guitarras, vocais
Luc “Lanthanoid Lazer-Dazer” Bohr - Guitarras
Michel “Nippel” Remy - Baixo, vocais
Scott “Thrash” Kutting - Bateria


Ficha Técnica:

Fusion Bomb - Produção
Chris “Zeuss” Harris - Mixagem, masterização
Devon Whitehead - Artwork (capa)


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria:

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

O Metal é, por essência, um rebelde. Nunca se pensa que ele é algo, apenas se aceita que existe um amplo espectro de ideias e pensamentos que permeiam o mesmo. Se você se acha headbanger e ainda não acordou para esta verdade, está no estilo musical errado.

Aliás, a nova geração do Thrash Metal parece estar antenada com a rebeldia e não aceita rótulos, e de Luxemburgo, eis que surge o promissor FUSION BOMB, um quarteto destruidor de ouvidos que chega com seu primeiro “full length”, o esmaga-ossos chamado “Concret Jungle”.


Análise geral:

Musicalmente, o FUSION BOMB rebusca os valores do Thrash Metal/Crossover dos anos 80, só que dando uma modernizada, ganhando uma velocidade e energia absurda em certos momentos. Basicamente, pode-se dizer que eles pertencem à escola de nomes como EXODUS, D.R.I., NUCLEAR ASSAULT e outros do gênero, ou seja, peso, agressividade e uma carga sonora tão agressiva que chega a doer os tímpanos!

Mas diferente de muitos que só clonam o que já foi feito, o quarteto mostra personalidade, destilando uma forma de música envolvente e capaz de causar dores de pescoço crônicas!


FUSION BOMB
Arranjos/composições:

A bem da verdade, os anos de luta no underground ajudaram a polir suas composições. É evidente que não sejam uma banda que foque na técnica, eles sabem criar aqueles arranjos que grudam nos ouvidos e não saem mais. Além disso, calibram muito bem cada refrão, esbanjam melodias bem sacadas e equilibram bastante o peso com a agressividade.

Aliás, é um ciclone de vocais agressivos em timbres normais, riffs e mais riffs excelentes, além de baixo e bateria mostrando uma base rítmica diversificada e pesada. Um deleite aos ouvidos!

Mas não é apenas isso: eles não são de ficar mexendo demais e criando infinitas passagens. Tem horas que são tão diretos que chega a saltar os olhos como conseguem fazer algo tão bom em canções de tão curta duração...


Qualidade sonora:

É algo bem caprichado, pois consegue aliar todos os elementos da Velha Guarda com uma sonoridade moderna e poderosa, mas que não tira a energia crua de suas músicas. Mas isso mostra que não existiram infinitas edições sonoras, muito pelo contrário: parece que só entraram no estúdio, regularam os instrumentos e desceram a lenha sem dó! Mais um trabalho de primeira de Chris “Zeuss” Harris.


Aliás, a escolha dos timbres sonoros foi muito feliz, pois se consegue compreender cada instrumento separadamente.


Arte gráfica/capa:

Quem está acostumado ás velhas capas dos discos de Thrash metal dos anos 80 vai babar nessa. A arte é totalmente retro, um trabalho muito bom de Devon Whitehead.

Capa de “You’re a Cancer to This World”

Destaques musicais:

Rápido e agressivo, mas bem feito e espontâneo, o que se ouve em “Concrete Jungle” é um autêntico ataque de 10 torpedos do mais puro Thrash Metal. E embora o disco inteiro se torne um vício nas primeiras audições, destacam-se:

“Zest of Scorn”: uma canção rica em variações rítmicas, com alternância de velocidade, o que significa que baixo e bateria estão mostrando serviço (além da presença de ótimos backing vocals).

“Concrete Jungle”: mais cadenciada, é outra que a banda mostra sua veia Thrash Metal nos moldes do que é feito na cena de Nova York. E os solos de guitarra são muito bons.

“You’re a Cancer to This World”: Single digital que precedeu o lançamento do disco. Um típico Crossover (inclusive com partes de guitarra que evidenciam isso), com muita agressividade sonora e excelente refrão, e que vai causar polêmica entre os militantes do politicamente correto. Aliás, ótimo isso acontecer, para mostrar que o Metal dispara para cima de tudo e todos!

“T.M.N.A.”: outro Thrash Metal/Hardcore curto e grosso, direto e reto, com ótima alternância entre os timbres vocais agressivos costumeiros e urros guturais. Mas não se enganem: existe boa mudança de tempos nos quase 2 minutos de duração!

“Bird of Prey”: mais lenta e bem trabalhada, é a típica canção para bater cabeça, preenchida por um conjunto de riffs que grudam nos ouvidos e não same mais.

“Slam Tornado”: um coice Crossover bem dado nos tímpanos, com uma energia absurda, bom nível técnico e refrão marcante. Outra em que os vocais e as guitarras mostram excelente forma.

“I Never Denied”: a saideira é uma versão do quarteto para uma velha canção de um dos pioneiros do Crossover norte-americano, o EXCEL, vinda do disco mais famoso deles, “The Joke’s on You” de 1989. E que guitarras!



Conclusão:

Basicamente, o FUSION BOMB é uma das revelações do ano de 2019, mostrando em “Concrete Jungle” que eles estão no mesmo nível criativo que nomes como HAVOK, LAZARUS A.D. e SUICIDAL ANGELS, e que merecem respeito de todos os thrashers.

Além disso, com “You’re a Cancer to This World” (cuja capa está acima) eles mostram que o Metal não é domínio de um discurso político/militante único, não importando o quem quer que seja diga. E isso chama-se liberdade de expressão, logo, acostumem-se à ela.


Nota: 93,0/100,0


You’re a Cancer to This World



Slam Tornado



Spotify

segunda-feira, 15 de abril de 2019

REATTOR - Reattor


Ano: 2019
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Black Legion Productions, Under Machine, Headcrusher Produções, Fronteira Produções
Nacional


Tracklist:

1. Into the War (intro)
2. Trincheira
3. Thrash Command
4. Primavera Nuclear
5. The Red Witch


Banda:


D. Legions - Vocais
Cláudio Souza - Guitarras
Léo Freitas - Guitarras


Ficha Técnica:

Víctor Próspero - Produção, baixo
Diego Almeida - Bateria


Contatos:

Site Oficial:
Assessoria: www.blacklegionprod.com (Black Legion Productions)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Hoje em dia, com a poeira baixando, é possível ter-se apenas as bandas que estão dispostas a fazer trabalhos em determinadas vertentes sonoras. Isso ocorre quando um subgênero de Metal começa a sair da evidencia, caso atual do Thrash Metal.

Sim, pois a moda do “revival do Thrash Metal” já está com sinais óbvios de cansaço, e apenas quem quer fazer o estilo está ficando, o que é ótimo para os fãs do gênero, já que a avalanche de lançamentos estava ficando difícil de acompanhar. E é bom ouvir um EP como “Reattor”, da banda REATTOR, de Diadema (SP).


Análise geral:

O quinteto é jovem, tendo apenas 5 anos de existência (embora seus integrantes já tenham experiência em outros grupos da região). Mas se percebe em “Reattor” que o quinteto tem talento, impondo um Thrash Metal vigoroso e cheio de energia, na veia do Thrash Metal germânico dos anos 80 (especialmente KREATOR da fase “Extreme Aggression”/”Coma of Souls”, e alguns toques de SODOM da fase de “Agent Orange”), alguns toques de EXODUS, e nuances de Death Metal estão presentes (como ficam evidentes em “Thrash Command”). Ou seja, é bruto, mas sempre com bom trabalho em termos técnicos.

Vocais esganiçados à lá Mille Petrozza (embora alguns “inserts” guturais possam ser ouvidos), uma dupla de guitarras com riffs empolgantes e solos caprichados, base rítmica sólida e com boa técnica (e esbanjando peso), e tudo soando unido. É para dar dor de pescoços, pois empolga o ouvinte!


Arranjos/composições:

Longe de buscar ser inovador, o quinteto mostra ótima diversidade técnica, sendo capaz de fugir do ponto comum e criar algo que realmente ganha o ouvinte com facilidade.

O segredo deles: o grupo não se nega o uso de partes que sejam alienígenas ao Thrash Metal, ganhando assim mais variações, bem como mostra a capacidade em criar ótimos arranjos. Sim, eles são bons demais, e o dinamismo de suas canções é para não deixar que os ouvintes acreditem que eles são uma banda comum. Embora ainda possam amadurecer mais, estão longe de serem apenas mais uma banda.


Qualidade sonora:

Gravado no Toca do Chico Preto Studio, em São Bernardo do Campo (SP), sob a tutela do músico e produtor Víctor Próspero (que gravou as partes de baixo por conta dos problemas de saúde do ex-baixista Ricardo “Thrash” Costa), a sonoridade do EP é de um nível muito bom, soando claro e agressivo, mas de forma que se pode entender o que eles estão tocando.

Além disso, os timbres instrumentais foram escolhidos de forma que o EP soe agressivo e com certo toque de crueza, mas sem passar do ponto.

Poderia ser melhor, mas está de bom nível.


Arte gráfica/capa:

A capa é simples, direta, mostrando um reator nuclear com uma pessoa se protegendo contra a radiação. E essa arte tão simples traduz bastante a musicalidade da banda: cheia de energia e difícil de resistir!


Destaques musicais:

REATTOR
O grupo não tem por intenção renovar o Thrash Metal, mas por outro lado não aceita ser apenas mais um no meio de tantos. As canções de “Reattor” mostram elementos que podem ser mais explorados em trabalhos futuros, e assim, lapidando a personalidade do quinteto. Mas o que se ouvem nas 4 faixas do EP é um grupo que não tem por conformidade por meta de vida, ou seja, fazer mais do mesmo apenas para agradar certos setores da cena.

“Trincheira”: Uma faixa com boas mudanças de ritmo, agressiva e cheia de energia, daquelas que incitam o slamdancing facilmente. Cheia de bom trabalho técnico, se destacam baixo e bateria pelo peso e diversidade rítmica.

“Thrash Command”: Outra em que a pancadaria come solta, cheia de arranjos ganchudos, muita energia e empolgação, e mesmo algumas partes bem Death Metal surgem aqui e ali. As guitarras estão excelentes, com riffs fortes e solos caprichados.

“Primavera Nuclear”: Novamente trechos oriundos do Death Metal em termos de ritmo surgem, mas em geral é uma canção com tempos não muito velozes, mas com uma pegada daquelas que faz a cabeça balançar sozinha. Destaque para os contrastes dos vocais rasgados com os guturais.

“The Red Witch”: Força e peso bem acima da média, apresentando boa técnica, além daquela energia espontânea que embala o ouvinte. Mas existem alguns toques mais técnicos aqui e ali que tornam a audição um prazer.

Aliás, as letras ds canções são ótimas, falando de temas como o acidente nuclear de Chernobil (“Primavera Nuclear”), a psicopata Ilse Koch, esposa de Karl Otto Koch, comandante dos campos de extermínio de Buchenwald e Majdanek (“The Red Witch”), guerra (“Trincheira”), e mesmo a dureza da vida cotidiana dos fãs de Metal (“Thrash Command”).


Conclusão:

“Reattor” vem para mostrar que o Thrash Metal ainda tem muita lenha para queimar, e que o REATTOR é um nome bastante promissor do cenário brasileiro.

Só uma crítica: bem que “Reattor” poderia ser um álbum, pois a sensação de “quero mais” é inevitável...

Em tempo: o baterista Diego Almeida foi efetivado na banda após as gravações, e no baixo entrou Beto Júnior.


Nota: 8,4/10,0


Trincheira



The Red Witch


UGANGA - Servus


Ano: 2019
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Anno Domini (intro)
2. Servus
3. Medo
4. O Abismo
5. Dawn
6. Hienas
7. 7 Dedos (Seu Fim)
8. Couro Cru
9. Imerso     
10. Lobotomia
11. Fim de Festa
12. E.L.A.
13. Depois de Hoje...


Banda:


Manu Joker - Vocais
Murcego González - Guitarras
Christian Franco - Guitarras
Thiago Soraggi - Guitarras
“Ras” Franco - Baixo, vocais
Marco Henriques - Bateria


Ficha Técnica:

Manu Joker - Produção
Gustavo Vasquez - Produção, mixagem, masterização
Wendell Araújo - Artwork (capa e contracapa)
Marco Henriques - Artwork (encarte)


Contatos:

Site Oficial: www.uganga.com.br
Assessoria: www.somdodarma.com.br (Som do Darma)

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução:

Em geral, as más experiências com bandas geram desânimo, fraqueza, desistência, e então, o fim. Muitos cansam de apanhar dentro do cenário, seja no Brasil ou no exterior, pois fazer música (e tentar viver dela) nunca é algo simples. Mas existem bandas que não aceitam, não se rendem, e usam o caos e provações para se fortalecer e criar música.

Neste grupo, sem sombra de dúvidas, está o sexteto mineiro UGANGA, das férteis terras de Minas Gerais que, depois de realizar um exorcismo de emoções negativas e frustrações no DVD “Manifesto Cerrado”, enfim lança seu quinto álbum, “Servus”.


Análise geral:

Chamar o trabalho do grupo meramente de Thrashcore ou Crossover não lhe faz justiça. Se uma análise da música do sexteto for feita de forma mais profunda, serão percebidos traços de estilos não convencionais (e mesmo alienígenas ao Metal) no meio desse caldeirão musical/cultural que é o trabalho deles. O que se sente nas canções de “Servus” é que a liberação de emoções vista no DVD lhes fez bem.

Sim, até demais, pois apesar do estilo musical ainda ser o mesmo conhecido desde seus primeiros trabalhos, o sexteto soa mais coeso e evoluído, e bem mais solto. Mesmo porque a adição de uma terceira guitarra (com a entrada de Murcego González) deu mais “punch”, mais peso e agressividade, mas ajudou a aglutinar mais influências e certo “groove” ao som do sexteto.

Basicamente, quem já gostava do UGANGA antes, vai continuar gostando; quem não gostava até agora, precisa lhes dar uma chance.


Arranjos/composições:

A essência Thrashcore do grupo é evidente, puxando-os para algo mais direto e reto, mas quando o arcabouço de influências individuais começa a surgir, as músicas vão ganhando mais e mais diversidade em termos de arranjos. O ritmo continua sendo um dos pontos fortes do grupo: justamente por ter um amplo espectro de influências musicais, a diversidade rítmica é enorme.

Os vocais são, como sempre, muito bons. O uso dos timbres agressivos normais é entremeado por urros guturais aqui e ali, fora os backing vocals (que lembram aqueles usados por bandas de Hardcore “Old School”). As guitarras estão ótimas como sempre, mostrando um peso e agressividade, mas sem perder a noção melódica e certo groove latino.

E se preparem, pois eles podem ir de CRO-MAGS a LED ZEPPELIN com direito a toques à lá PANTERA em uma mesma canção de poucos minutos sem pudores. Mas quem conhece esses mineiros, não esperaria outra coisa.


Qualidade sonora:

Gravado, mixado e masterizado no Brasil, “Servus” soa ríspido e cru nas medidas certas para ter o “feeling” orgânico que o grupo tanto busca, mas sem abrir mão de algo feito com qualidade. Sim, tudo soa claro, intenso e pesado.

Mas existe um “segredo” no som do grupo: nada é gravado de forma a buscar os tons instrumentais mais absurdos possíveis. Longe disso: tudo é gravado da forma em que o UGANGA pode reproduzir ao vivo, ou seja, fogem de excessivas edições digitais. Soar cru e com qualidade é isso.


Arte gráfica/capa:

Feita em um digipak muito bonito, a arte de Wendell Araújo evoca a aura rebelde do Hardcore, mas ao mesmo tempo, invocando elementos de ancestralidade afro-brasileira (a figura da capa remete diretamente aos cultos de Cadomblé, Umbanda e outras vertentes da religiosidade em questão).


Destaques musicais:

UGANGA
Se a música do grupo mostra diversidade, não há pelo que se assustar, pois todas as canções de “Servus” soam coesas e consensuais. Talvez seja o disco mais evoluído, denso e pesado do grupo, mas não é nem de longe simples.

Melhores canções:

“Servus”: O ritmo em geral não é veloz, com ótimas conduções e backing vocals à lá H.C.N.Y. Mas existem partes bem “sabbáthicas” em alguns momentos (onde os vocais ganham tons mais amenos), partes de “1X1” herdadas do Crossover, e mesmo solos melódicos.

“Medo”: Hardcore à lá CRO-MAGS com o peso de partes mais cadenciadas e mesmo técnicas surgem. É uma música mais simples, direta e empolgante, graças às harmonias bem feitas.

“O Abismo”: Fugindo um pouco do Thrashcore, esta é uma canção longa e de andamento cadenciado, mas empolgante e cheia de ótimas melodias. As guitarras estão excelentes nos riffs, os solos são caprichados, esbanjando toques mezzo Tony Iommi, mezzo Southern Rock. Mas o peso da base baixo-bateria é incrível.

“Hienas”: Uma mistura de Thrashcore com Crossover e a adição pontual de elementos de Death Metal se faz presente, juntamente com momentos percussivos bem encaixados (juntamente com vocais cantando em uma entonação típica do Rapcore). Criativa e esmagadora de ossos.

“7 Dedos (Seu Fim)”: De cara, tem-se um ritmo mais voltado ao Hardcore europeu do início dos anos 80, mas logo surgem partes mais cadenciadas e remetendo ao Metal/Hardcore moderno. Outro ótimo momento da base rítmica, que dá peso e fluência à canção.

“Imerso”: Thrashcore com toques “grooveados” brasileiros de muito bom gosto. É uma canção permeada por uma aura agressiva de bruta, destilando revolta e peso ao mesmo tempo.

“Lobotomia”: Puro Hardcore à lá “Brazilian Way”, pois é uma versão do clássico do grupo paulista LOBOTOMIA. Mas esse “ramake” deles respeitou a original, logo, é uma faixa simples, direta, e agressiva até os dentes.

“E.L.A.”: “Scratches” e batidas programadas se mistura com viola caipira, além de vocais cantados em ritmo de Rap e MPB, e mesmo a presença de vocais femininos é perfeita. É um momento mais experimental, muito bem feito e que ajuda a dar uma folga aos ouvidos.

“Depois de Hoje...”: outra faixa bem experimental, com certo toque de Space Rock, com passagens mais lentas e efeitos eletrônicos. Mas a expressividade densa e agressiva dada pelos vocais ríspidos e riffs brutos.


Conclusão:

Uma verdade no final das contas: “Servus” é realmente fruto de todo processo de superação visto em “Manifesto Cerrado”, bem como uma resposta se a banda deveria ou não continuar (dúvida que eles tiveram na época).

E, diga-se de passagem: ainda bem que continuaram, pois a energia que flui desse disco mostra que o UGANGA é daqueles que faz falta demais.

Nota: 9,7/10,0

Servus



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