segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

AZUL LIMÃO - Imortal

Ano: 2018 

Tipo: Full Length 

Nacional

Texto: “Metal Mark” Garcia



Introdução: A cidade do Rio de Janeiro transpirava Metal nos anos 80. Nomes como METALMORPHOSE, DORSAL ATLÂNTICA, TAURUS e muitos outros tomavam as noites de fim de semana e tardes de domingo em points como Caverna II e Circo Voador (na época, uma casa de shows voltada aos eventos do underground). Óbvio que um dos nomes mais marcantes da época era o do quarteto AZUL LIMÃO, que se tornou uma lenda celebrada por sua música cheia de energia, e discos como “Vingança” e “Ordem e Progresso” fazem parte da discografia de muitos Headbangers daquela época em que o mais importante era a música. E é ótimo vê-los na ativa, lançando seu quarto álbum, “Imortal”.

Análise geral: O trabalho musical apresentado em “Imortal” mostra que o grupo continua naquele mesmo formato de sempre: Heavy Metal tradicional à lá anos 80 com clara influência do Hard Rock clássico dos anos 70. Melodias sólidas e bem feitas (mas simples de serem assimiladas), trabalho técnico sóbrio (e eficiente), refrães que não são esquecidos com facilidade pelo ouvinte, ou seja, tudo que se conhece de seus discos anteriores continua presente. A diferença vem justamente pelas mudanças de formação, pois os vocais de Renato “Trevas” (ex-METALMORPHOSE) deram outra dinâmica às canções, bem como a pegada mais técnica de André Delacroix (IMAGO MORTIS, ex-METALMORPHOSE); e isso aliado à técnica sóbria dos riffs e solos de Marcos Dantas (guitarras) e solidez das quatro cordas de Vinícius Mathias (baixo). Ou seja, é o bom e velho jeitão Hard’n’Heavy clássico do grupo, apenas renovado e vigoroso.

Da esquerda para a direita: Vinícius, Trevas, André, Marcos
Arranjos/composições: Uma banda com tantos anos de experiência não iria mudar seu enfoque. Desta forma, o que se afere é que a combinação de peso e melodia bem equilibrada que os caracteriza desde os tempos em que lançaram suas Demos continua presente. E se a experiência os ensinou algo é a compor com esmero, sabendo manter seus arranjos o mais simples possível, fazendo com que se encaixem uns nos outros como se fossem peças de Lego. E é justamente por isso em a energia flui desse disco de maneira selvagem, espontânea, mas sempre elegante e requintada.

Qualidade sonora: Outro ponto forte do disco. Mesmo sendo um grupo acostumado às agruras de um estúdio analógico, o AZUL LIMÃO soube usar das modernas tecnologias digitais para gravar, mas se perceberem, não existem exageros ou timbres modernos. Não, não é assim. Eles preferiram algo mais simples, orgânico e quase “plug ‘n’ play”, mas pesado e limpo. Além disso, a timbragem dos instrumentos é a mais singela possível, sem abuso de efeitos, apenas o “set” de efeitos que é ouvido em shows, nada além disso, e foi uma aposta certeira.

Arte gráfica/capa: A arte é assinada pela Sledgehammer Graphix, e é onde algo mais moderno é apresentado. Uma capa forte, bonita e que deixa claro que eles não são de se abater pelas dificuldades. Aliás, para quem conhece a banda há pelo menos 20 anos, sabe que foram as vicissitudes do Metal brasileiro que os tornaram fortes.

Destaques musicais: “Imortal” possui dez canções fortes, fazendo justiça ao passado do quarteto, e embora todas sejam ótimas, destacam-se:

“Guerreiros do Metal” - Com uma energia vibrante, esta é uma canção forte e com um jeito mezzo agressivo, mezzo melódico, um típico Heavy Metal dos anos 80, mostrando um trabalho de guitarras (tanto riffs como solos) de primeira, e ótimos vocais.

“Nada Pode Me Parar” - Esta tem uma pegada mais pesada e melodiosa, onde o andamento não é lá muito veloz. O trabalho de baixo e bateria é de primeira, e um refrão certeiro.

“Paranormal” - As ótimas mudanças de ritmo e linhas melódicas desta canção são sublimes, e justamente a diversidade de timbres vocais nos prende pelos ouvidos.

“Sexta-Feira à Noite” - Um típico Hard’n’Heavy à lá anos 80, com uma boa dose de acessibilidade nas melodias, algo mais voltado ao Rock clássico (vide o solo de guitarra). Nisso, a sobriedade técnica emite uma energia envolvente de primeira, sem falar em mais um ótimo refrão.

“Mentiras” - Há certo toque de Classic Rock nesta aqui, algo com aquele alinhavo Blues/Rock das antigas que nunca perde sua beleza. Mais uma vez, as linhas melódicas são caprichadas, e a simplicidade da base baixo-bateria mostra seu valor.

“No Ar Rarefeito” - Peso assentado sobre o andamento mais cadenciado, o que torna tudo mais pesado. Há momentos mais introspectivos muito bem pensados, onde as guitarras fazem bonito (e onde os vocais mostram sua versatilidade).

“Imortal” - Uma canção típica do AZUL LIMÃO, mas uma das características de bandas daqueles tempos: alto astral. Sim, as melodias da canção transpiram algo de positivo, de bom, que encerra o disco com chave de ouro, e nos leva a apertar a tecla “repeat” do CD player.

Conclusão: Não há como negar que o AZUL LIMÃO usou muito de sua fluência em termos de melodia e de sua experiência para criar algo tão bom e espontâneo como é “Imortal”. E talvez isso faça esse disco estar na lista de melhores de 2019 de muitos (uma vez que ele foi lançado 17/12/2018, quando muitas listas dos melhores de 2018 já haviam sido feitas).

Nota: 90%

Tracklist:

1. Guerreiros do Metal
2. Nada Pode Me Parar
3. Paranormal
4. O Último Trem
5. Sexta-Feira à Noite
6. Quem Vai Nos Salvar?
7. Mentiras
8. No Ar Rarefeito
9. Dois a Dois
10. Imortal


Banda:


Trevas - Vocais
Marcos Dantas - Guitarras
Vinícius Mathias - Baixo
André Delacroix - Bateria


Ficha Técnica


Sledgehammer Graphix - Artwork 


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“Guerreiros do Metal”: https://www.youtube.com/watch?v=aEBoa9VHxnY



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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

MAYHEM - De Mysteriis Dom Sathanas

Ano: 1994
Tipo: Full Length
Selo: Deathlike Silence Records / Century Media Records
Importado

Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução/Contexto histórico: Os anos entre 1990 e 1994 foram especiais para as vertentes extremas do Metal. Nesta época, junto com atitudes polêmicas (como os incêndios em igrejas, violações de túmulos e assassinatos), a Noruega fervia em termos de Black Metal. Mesmo se o famoso Inner Circle não fosse mais que um grupo de amigos que tocavam o gênero, havia algo novo sendo criado. Dado como um estilo morto no final dos anos 80 (já que a maioria de seus representantes transitara ou estava transitando para outros gêneros dentro do Metal), o Black Metal ainda estava vivo, sendo reciclado para sua definitiva canonização musical. E apesar dos atrasos causados por falta de recursos para gravar (o que pode ser comprovado neste link), pelo suicídio de Per Yngve Ohlin (o lendário vocalista Dead) em 08/04/1991, e pelo assassinato de Øystein “Euronymous” Aarseth (guitarrista/mentor do grupo) em 10/08/1993, é fato mais que comprovado que “De Mysteriis Dom Sathanas”, primeiro álbum do quarteto norueguês MAYHEM, é uma planta baixa de como se faz Black Metal.

Euronymous
Análise geral: Apesar de ter vindo ao mundo em 24/05/1994, ou seja, dois anos após o lançamento de “A Blaze in the Northern Sky” do DARKTHRONE e “Burzum” do BURZUM (ambos lançados em 1992), “De Mysteriis Dom Sathanas” possui músicas que estavam sendo compostas desde 1987 (conforme Dead declarou em uma entrevista ao fanzine Slayer Mag ter prontas as letras de “Funeral Fog”, “Freezing Moon”, “Buried by Time and Dust” e “Pagan Fears”, e estas aparecem em “Live in Leipzig”, que foi gravado em 26/11/1990). Além disso, como dito por Fenriz, Euronymous havia desenvolvido uma forma de se tocar riffs de guitarra que são características do gênero, um “trademark” legado ao cenário norueguês. Nesse ponto e na estética, as influências de SODOM, HELLHAMMER/CELTIC FROST, DESTRUCTION e mesmo do SARCÓFAGO (graças a envio de cópias de “Warfare Noise I” e “INRI” para Euronymous pela parte de Wagner na época) em seus discos iniciais é sensível em termos de estética sonora/visual (uma observação atenta em “Pagan Fears” mostra isso claramente). Tanto o é que o amadurecimento do material do disco em relação ao que se ouve no EP “Deathcrush” é gritante. Dessa forma, mesmo saindo de forma tardia, as músicas do disco iriam influenciar não só a geração do MAYHEM, mas as que vieram depois. Aliás, este deve ser o único disco em todo universo musical que tenha o assassino e a vítima tocando juntos, ou então, é o primeiro disco a conseguir esta triste façanha.

Arranjos/composições: A principal característica musical de “De Mysteriis Dom Sathanas” é justamente a aura macabra de suas canções. Tudo porque a forma de tocar riffs de Euronymous é sombria, impactante e extremamente simples de ser assimilada. Não há uma parte de guitarra desse disco que não seja marcante, que não fique na mente do ouvinte de forma permanente. E isso reforçado pelo ótimo trabalho de bateria (que apesar de ainda não mostrar tudo que sabe, Hellhammer já mostra excelente técnica de caixa e bumbos). Como a atitude de Euronymous em relação à morte de Dead causou rusgas entre ele e o baixista Jørn “Necrobutcher” Stubberud (tanto que ambos não se falaram mais até a morte do guitarrista), o grupo chamou Varg Vikernes para tocar as partes de baixo (ironicamente, seria ele o assassino de Euronymous meses depois das sessões de gravação). Nos vocais, o lugar de Dead foi ocupado pelo húngaro Attila Csihar (então do TORMENTOR, que havia lançado uma Demo Tape que se tornou clássico nos anos vindouros, “Anno Domini”, de 1988, que posteriormente se tornou CD), que causou certa estranheza por parte dos fãs na época, pois sua voz esganiçada e agonizante não era típica do padrão do Black Metal, mas que acabou criando uma escola, se tornou referência e que encaixou perfeitamente em “De Mysteriis Dom Sathanas”. E verdade seja dita: o disco inteiro é clássico. É preciso dizer que Dead, Necrobutcher, além de Snorre “Blackthorn” W. Ruch também ajudaram com letras e riffs no disco, e mesmo Varg contribuiu, mas como este último declara, a maioria dos riffs são mesmo de Euronymous.

Qualidade sonora: Gravado no Grieghallen Studio, Bergen, entre 1992 e 1993, o disco ficou sob a tutela de Eirik “Pytten” Hundvin para a produção e mixagem (cuja responsabilidade foi dividida com Euronymous e Hellhammer). De certa forma, a “estética do feio” (referenciada por Varg no documentário norte-americano “Until the Light Takes Us”, de 2008, quando o tema abordado é a qualidade sonora dos discos seminais do Black Metal norueguês), que é amplamente utilizada aqui, não está tão crua. Os instrumentos e vocais são compreendidos pelos ouvidos claramente, embora com tons nada convencionais para a época. Existe muito da sonoridade de discos como “Obsessed by Cruelty”, “Persecution Mania” e “Morbid Tales”, mas sob um ponto de vista ainda mais cru e pessoal. É a formalização do manifesto contra as qualidades sonoras cada vez mais limpas e super-produzidas do Death Metal de então.

Parte interna do encarte de  “De Mysteriis Dom Sathanas”

Arte gráfica/capa: A capa é simples, mostrando uma imagem trabalhada em preto e azul da cobertura do lado leste da Catedral de Nidaros (que está localizada em Trondheim, e cujo incêndio ou explosão estava planejado por Varg e Euronymous como parte do lançamento do disco). Não existem informações sobre a formação, letras ou algo do tipo. Somente as fotos de Euronymous e Hellhammer estão ali, além de uma imagem com 3 faces distorcidas em preto e branco. Algo direto e funcional. É óbvio que mais tarde, versões em vinil e mesmo novas edições em CD vieram a trazer letras, mas inicialmente, era seco, reto e direto, sem firulas.

Atilla

Destaques musicais: Como citado anteriormente, “De Mysteriis Dom Sathanas” é um disco do passado, mas que veio e canonizou o que se denomina como Black Metal, sendo até hoje uma referência do estilo. É uma formatação musical nova, diferente do que havia antes, já que o VENOM estava muito próximo ao MOTORHEAD (assim como o BATHORY em seus dois primeiros discos), enquanto o quarteto (mesmo influenciado pelo trio de Newcasttle) ainda mixa influências do Black/Death Metal e Black/Thrash Metal germânico dos anos 80 com sua própria personalidade. Com todo o respeito a discos anteriores e posteriores, mas o Black Metal ganha uma sonoridade peculiar com o MAYHEM. E esta sonoridade/estética que permeia cada segundo de música de “De Mysteriis Dom Sathanas”.

“Funeral Fog”: o disco começa seco, sem introduções, com um riffs simples e velocidade, até que os vocais aparecem e o ritmo começa a variar bastante. O nível de energia é alto, e empolga o fã por sua simplicidade.

“Freezing Moon”: a mais emblemática das canções do disco. O início lento e sinistro, e encaixa com a ideia de Dead e Euronymous de instigar o suicídio no ouvinte (algo que obviamente era apenas uma piada que virou polêmica e viria a divulgar ainda mais a banda), mas quando a música ganha mais velocidade, percebe-se o ótimo jogo de pratos e viradas da bateria, sem contar o “approach” sinistro dos vocais e as partes terrorosas do baixo.

“Cursed in Eternity”: Outra canção clássica devido ao trabalho dos vocais e partes rápidas. Mas se percebe em algumas partes (especialmente o início) alguns toques de Black/Thrash Metal em seu início à lá SODOM.

“Pagan Fears”: Novamente a influência do Black/Thrash Metal germânico é evidente nos riffs iniciais, mas logo a condução rítmica de bateria e baixo coloca a música no Black Metal puro e simples. 

“Life Eternal”: Seca e brutal, essa começa veloz e com muita energia, antes de ceder espaço a tempos mais climáticos e fúnebres. Além disso, os vocais e sua diversidade de timbres dá um toque ainda mais soturno ao que se ouve.

“From the Dark Past”: Em termos de andamento, é uma canção variada e com boas mudanças rítmicas. Mas o grande destaque é justamente a interpretação dada pelos vocais, além dos excelentes riffs.

“Buried by Time and Dust”: nesta, a maior característica é a velocidade estonteante, com um ritmo simples e direto. E é incrível o controle dos ritmos de baixo e (principalmente) bateria.

“De Mysteriis Dom Sathanas”: outra em que o ritmo é (na maior parte do tempo) constante e veloz, e onde vozes em tons normais agoniados contrastam com as vozes agressivas e nasaladas. 

Uma queixa 1: até hoje, é inaceitável que tal obra de arte não tenha a clássica “Carnage”

Uma queixa 2: até hoje, não ganhou uma versão nacional. Vale a pena os selos pensarem nisso.

Conclusão: A sensação de todos ao terminar a audição de “De Mysteriis Dom Sathanas” é a evidente, de que parece que nada veio antes dele, ou mesmo depois, quando se fala no MAYHEM. E além disso, que ele é um clássico atemporal, que mais de 24 anos depois de seu lançamento continua tão inovador e cheio de vida como nos românticos 5 primeiros anos da década de 90.


Tracklist:

1. Funeral Fog
2. Freezing Moon
3. Cursed in Eternity
4. Pagan Fears
5. Life Eternal
6. From the Dark Past
7. Buried by Time and Dust
8. De Mysteriis Dom Sathanas


Banda:

Euronymous (Øystein Aarseth) - Guitarras
Hellhammer (Jan Axel Blomberg) - Bateria


Ficha Técnica:

Pytten - Produção, mixagem
Euronymous (Øystein Aarseth) - Produção, mixagem
Hellhammer (Jan Axel Blomberg) - Produção, mixagem
Attila Csihar - Vocais
Count Grishnackh (Varg Vikernes) - Baixo
Jørgen Lid Widing - Artwork (encarte)


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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

SATURNUS - Veronika Decides to Die

Ano: 2006 (lançamento original) / 2018 (relançamento)
Tipo: Full Length
Selo: Cold Art Industry Records
Nacional

  
Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução/Contexto histórico: A literatura sempre foi uma inspiração e tanto para o Metal. Desde os primórdios do gênero, as referências à obras literárias são comuns em muitas bandas, seja para composição de uma única canção ou mesmo para gerar um álbum conceitual. Mas é bem é raro livros de autores brasileiros serem usados para tal. Mas é interessante ver que “Veronika Decide Morrer”, obra de Paulo Coelho e lançada em 1998, transcender fronteiras e ser transformada em inspiração lírica pelo sexteto dinamarquês SATURNUS em “Veronika Decides to Die”, terceiro disco da banda, originalmente lançado em 2006 e que agora ganha sua primeira versão nacional pela Cold Art Industry Records.

Análise geral: Em linhas bem gerais, o trabalho do grupo é muito bem feito e maduro. É um Doom/Death Metal pesado e denso, com muita ênfase no lado melancólico e belo (devido ao bom trabalho dos teclados tanto na ambientação como nas partes em que fica bem evidente), mas com um tratamento instrumental diferente devido ao bom nível técnico apresentado. Mas óbvio que se percebem as influências de Classic Gothic Rock no som do sexteto. Mesmo para os padrões de hoje é algo diferente, o que se dirá há 13 anos atrás, quando o gênero estava começando a sair de sua evidência. Além do mais, parece que o livro influencia diretamente o título, mas apenas de forma subjetiva as letras.

Arranjos/composições: Embora existam similaridades estilísticas entre eles e grupos como MY DYING BRIDE (da fase “Turn Loose the Swans” e “The Angel and the Dark River”) e PARADISE LOST (algo da época de “Draconian Times”), os dinamarqueses fazem um trabalho de primeira. Há uma dose de energia introspectiva que flui de suas melodias que realmente prendem os ouvintes, mesmo com canções com durações tão longas. Aliás, mesmo com a duração média de 7 minutos por canção, nenhuma delas soa cansativa ou nos provoca tédio, justamente porque existe uma dinâmica interessante entre os instrumentos e bons arranjos sempre (apesar do enfoque técnico não ser a ênfase do trabalho musical aqui exposto). Pode não ser inovador, mas tem valor (e muito) e tende a agradar os exigentes fãs do gênero.

Pôster da edição nacional

Qualidade sonora: A produção é bem simples em termos de instrumental, sem rebuscar tons muito modernos ou distorcidos. Parece que algo mais orgânico e próximo ao “plug ‘n’ play” foi a escolha do grupo. E nas mãos do velho mestre Flemming Rasmussen (o mesmo que produziu o METALLICA de “Ride the Lightning” até “...And Justice for All”), isso já é muito, pois a sonoridade montada para “Veronika Decides to Die” é ótima, limpa a ponto de se entender tudo que é tocado, mas com um peso cavalar e um toque de classe que faz com que os contrastes entre partes limpas e mais distorcidas soem ótimos e claros aos ouvidos.

Arte gráfica/capaSe existem contrastes no aspecto musicai e sonoro do grupo, eles existem também na arte gráfica. Trabalhando com tons claros e escuros, Travis Smith (capa) e Nikolaj Borg (layout) dão ao lado visual do disco uma ambientação soturna e melancólica, que assim, permitem que ela transpire o que existe na música da banda. E a versão da pré-venda ainda tem pôster, slipcase que protege o jewelcase, e um adesivo. Um trabalho e tanto para este lançamento (sim, pois nenhum disco do grupo havia sido lançado no Brasil até o momento).

Slipcase e jewelcase

Destaques musicais: Existe um toque de “não convencional” que permeia as composições de “Veronika Decides to Die”. O lado melodioso flui de forma que os ouvintes sejam absorvidos pela melancolia que a música do SATURNUS expõe. E como um ótimo disco que este é, a qualidade é distribuída em cada uma de suas canções. E como a Cold Art Industry Records sempre oferece aos fãs algo diferenciado que os instigue, esta versão nacional possui duas faixas-extras.

Destacam-se:

“I Long”: Transitando entre o Doom Death Metal e o Melodic Doom Metal, é uma canção rica em arranjos, e onde o trabalho de baixo e bateria estão ótimos na condução dos ritmos.

“Pretend”: A beleza das melodias introspectivas que transpiram melancolia é incrível, adornada por contrastes de timbres vocais (alguns esganiçados nas partes mais agressivas, outros declamados nas partes mais Doom Gothic).

“Descending”: Mesmo mantendo a identidade introvertida de sua música, esta é uma das canções mais pesadas do disco, com ótimas guitarras nas partes agressivas e solos melodiosos onde o grupo cai para o lado mais deprê. E fica óbvio nos solos as melodias que o guitarrista Michael Denner (ex-MERCYFUL FATE, ex-KING DIAMOND) está presente como músico convidado.

“Rain Wash Me”: O ritmo cadenciado fúnebre garante o peso, mas as partes limpas onde guitarras e fundos de teclado criam uma ambientação densa são excelentes.

“All Alone”: Totalmente focada em algo mais limpo, e uma canção onde a banda pende bem mais para a melancolia Doom Gothic que as outras. Mas existem momento mais agressivos que não obliteram a sensação de interiorização, de depressão e mesmo agonia interior, reforçada claramente pelos teclados.

“Embraced by Darkness”: Aqui, já há maior prevalência de peso e agressividade, mesmo com toques limpos. Fúnebre, é uma canção que realmente nos leva a repensar o sentido da vida.

“To the Dreams”: Tal qual a anterior, esta também enfoca mais o soturno, o fúnebre, o melancólico que circunda o ser humano a cada dia. O uso comedido dos teclados e os contrastes dos timbres vocais são o ponto forte desta canção.

“Murky Waters”: A beleza do peso melodioso e certo toque de acessibilidade gótica são os elementos que permeiam esta canção que vem encerrar o disco em grande estilo.

Óbvio que é obrigatório citar o valor das versões Demo para “Embraced by Darkness” e “Raven God” (esta de uma participação da banda em uma coletânea de 1995, chamada “Brutal Youth”) são ótimas, mais sujas e pesadas que as originais, mas ainda assim, mostrando seu valor.

Conclusão: Ao terminar de ouvir “Veronika Decides to Die”, a única coisa que fica em mente é a torcida para que esgote rápido e incentive a Cold Art Industry Records a lançar os outros discos da banda por aqui. Os fãs merecem que os discos do SATURNUS sejam mais acessíveis.


Tracklist:

1. I Long
2. Pretend
3. Descending
4. Rain Wash Me
5. All Alone
6. Embraced by Darkness
7. To the Dreams
8. Murky Waters
9. Embraced by Darkness (Demo Version)
10. Raven God (Demo Version)


Banda:


Thomas AG - Vocais
Peter - Guitarras
Tais - Guitarras
Anders - Teclados
Lennart - Baixo
Nikolaj - Bateria


Ficha Técnica:

Flemming Rasmussen - Produção, engenharia, mixagem
Flemming "Junior" Hansson - Masterização
Travis Smith - Arte da capa
Nikolaj Borg - Layout
Michael Denner - Guitarras em “Descending”


Contatos:

Site Oficial: http://saturnus.dk/
Assessoria:


Unpackage Video:



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ROTTING CHRIST - Genesis (ΓΕΝΕΣΙΣ)


Ano: 2002 (lançamento original) / 2018 (relançamento)
Tipo: Full Length
Selo: Cold Art Industry Records
Nacional


Texto: “Metal Mark” Garcia


Introdução/Contexto histórico: O ano de 2002 se mostrava um ano de transição entre as tendências no Metal. Ao mesmo tempo em que as primeiras bandas de Metal “old school” começavam a despontar no underground, o gênero dominante era o Heavy/Power Metal. No lado extremo, o Black Metal retrocedia de popularidade após anos em evidência. Mas um fator marcante dessa época foi o final da tendência em que bandas extremas amaciavam sua música para um formato mais melodioso e acessível próximo ao Gothic Metal vigente. Alguns grupos pararam, mas alguns resolveram ir adiante. Este último é o caso de ΓΕΝΕΣΙΣ (conhecido mais comumente como “Genesis”), sétimo álbum de estúdio do então quinteto grego ROTTING CHRIST, que veio ao mundo em 29/10/2002.
  
Análise geral: O álbum mostra o grupo ainda em uma transição. Do jeito mais sujo do início (fase representada por “Thy Might Contract” de 1993 e “Non Serviam” de 1994), passando pela fase mais limpa em que se apresenta em um formato Black/Death melodioso (onde “Triarchy of the Lost Lovers” de 1996 e “A Dead Poem” de 1997 são os representantes), os toques experimentais de Gothic Metal que adornavam as melodias mais melancólicas de “Sleep of the Angels” (de 1999), o grupo resolve começar a dar uma guinada de volta às raízes em “Khronos” (de 2000). Mas a volta ao Black Metal soturno do qual são pioneiros se dá em “Genesis”. Aqui, mesmo com a estética musical polida e bem cuidada que prevalecia em seus trabalhos desde 1996, as melodias do grupo se tornam mais soturnas, ao mesmo tempo em que a agressividade tornou a ser evidente. Pode-se dizer que “Genesis” é uma mistura de aspectos musicais de “Thy Might Contract” e “A Dead Poem”, mais a estética cuidadosa de “Sleep of the Angels” e traços épicos que serão prevalentes em “Aealo”. Ou seja, o grupo já se mostra olhando para o futuro.

Arranjos/composições: Olhando em perspectiva, o ROTTING CHRIST mostra-se extremamente inventivo em “Genesis”. Cantos gregorianos, teclados evidentes criando ambientações melancólicas nas partes cadenciadas ou que dão aquela impressão de “trilha incidental de filmes de horror clássicos” nas sequências de maior velocidade, riffs agressivos e incursões de guitarras não convencionais ao padrão Black Metal conhecido da época (embora o quinteto já os utilizasse há anos), toques experimentais (as programações encaixaram como uma luva onde são usadas), vocais com ótima diversidade de timbres (a maior parte do tempo são os rasgados tradicionais, mas existem momentos mais graves e mesmo de vozes limpas, como no refrão de “Quintessence”), solidez e peso na base rítmica (fora a boa técnica apresentada), e as composições possuem melodias bem definidas e mesmo de fácil assimilação pelos sentidos, refrães marcantes... Pode-se dizer que é uma combinação musical de tudo que a banda fez em sua carreira, mas abrindo possibilidades musicais que seriam exploradas e seus futuros álbuns.

Qualidade sonora: Um disco nesse formato e com essa concepção musical de vanguarda merecia uma sonoridade bem cuidada. Nisso, Sakis Tolis se aliou a Andy Classen (na época já conhecido por seus trabalhos com HOLY MOSES, ASPHYX, BELPHEGOR, KRISIUN, REBAELLIUN e outros, e com quem o grupo já havia trabalhado em “Triarchy of the Lost Lovers”) no Stage One Studio para montarem uma sonoridade digna do que o quinteto tinha em mente. A masterização é assinada por Tom Müller, que fez sua parte no Gmbh Studio, em Berlim. É uma produção de primeira, que conseguiu fundir cada elemento musical, mixar cada instrumento, de forma que tudo soa claro e pesado, mas um uma estética um pouco mais seca e limpa, com timbres instrumentais definidos, sem que nada se sobrepusesse ou que soe embolado. Mas soa agressivo ao mesmo tempo, sem que as melodias sejam prejudicadas.


Arte gráfica/capa: O artista gráfico norte-americano Mike Bohatch é quem assina a arte de “Genesis”, que ficou muito bonita, mostrando algo que evocava o passado musical do grupo (algo que não faziam de forma tão evidente desde “Triarchy of the Lost Lovers”), além de uma diagramação que é simples, mas ótima. E no caso desse relançamento, ainda tem-se um slipcase belíssimo envolvendo o jewelcase, além de ter um adesivo para todos aqueles que adquiriram o álbum na pré-venda.

Destaques musicais: “Genesis” é um dos melhores discos do grupo, justamente por estar em uma “encruzilhada” de possibilidades musicais. Além disso, a inspiração é óbvia, sendo que nada nesse disco é descartável. Todas as músicas são excelentes. E ainda se faz necessário ressaltar que esta nova edição, como a original do Brasil, tem a faixa bônus exclusiva da época, “Astral Embodiment”.

Analisando:


“Daemons”: A canção mais curta do disco, e ela é uma declaração óbvia de que eles estavam de volta. E é impossível não falar no uso dos teclados sinistros e o uso de tempos velozes. A letra, para quem nunca analisou, é um ritual de banimento vindo diretamente dos escritos de Aleyster Crowley.

“Lex Talionis”: Cantos gregorianos e riffs densos se mesclam criando uma ambientação soturna, mesmo nas partes mais velozes. No refrão, o ritmo diminui para ganhar mais impacto e marcar o ouvinte.

“Quintessence”: Melodias de Heavy Metal tradicional permeiam a canção como um todo, sendo uma das canções mais atmosféricas por conta da maior evidência dos teclados, mas como os timbres limpos de vocais encaixaram perfeitamente no refrão.

“Nightmare”: O andamento fica ainda mais cadenciado, os vocais usam alguns tons mais góticos em alguns momentos (sem mencionar as partes limpas), e os 7 minutos passam rápido, por conta das melodias envolventes que surgem em vários momentos.

“In Domine Sathana”: Uma das canções mais agressivas e marcantes do disco (e uma predileta dos fãs), que encaixaria perfeitamente nos primeiros lançamentos da banda (embora com mais lapidação em várias partes e maior riqueza em termos de arranjos). É uma das mais tocadas do disco nos shows até os dias de hoje, e um dos clássicos da banda.

“Release Me”: Uma canção mais experimental e atípica. O toque meio Doom Gótico/Industrial de alguns momentos aparentam como uma herança tardia de “Sleep of the Angels”, embora seja uma faixa ótima (e com ótimas partes agressivas).

“The Call of the Aethyrs”: Embora com uma energia mais voltada para o Metal extremo, fica óbvio alguns toques mais voltados ao Gothic da época. Se percebe isso especialmente nos riffs e nas mudanças de tons vocais.

“Dying”: Outra em que o grupo mostra sutilezas ainda ligadas aos seus discos anteriores (que são perceptíveis clara e especialmente nos vocais). As linhas melódicas são simples, e como as duas anteriores, dá um toque diferenciado ao disco.

“Ad Noctis”: Novamente, o uso de cantos gregorianos é usado na introdução da faixa (basicamente, é dito“Miserere mei”, parte do salmo 50, que ganhou versões cantadas a capella feita pelo compósito italiano Gregorio Allegri durante o papado de Urbano VIII), mas logo temos uma faixa agressiva, com alguns toques percussivos.

“Under the Name of Legion”: climática e com toques experimentais, esta é uma das canções típicas de encerramento de um disco. As melodias são excelentes, especialmente em certos crescendo que surgem.

“Astral Embodiment”: Esta é a faixa extra que só havia saído no Brasil, na época. Algumas partes próximas ao Gothic/Industrial, mas mantendo sua base Melodic Black Metal, especialmente nas guitarras.

Conclusão: Mesmo 16 anos depois do lançamento original, “Genesis” continua sendo um disco fantástico, e que agora torna a estar acessível aos fãs brasileiros. E corram atrás, pois esta versão só tem 300 cópias prensadas!



Tracklist:

1. Daemons
2. Lex Talionis
3. Quintessence
4. Nightmare
5. In Domine Sathana
6. Release Me
7. The Call of the Aethyrs
8. Dying
9. Ad Noctis
10. Under the Name of Legion
11. Astral Embodiment


Banda:



Sakis Tolis - Guitarras, vocais, programação
Kostas Vassilakopoulos - Guitarras
Andreas Lagios - Baixo
Georgios Tolias - Teclados
Themis Tolis - Bateria


Ficha Técnica:

Andy Classen - Produção
Sakis Tolis - Produção
Tom Müller - Masterização
Mike Bohatch - Artwork


Contatos:

Assessoria:


Youtube:



Unpackage video:



Spotify: