terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

27/02/2018 - Fabiano Penna nos deixou...


Infelizmente, esta data representa uma grande perda para o Metal brasileiro: o guitarrista Fabiano Penna, do REBAELLIUN, veio a falecer, devido à uma infecção generalizada.

Além do REBAELLIUN, Fabiano ainda era produtor musical, bem como teve passagem por bandas como THE ORDHER HORNED GOD

Acreditamos que nada termina aqui, logo, queremos agradecer pela enorme oportunidade de poder ter conhecido Fabiano, ter conversado e partilhado idéias. A amizade é para sempre, o amor não vai parar aqui.

Apresentamos nossos votos de pesar a familiares, amigos e todos que puderam ter contato com essa pessoa maravilhosa, que vai fazer falta, e que agora descansa em paz...

Obrigado, meu amigo, meu irmão, e que sua música continue a nos alegrar até o dia em que nos encontremos de novo...

Nos lembraremos para sempre de ti...

domingo, 25 de fevereiro de 2018

DIMMU BORGIR - Interdimensional Summit



Ano: 2018
Tipo: Single
Importado


Tracklist:

1. Interdimensional Summit
2. Puritania (live)


Banda:


Shagrath - Vocais
Silenoz - Guitara base
Galder - Guitarra solo


Ficha Técnica:

Dimmu Borgir - Produção
Jens Bogren - Engenharia
Geir Bratland - Teclados
Daray - Bateria
Francesco Ferrini - Orquestrações
Gaute Storås - Arranjos orquestrais e de corais
Schola Cantrum Choir - Corais
Zbigniew Bielak - Artwork


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Bandcamp:
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E-mail:

Por Marcos Garcia


Quando uma banda qualquer se torna auto-sustentável (ou seja, são aquelas que já conseguem sustentar financeiramente a si mesmas e seus músicos com seus trabalhos), é de se esperar que todos os discos lançados após seu crescimento sejam aguardados ansiosamente por fãs e detratores. Nomes grandes como o do DIMMU BORGIR sempre criam expectativas. E após 8 anos desde “Abrahadabra”, o grupo enfim volta com algo inédito de estúdio para seus fãs, O Single “Interdimensional Summit”, que precede “Eonian”, novo álbum previsto para 04 de Maio vindouro.

O que podemos falar sobre este Single, lançado para esquentar as coisas?

O que se nota logo de cara é que a banda deu seqüência ao que fez musicalmente em “Abrahadabra”. A proposta não mudou: a fusão de elementos agressivos do Black Metal com orquestrações grandiosas e corais é a mesma. Mas há uma diferença: a banda reforçou o lado melodioso de sua música, bem como fizeram nada muito tecnicamente complicado. No fundo, esta simplicidade é algo que não fazem desde a época de “Enthrone Darkness Triumphant”. Dessa forma, a idéia é de que o DIMMU BORGIR parece disposto a continuar com seu trabalho com orquestras e corais, mas buscando algo mais simples em termos técnicos. E isso mostra valor, já que o lado agressivo de sua música ainda está ali.


Sonoramente, este Single nos mostra uma sonoridade pesada e densa, mas mais uma vez, de qualidade inegável. O grupo há anos não abre mão de ter uma qualidade sonora perfeita em seus trabalhos. E não deve ter sido simples, pois misturar tantos elementos de uma vez nunca é muito simples, mas conseguiram, pois tudo está perfeitamente audível.

Diferentemente de “Abrahadabra”, onde a banda parecia muito mecanizada, desta vez, eles mostram maior fluidez e espontaneidade. Talvez a simplificada no som e a ausência de estresses e pressões (algo que em 2010 foi comum, pois a saída de Mustis e Vortex foi traumática) tenha feito muito bem à banda. Mas se repararem, há muito detalhes interessantes que uma simples ouvida não nos permite perceber.

Uma das músicas do Single é a já conhecida “Puritania”, gravada ao vivo em Oslo (provavelmente, vinda do DVD “Forces of the Northern Night”). Mas “Interdimensional Summit” é a inédita. Cheia de teclados e muitas orquestrações, existem arranjos e mudanças de ritmo ótimas, os vocais continuam com sua ótima variação entre timbres rasgados e guturais (além de momentos narrativos), a bateria mostra peso (embora não mostre técnica exacerbada), as guitarras estão ótimas em seus riffs (e o solo está ótimo, nada complicado, mas bem melodioso), o baixo dá peso (pelo que se sabe, Shagrath, Silenoz e Galder se alternaram nas gravações do instrumento). As orquestrações e corais encaixaram bem, e mais uma vez, a banda mostra um refrão que se ouve e não se esquece mais, além de melodias simples e envolventes.

Óbvio que nem todos gostaram dessa roupagem que a banda mostra em “Interdimensional Summit”. Direito de todos, mas a verdade é simples: o grupo não dá crédito aos detratores. Nem precisam, pois fazem o estilo que eles mesmos criaram para si, e como dito acima, creio que muitos não se lembram dos teclados e lindas harmonias do clássico “Enthrone Darkness Triumphant”.

No mais, este Single coloca água na boca dos fãs. E que “Eonian” venha logo!

Nota: 90%

sábado, 24 de fevereiro de 2018

LOCKFIST 669 - Pesadelo



Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1.      Invitation (To My Nightmare)
2.      Shall Not Murder
3.      The Problem Of Evil
4.      Silencer
5.      Dominion
6.      Igreja
7.      Pesadelo


Banda:


Alex Paloschi - Vocais
Renato Machado - Guitarras
Rafael Leal - Baixo
Rodrigo Kusayama - Bateria


Ficha Técnica:

Friggi Madbeats - Produção, mixagem, bateria em “Igreja”
Neto Grous - Masterização
Marcelo Nespoli - Artwork


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Assessoria:


Por Marcos Garcia


A potencialidade do Metal brasileiro já deixou de ser uma simples idealização. Há anos, com o avanço tecnológico e a profissionalização de produtores musicais, as bandas nacionais têm mostrado as garras, fazendo discos cada vez melhores. Em termos que qualidade, o Brasil já não está distante do que é feito fora de nosso país. E nisso, as bandas consegue atingir um nível musical melhor. Uma ouvidinha em “Pesadelo”, novo trabalho do quarteto LOCKFIST 669, de São José dos Campos (SP), ilustra o que este autor quer dizer.

Com um trabalho pesado e agressivo de causar dores nos ouvidos, o quarteto foca suas energias em fazer Thrash Metal com uma pegada moderna próxima ao Death Metal. Óbvio que essa fórmula musical não chega a ser uma novidade, mas a abordagem deles deixa tudo mais bruto, com um impacto sonoro enorme. Além disso, a banda cria arranjos musicais de primeira, que encaixam perfeitamente uns nos outros.

Preparem os ouvidos e o pescoço!

Podemos dizer que grande parte do impacto descrito acima vem da produção musical. A sonoridade de “Pesadelo” é cheia e carregada, ou seja, a banda escolheu timbres graves e intensos para os instrumentos, criando a impressão de uma muralha de som. Mas ao mesmo tempo, em termos de clareza, tudo está de primeira, bem definido, e o ouvinte não terá dificuldades em compreender o que eles tocam. Além disso, a masterização deu um “punch” a mais no som. E que arte gráfica!

Os 13 anos de lutas no underground moldaram o LOCKFIST 669 de uma maneira que observemos uma banda evoluída e enxuta, que sabe criar uma música bem arranjada e violenta, bem feita, mas com muita energia e espontaneidade. Além disso, “Pesadelo” é um autêntico murro nos ouvidos!

“Shall Not Murder” é um Thrash/Death Metal moderno e cheio de agressividade envolvente, com guitarras cuspindo riffs ganchudos. O andamento mais trabalhado de “The Problem Of Evil” vem para conquistar muitos fãs (os momentos mais lentos são cativantes, especialmente porque baixo e bateria mostram uma técnica muito boa). O peso grooveado e cheio de ritmos quebrados de “Silencer” é empolgante, mostrando um refrão muito bom (e esses vocais gritados encaixaram como uma luva). Cadência e uma ambientação densa é o que temos em “Dominion”, uma faixa de muita energia e peso. Essas são os destaques do disco, mas não dá para não falar da versão rasgada e pesada que eles fizeram para “Igreja”, do TITÃS, que tem a participação especial de Friggi Madbeats, do CHAOS SYNOPSIS (e produtor do disco), que tocou bateria.

O LOCKFIST 669 é um bom nome do cenário nacional, e “Pesadelo” merece uma ouvida atenta da parte de todos os fãs de Thrash Metal.

Nota: 82%

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

KAMALA - Eyes of Creation



Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Internal Peace
2. Stay with Me
3. Open Door
4. Something to Learn
5. Purpose of Life
6. Believe
7. Deep Breath
8. Eyes of Creation
9. Wake Up


Banda:


Raphael Olmos - Guitarras, vocais, samplers, violão
Allan Malavasi - Baixo, vocais
Isabela Moraes - Bateria

Ficha Técnica:

Guilherme Malosso - Produção, gravação, engenharia, edição, mixagem e masterização 
Yuri Camargo - Assistente de gravação
Corentin Charbonnier - Harpa em “Internal Peace”
Simon Pascual - Gravação da harpa em “Internal Peace”
Victor Martins - Didgeridoo em “Purpose in Life”
Marcus Dotta - Bateria em “Deep Breath”


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Assessoria:


Texto: Marcos Garcia


Há dias em que este autor para e reflete: em mais de 30 anos dedicados ao Metal, poucas vezes vi um momento tão ruim em termos de mentalidade dentro do cenário.

A mentalidade atual é destrutiva, quase que orientada à automutilação, à destruição interna de cada um de nós. Sinceramente, já está cansativo ver as repetições das fábulas à lá “Dungeons & Dragons” e mitologia de J. R. R. Tolkien, os temas de críticas sociais (que muitas vezes possuem uma orientação política, e o homem em si é deixado de lado), ou a infantilidade do paganismo/satanismo que muitos teimam (sinceramente, falar nesse tipo de coisa é admitir que não tem mais o que dizer).

Onde foi parar a força positiva que sentíamos nos anos 80 e 90? E quando foi que o Metal virou um velho senil que repete a mesma ladainha chata? Onde foram parar as criticas legais e bem feitas de bandas como RUNNING WILD, HELLOWEEN e GAMMA RAY (pois Kai Hansen sempre teve um alto astral que transpirava em suas músicas e letras)? Se não fossem nomes como GOJIRA, e alguns poucos, que realmente têm algo construtivo a dizer, o Metal já estaria usando um Papa Nicolau há anos. E no Brasil, há um representante digno dessa positividade construtiva: o trio KAMALA, de Campinas (SP). E dois anos após “Mantra”, e precedido pelo ótimo EP “Consequences Of Our Past - Vol 1”, eles nos brindam com mais um discão: “Eyes of Creation”.

A banda teve uma mudança na formação: saiu o baterista Estevan Furlan, e em seu lugar, entrou Isabela Moraes, que manteve a pegada Thrasher da banda intacta. E musicalmente, o KAMALA está mais amadurecido, com uma agressividade mais enxuta (como se pode ouvir em “Fractal” e “The Seven Deadly Chakras”) e uma noção melodiosa bem mais apurada. Óbvio que a brutalidade da banda diminuiu, mas esse lado mais encorpado é mais uma bela face da musicalidade do trabalho deles que é exposta. O trabalho técnico continua vibrante, mas emoldurada por aquilo que cada música pede. Não há excessos, mas ao mesmo tempo, não é algo simplório.

Traduzindo: “Eyes of Creation” é um passo adiante, olhando para o futuro de cabeça erguida e olhos abertos.

A sonoridade do disco ficou bem mais seca e direta, com timbres instrumentais mais bem definidos. Tudo para que as músicas soem claras e compreensíveis aos nossos ouvidos, ao mesmo tempo em que as melodias ficaram evidenciadas. Mas mesmo assim, há um toque “alive”, já que durante os solos, não existem linhas de guitarra base sob eles. Um trabalho ótimo, digamos de passagem. E a arte é muito bonita, com tons não comuns na capa, e uma diagramação inteligente no encarte.

Se “Mantra” é um disco brutal e com muitos toques de Death Metal, “Eyes of Creation” é mais espontâneo, melodioso e burilado. Os refrões são de assimilação fácil (mesmo em um formato musical tão agressivo), e existem toques experimentais e diferenciados, como a participação de harpas (em “Internal Peace”), mais uma vez o som de didgeridoo é ouvido (em “Purpose in Life”). Partes acústicas também enriquecem o disco, logo, se preparem, pois o KAMALA está com fome de fazer música!

Nove torpedos compõem o repertório de “Eyes of Creation”, todas com suas belezas e particularidades.

O começo de “Internal Peace” é suave, com guitarras acústicas melodiosas, mas logo vem toda fúria Thrasher do trio, com tempos excelentes, refrão grudento e um trabalho muito bom de baixo e bateria. Já usando de um “insight” um pouquinho mais técnico, temos “Stay With Me”, com ótimos tempos e riffs (daqueles cheios de groove moderno). E falando em modernidade, “Open Door” mostra uma ambientação mais abrasiva, e com excelente trabalho dos vocais (os dois vocais ficaram bem encaixados, complementando um ao outro em um contraste muito agressivo). Já em “Something to Learn”, temos algumas passagens mais acessíveis, vindas de influências mais melódicas do grupo, e que encaixaram como uma luva no trabalho da banda. O som de didgeridoo é ouvido no início de “Purpose in Life”, outra em que o peso se baseia em um andamento denso e pesado (reparem como as narrativas com efeitos reforçam o peso azedo da canção). Melodias cheias de groove e transpirando modernidade são os elementos da ótima “Believe” (outra com um trabalho excelente de baixo e bateria), os mesmos elementos que permeiam “Deep Breath” (onde se ouvem partes experimentais, e a bateria é tocada por Marcus Dotta). Mesmo mostrando uma agressividade rasgada e evidente, “Eyes of Creation” é outra canção onde melodias acessíveis aparecem, e são daquelas que qualquer fã de Metal pode assimilar facilmente. E fechando, cheia de melodias mais introspectivas, e com uma ambientação densa, temos “Wake Up”, o perfeito encontro de linhas melódicas bem estruturadas e um toque de agressividade moderna (reparem bem nas guitarras e vocais). E por trás de cada uma das músicas, letras que visam construir, protestar, mas sempre com uma ótima positiva.

Em “Eyes of Creation”, o KAMALA mostra que é mais uma banda cuja música não cabe mais no Brasil. E a banda já se prepara para mais um giro pelo Velho Continente!

Nota: 100%

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

TENEBRÁRIO - Second Act: Pain



Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. Second Act: Pain
2. The Thousand Faces in the Mirror
3. There Are Somethings That Never
4. God Symphony
5. Twins Souls
6. The Other Mountain Dweller
7. The Evil Heart of Stone
8. Sacred Mask
9. Again on the Road
10. O Meu Ser (Uma Imagem no Espelho)
11. Wickedness on Eyes My Dreams (Faixa Bônus)
12. Spirits Obscure Forest (Faixa Bônus)


Banda:


Alexdog - Baixo, vocais
Roberto Bressan - Guitarras
Eduardo Borrego - Guitarras
Claudio Screpetz - Bateria


Ficha Técnica:

Cássio Martins - Produção
Marcelo Pompeu - Produção de “Wickedness on Eyes My Dreams” e “Spirits Obscure Forest”
Ordo Ab Chaos - Capa


Contatos:

Site Oficial:
Twitter:
Instagram:
Assessoria: www.facebook.com/cangacorockcomunicacoes/ (Cangaço Rock Comunicações)


Texto: Marcos Garcia


Algumas vezes, discos não recebem a devida atenção do público quando são lançados. Isso se dá tanto pela avalanche de lançamentos de discos em um dado estilo que esteja em evidência (as famosas “modas” no Metal), tanto pelo descaso dos bangers (algo que pode ter n! motivos). Alguns relançamentos até merecem ser feitos, e o de “Second Act: Pain”, do quarteto paulista TENEBRÁRIO é um deles.

Veterano com 21 anos de Metal e underground nas costas, o quarteto foca suas energias criativas no bom e velho Metal tradicional, só que com uma pegada agressiva que mostra certo toque de Thrash Metal. Isso os torna bem diferentes de alguns clones que andam por aí. Muito peso e energia, com boas linhas melódicas e uma técnica instrumental sóbria, esse relançamento mostra uma banda que pode render mais, e assim, dar muito ao cenário nacional.

A produção é crua e direta, mas sem que se perca a noção de peso, melodia e clareza necessárias. Óbvio que algumas reclamações podem acontecer, mas lembrando: esse disco é um relançamento (o original é de 2006), logo, de lá para cá as condições melhoraram muito. E mesmo assim, está muito boa, e atinge seu propósito.

Mesmo sem mostrar algo novo, a essência musical do trabalho do TENEBRÁRIO mostra uma energia intensa, além de um trabalho bem personalizado. Tudo soa pesado, bem feito, e com ótimos arranjos. Nem parece um disco com 12 anos de idade, para ser sincero.

A longa e pesada “The Thousand Faces in the Mirror” e suas belas harmonias (e que trabalho ótimo das guitarras, com ótimas bases e solos muito bons), a energia crua que flui de “There Are Somethings That Never” (os vocais e os backing vocals estão ótimos), o andamento mais simples e forte de “God Symphony” (uma faixa bem pesada, e a dinâmica entre baixo e bateria está ótima), as sinuosas melodias de “The Other Mountain Dweller” (esse vocais com timbres à lá Hanshi Kürsh realmente impressionam), a pegada pesada e ganchuda de “Sacred Mask” são os melhores momentos de “Second Act: Pain”. E de bônus, temos “Wickedness on Eyes My Dreams” e “Spirits Obscure Forest”, vindas diretamente da Demo Tape “Tenebrário”, de 1997, com uma qualidade sonora crua (algo comum na época), um resgate dos tempos iniciais do quarteto.

Sim, realmente vale a pena ouvir “Second Act: Pain” nos dias de hoje, mas como a banda está na ativa, esperamos algo novo deles para breve.


Nota: 81%

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

LAMÚRIA ABISSAL - Passagem Para o Além Abismo


Ano: 2016
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Cvlminis (Rigorism Productions)
Nacional


Tracklist:

1. Estupor de Viver
2. Orquídea Sangrenta
3. Lavrando Defuntos
4. Solidão
5. Eternal Beauty of Trees (Uaral cover)


Banda:


Reverand Despair - Vocais
Pale - Todos os instrumentos


Ficha Técnica:


Contatos:

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Youtube:
Instagram:
Bandcamp:
Assessoria:

E-mail:

Texto: Marcos Garcia


Ainda nos anos 90, quando a Second Wave of Black Metal começou a deixar as profundezas dos porões do underground de Oslo, Bergen, Copenhagen, Atenas e outras cidades, vários subgêneros do mesmo foram surgindo. E talvez o mais underground deles todos seja o Depressive Black Metal. Poucos se aventuram por ele, e até mesmo são raras as bandas que trilham seus caminhos. No Brasil, há alguns representantes, sendo um dos mais conhecidos o LAMÚRIA ABISSAL, do Rio de Janeiro. E eis que temos em mãos o EP “Passagem Para o Além Abismo”, de 2016.

Para início de conversa, o Depressive Black Metal é focado em ambientações soturnas, com tempos lentos e muitas vezes, o uso de teclados reforça a aura melancólica e introspectiva do gênero. Nisso, o dueto sabe usar bem esses elementos, mas indo além, pois usam um trabalho bem feito de guitarras, baixo e bateria dão o peso necessário, e bons contrastes entre vocais rasgados e outros mais agonizantes. Percebe-se claramente que a banda evoluiu em relação aos seus primeiros trabalhos, ficando mais diversificada em termos de variações de ritmo, inclusive porque algumas de suas canções são bem grandes. E digamos de passagem: esses dois entendem muito bem do que estão fazendo.

Em termos de sonoridade, o grupo conseguiu associar uma boa dose de clareza à sujeira crua que é uma das características do Depressive Black Metal. Tudo pode ser compreendido sem grandes esforços, os timbres instrumentais são muito bons, e tudo está em seu devido lugar.

Com letras em português e muita disposição, o LAMÚRIA ABISSAL é uma banda bem articulada e sabe usar de sua experiência para pegar o gênero e expandir fronteiras. Mesmo os fãs puritanos de Black Metal terão que tirar o chapéu para o trabalho deles, pois como arranjam bem suas músicas.

E se preparem, pois as cinco canções de “Passagem Para o Além Abismo” são autênticas viagens por um mundo obscuro, melancólico e agressivo. O peso opressivo de “Estupor de Viver” é suave e introspectivo, permeado por vocais agonizantes bem colocados. Em “Orquídea Sangrenta”, temos o contraste entre vocais rasgados e riffs agressivos com teclados fúnebres; e a canção em si tem um jeito simples, mas envolvente. Um pouco mais voltada ao Black Metal tradicional da SWOBM é “Lavrando Defuntos”, com suas boas mudanças de ritmo. Ainda com muitas variações rítmicas (reparem no uso dos bumbos duplos) e ótimas guitarras, “Solidão” retoma o lado mais introspectivo e denso da música da dupla (e pode se sentir até uns toques melodiosos vindos do Heavy Metal Tracional em algumas partes). E “Eternal Beauty of Trees” é uma versão da banda para uma canção do extinto grupo chileno de Folk/Doom Metal UARAL, que está soando totalmente melancólica, apesar de várias partes mais agressivas.

Se eles já mostravam esse nível em 2016, mal posso esperar para apreciar “Eterno Outono da Alma”, disco mais recente deles.

Nota: 89%

DAMAGEWAR - Dead Skin Devourer



Ano: 2018
Tipo: Extended Play (EP)
Selo: Independente
Nacional


Tracklist:

1. Dead Skin Devourer
2. God of Chaos
3. Necrozumbí


Banda:


JP Carvalho - Vocais
David Fulci - Guitarras
Maurício Cliff - Baixo


Ficha Técnica:

Damagewar - Produção
Rogério Oliveira - Mixagem, masterização
Kléber Hora - Guitarra solo em “God of Chaos”
Diego Nogueira Sábio - Vocais em “Necrozumbí”


Contatos:

Site Oficial:
Twitter:
Instagram:
Bandcamp:
Assessoria: http://www.metalmedia.com.br/damagewar/ (Metal Media)


Texto: Marcos Garcia


Alguns nomes pequenos dentro do cenário underground são, muitas vezes, mais promissores que gigantes cuja energia e vontade de fazer música em alto nível parece ter se apagado. Isso vem da energia da juventude de uma banda, justamente em um momento em que a renovação se faz necessária. E um nome muito bom dessa nova geração é o DAMAGEWAR, trio de São Paulo (SP) que acaba de liberar seu segundo trabalho, um EP digital chamado “Dead Skin Devourer”.

Rotular o trabalho da banda meramente como Death/Thrash Metal é ser muito simplista. Há muito da vibração HC, toques de Groove e mesmo algumas mínimas influências modernas aqui e ali. E sim, eles têm muita personalidade na abordagem de seu estilo, uma energia brutal e envolvente, com bons arranjos e uma música agressiva até os dentes, mas bem construída em termos de harmonias.

A banda fez uma boa produção em termos sonoros. Tudo soa bruto e opressivo, seja nos momentos mais velozes ou nos mais cadenciados, mas sempre com muito peso e também com enorme clareza. E como são ouvidos todos os detalhes, percebe-se que a banda escolheu uma timbragem muito boa, onde conseguem soar pesados, mas sem que o ouvinte perca a noção do que está sendo tocado.

O DAMAGEWAR veio para ser o pesadelo de muitos puritanos de várias vertentes, já que a única coisa que a banda respeita é a própria criatividade. Mesmo se classificando como Death/Thrash Metal e sendo um murro nos tímpanos de tanta agressividade, há influências diferenciadas em muitos pontos, logo, preparem-se.

“Dead Skin Devourer” é uma voadora direta e seca nos ouvidos, brutal e com aquelas levadas Thrashers das guitarras que empolgam, mas com alguns momentos mais extremos nos blast beats diretamente do Death Metal. Em “God of Chaos”, a velocidade dos andamentos cai um pouco, privilegiando o trabalho esmagador de baixo e bateria, além de um solo muito bem colocado. E o pesadelo que beira o Thrash/Crossover “Necrozumbí” é cheia de vocais ótimos, com timbres variados.

A banda faz um bom trabalho, mas é claro que eles podem ir ainda mais longe musicalmente. E o EP pode ser baixado de graça aqui: https://www.facebook.com/damagewar/photos/a.399942560146815.1073741828.380262282114843/989078147899917/?type=3

Por agora, os becos da Rua Augusta agradecem, pois o DAMAGEWAR é a mais nova gangue de sujeitos mau encarados do underground paulista!

Nota: 87%

ORPHANED LAND - Unsung Prophets & Dead Meassiahs


Ano: 2018
Tipo: Full Length
Nacional


Tracklist:

1. The Cave
2. We Do Not Resist
3. In Propaganda
4. All Knowing Eye
5. Yedidi
6. Chains Fall to Gravity
7. Like Orpheus
8. Poets of Prophetic Messianism
9. Left Behind
10. My Brother’s Keeper
11. Take My Hand
12. Only the Dead Have Seen the End of the War
13. The Manifest - Epilogue


Banda:


Kobi Farhi - Vocais
Chen Balbus - Guitarras, saz
Idan Amsalem - Guitarras, bouzouki
Uri Zelcha - Baixo
Matan Shmuely - Bateria, percussão


Ficha Técnica:

Jens Bogren - Mixagem, masterização
Metastazis - Artwork
Shlomit Levi - Vocais femininos
Steve Hackett - Guitarras em “Chains Fall to Gravity”
Hansi Kürsch - Vocais em “Like Orpheus”
Tomas Lindberg - Masterização, vocais em “Only the Dead Have Seen the End of War”


Contatos:

E-mail:

Texto: Marcos Garcia

Platão

Antes de qualquer coisa, é necessário que o leitor tenha paciência. Esta não é uma resenha comum, e é preciso uma longa introdução.

Em termos de ciência e história, não se pode negar o quanto o filósofo grego Platão (428/427 A.C. - 348/347 A.C.) é importante para a formação e canonização de todo o conhecimento que temos nos dias de hoje. E um de seus maiores legados ao homem é a Alegoria da Caverna, e pode ser encontrada em “A República”. Nessa antiga experiência mental, Platão demonstra que uma pessoa criada nas trevas da ignorância e induzida constantemente ao medo (dentro da caverna), se um dia confronta aquilo que o atemoriza (uma nova realidade e a chegada do conhecimento), sai ignorância e chega ao conhecimento (fora da caverna), mas sofre conflitos e dúvidas durante o processo (os olhos doem pela luz). E se este tenta voltar e ajudar os companheiros de cativeiro na ignorância (aqueles que nasceram e foram criados nas trevas da caverna juntamente com o que fora libertado), estes tenderão a não reconhecer o triste estado em que se encontram e culparão o conhecimento (luz) por aqueles efeitos nocivos que veem no liberto (agora ele mal pode enxergar nas trevas), e assim, lutarão para permanecer na ignorância e matarão aqueles que tentam livrá-los das ilusões em que vivem.

Sócrates
Muitos atribuem a Alegoria da Caverna à experiência de Platão ter testemunhado o próprio mestre, Sócrates (outro que muito contribuiu para tudo que temos em termos de ciências nos dias de hoje), o grande filósofo grego que trouxe o conhecimento a tantos, que livrou tantos da escuridão da caverna, teve contra si os ignorantes.

Sócrates foi acusado 3 crimes:

1. Não acreditar nos costumes e nos deuses gregos (acusação que visa manter status quo religioso e o conservadorismo tradicionalista);

2. Unir-se a deuses malignos que gostam de destruir as cidades (mais uma permeada por conteúdo religioso e poder político temporal);

3. Corromper jovens com suas idéias (nesta, é clara a manutenção do status quo da ignorância, pois é nos jovens esclarecidos que reside a esperança de um mundo melhor no futuro).

Os acusadores: Ânito (que faz parte da classe dos políticos, por ser rico e representar os interesses dos comerciantes e industriais, além de ser poderoso e influente em Atenas), Meleto (poeta trágico desconhecido, foi o acusador oficial, embora nada exigisse que ele, como acusador oficial, fosse o mais respeitável, hábil ou temível, mas somente aquele que assinava a acusação, representava a classe dos poetas e adivinhos) e Lícon (retórico obscuro e o seu nome teve pouca importância e autoridade no decorrer da condenação de Sócrates, e representava a classe dos oradores e professores de retórica). Por trás de cada um, interesses pessoais escusos na condenação de Sócrates. Dado o veredicto de culpado (exílio ou morte), o sábio mestre, por sua vez, preferiu a morte a ser exilado com a língua cortada (o que seria feito para que ele não mais seduzir as pessoas com suas ideais), bebendo cicuta diante de seus discípulos e amigos.

Dr. Martin Luther King
Alguns poucos queriam sua morte por interesses pessoais, o povo alienado segue estes pedidos como se fossem ordens e clamam por sangue, e o sábio mestre, portador da luz do conhecimento, morre. Uma Luz se apaga...

Se pararem para pensar, já não vimos esse mesmo tipo de coisa ocorrendo na história da humanidade desde que os primeiros relatos passaram a ser escritos?
 
Um exemplo: para aqueles que leram alguma vez na vida os livros de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, contidos na Bíblia, quantas e quantas não foram os momentos o povo de Israel, em sua jornada do Egito (de onde haviam sido libertos) até a Terra Prometida, não reclamou se levantou contra seu líder, Moisés, querendo voltar à servidão de onde haviam saído? Ou seja, quantas vezes quiseram retornar para as trevas da ignorância servil? A liberdade plena e o conhecimento demandam esforços, exigem que saiamos das nossas zonas de conforto todos os dias.

Nesse sentido, se pode compreender os motivos que levaram homens como Mahatma Ghandi, Dr. Martin Luther King, o Jesus histórico, Muhammad Anwar el-Sadat, John F. Kennedy, Yitzhak Rabin, e mesmo Antônio Conselheiro e tantos outros, à morte: somos incapazes de sair das trevas da ignorância e abraçar o conhecimento, e dessa forma, criarmos um mundo melhor e pacífico. Podemos dizer que eles são Profetas não ovacionados pelo povo e Messias mortos pela nossa omissão.

Ainda mais profundamente, reparem em quanto ódio é visto nas notícias internacionais, nacionais e mesmo nas redes sociais, na resistência belicosa contra o conhecimento. Preferimos nos alienar na escuridão da ignorância na caverna à encarar a Luz do conhecimento que ilumina e aquece o mundo real.

Mahatma Ghandi
Outros excelentes exemplos em termos de Brasil são os pedidos de muitos por uma novas intervenção militar após o fracasso dos últimos governos democratas, a ausência de batucadas em panelas contra os desmandos do atual governo federal, e mesmo o ódio contra a comunidade LGBTQ+, contra os afrodescendentes, mulheres feministas e outros... Culpamos uns aos outros de crimes e nos odiamos mutuamente, muitas vezes sem motivos e sem que compreendamos as raízes desse mal. Odiamos quem tenta nos conscientizar que existem possibilidades melhores.

E detalhe: NÓS NÃO RESISTIMOS AO ÓDIO, não fazemos oposição real à ignorância, apenas nos omitimos ou assimilamos os sentimentos, travestindo-o como algo nobre... E não nos opondo, nos tornamos cúmplices de tanto sangue derramado... Preferimos e falar (bem ou mal) de celebridades insossas do mundo moderno pelas redes sociais a entender quem foram Sócrates ou Platão e o que eles nos legaram; sabemos mais de reality shows e seus participantes do que sobre ciências e tristes fatos que ocorrem nesse momento pelo mundo e demandam nossa atenção!

Ainda estamos presos à caverna e às trevas!

A Alegoria da Caverna, no fundo, tem por idéia demonstrar “o efeito da educação e a falta da mesma em nossa natureza”, o quanto ela é uma ferramenta preciosa. Mas observando pelo lado discorrido até agora, percebe-se que Platão não só se mostrou um filósofo excepcional, mas sua figura ganha contornos de um profeta, e pararmos para refletir que a Alegoria da Caverna foi escrita há mais de 2500 anos, mas mostra a atualidade do mundo, é uma profecia para nos prevenir do mal!

E esta longa introdução é para que o leitor compreenda um pouco do que é o conceito que permeia “Unsung Prophets & Dead Messiahs”, sexto e mais recente disco do quinteto Israelita ORPHANED LAND. E que ganhou versão nacional pela Shinigami Records (ainda bem)!!!

Muhammad
Anwar el-Sadat
Para os fãs de longa data, fica a pergunta: como a banda está soando agora, após a saída do guitarrista Yossi Sassi, um dos membros fundadores, em 2014?

Sendo o mais direto possível: muito pouca coisa mudou musicalmente.

A banda continua fazendo o estilo que eles criaram nos anos 90, o Oriental Metal, que nada mais é que a fusão do Metal com influências de Death Metal, Doom Metal e mesmo outros gêneros do Metal com melodias e a estética de vários ritmos regionais do Oriente Médio. O que é notável é que a banda retomou algumas influências de “Mabool” e “The Never Ending Way of ORwarriOR”, como o uso de vocais mais agressivos e algumas melodias mais secas, mas mantendo as orquestrações grandiosas, vocais femininos, corais operísticos e estética elegante de “All is One”. Mas ao mesmo tempo, existem arranjos musicais mais dinâmicos e alguns momentos melancólicos e/ou soturnos, justamente para criar uma ambientação densa e perfeita para o trabalho lírico do disco.

Construir uma sonoridade para “Unsung Prophets & Dead Messiahs” não foi um trabalho simples, como se repara em repetidas audições. Existem múltiplas camadas que necessitaram ser encaixadas perfeitamente, e muitos instrumentos diferentes a serem colocados lado a lado, sem se sobreporem. A produção é do próprio quinteto, tendo o gênio Jens Bogren na mixagem e Tomas Lindgren na masterização. Seja nos momentos mais pesados e intensos, nos mais agressivos ou nos mais introspectivos e suaves, tudo ficou perfeito, equilibrando limpeza e agressividade, peso e melodias. Tudo foi levado em consideração, meditado e então feito.

Yitzhak Rabin
Outro ponto a ser ressaltado é a arte gráfica. Usando tons mais claros que o costumeiro no gênero, a ambientação visual cria uma atmosfera perfeita para as canções, sendo que a capa deixa claro todo o contexto lírico do quinteto. Fica clara a referência que a caverna é mantida por poderes temporais, envolvendo todo o mundo. Mas que a sabedoria e o conhecimento são o punho da resistência, da libertação.

Musicalmente mais denso e introspectivo que “All is One” (que tinha uma ambientação mais acessível), “Unsung Prophets & Dead Messiahs” é complexo, mas não é tão difícil de ser assimilado em poucas audições. O ORPHANED LAND continua sendo ousado e criativo dentro do estilo que criou para si, sabendo fazer belos contrastes musicais. Curiosamente, existem vários “point blanks” no disco (aqueles os famosos bips da censura que surgem em músicas e programas de TV quando alguém fala um palavrão), em várias canções, que são propositais e ali estão em uma forma de autocensura da banda, para criar uma idéia de quem nem tudo pode ser dito, pois poderia destruir a caverna de muitos. Além disso, a mensagem da banda se tornou universal, pois ela fala a todos nós com clareza enorme.

Falar sobre cada canção de “Unsung Prophets & Dead Messiahs” se faz necessário. A obra como um todo merece isso, pois cada uma delas é uma jóia preciosa.

O disco abre com a longa e trabalhada “The Cave”, onde existem contrastes de momentos mais amenos e melancólicos com outros mais agressivos (mostrando um ótimo trabalho dos vocais, guitarras muito boas e corais bem encaixados), e se percebem várias citações, entre eles, uma de Platão, que é “Podemos facilmente perdoar uma criança que está com medo da escuridão; a real tragédia da vida é quando os homens estão com medo da luz”, já que a letra lida com a Alegoria da Caverna em si.

Segue-se com os vocais extremados e clima harmonioso de “We Do Not Resist” (os timbres vocais variam bastante, de um gutural inteligível para limpas vozes envolventes), e fica evidente o teor lírico (onde fica claro que preferimos dar atenção a fofocas e celebridades descartáveis todos os dias que saber da verdade triste de muitos, como as 70000 crianças que são seqüestradas todos os anos na Índia).

Profeta Jeremias
A beleza orquestral que envolve as melodias orientais de “In Propaganda” (que belos arranjos de guitarras) toma nossos ouvidos e nos embala, enquanto mostra uma das correntes modernas que nos prende à caverna e suas ilusões: a propaganda midiática, que nos afasta da luz e nos acorrenta.

Em “All Knowing Eye”, tem-se uma música mais amena e melancólica com muitas partes acústicas (embora surja um crescendo de metade dela até o final, todo com instrumentos elétricos), além de belíssimos vocais femininos contrastando com a voz limpa de Kobi (e que belos solos de guitarra). A música é uma lamentação (bem semelhante ao linguajar triste e melancólico usado pelo profeta Yirmeyahu, ou Jeremias, em seus oráculos) pelos profetas e messias que foram mortos por tentaram nos ajudar.

Totalmente feita em ritmos regionais é “Yedidi”, que apesar de ser mais simples, mostra um trabalho refinado de baixo e bateria, sendo que esta é uma adaptação de uma composição por Judah Halevi (1075 -1141), poeta espanhol de origem hebraica (celebrado como um dos grandes poetas hebreus tanto por seus poemas religiosos e/ou seculares) e que foi morto pouco depois de chegar à Terra Santa, ao antigo Reino Latino de Jerusalém (culturalmente, se diz que ele foi atropelado por um cavaleiro árabe enquanto pronunciava uma sionida às portas da cidade).

Profeta Isaías
A bela e melodiosa “Chains Fall to Gravity” vem em seguida com certo toque de melancolia e mesmo alguns toques de Rock Progressivo e orquestrações sinfônicas para adornar as melodias orientais, e de quebra, a participação de Steve Hackett, guitarrista do GENESIS, nos solos (retribuindo a participação de Kobi em seu último disco solo, “The Night Siren”). Nela, se percebe o processo de quem sai da caverna e é iluminado, e em como essa pessoa se torna um novo Profeta/Messias para a humanidade, e certos trechos parecem identificados com a linguagem profética de Yešayahu (o profeta Isaías).

Primeiro Single de promoção, “Like Orpheus” é uma das canções mais acessíveis e belas do álbum, com linhas melódicas mais simples de serem entendidas, além de um trabalho de primeira de Chen e Idan nos riffs (além da presença especial de Hansi Kürsch, do BLIND GUARDIAN, dando um toque de beleza extra e classe à canção com sua voz). Orpheus (ou Orfeu) é um personagem mitológico cuja música era capaz de encantar monstros e aliviar os tormentos dos que habitavam no mundo dos mortos, onde ele foi para tentar recuperar sua amada esposa, Eurídice. Deixo ao leitor a tarefa de ler sobre este mito.

A bela e curta “Poets of Prophetic Messianism” se segue com muitas harmonias orientais, belos vocais femininos, e cuja letra é uma adaptação de trechos de “A República”, com a icônica citação “Anyone who holds a true opinion without understanding is like a blind man on the right road”, e em uma tradução livre, seria algo como “não seria quem mantém uma opinião verdadeira sem o conhecimento como um cego na estrada correta?A tarefa do Profeta Messiânico é desfazer a cegueira da ignorância, logo, quantos Profetas/Messias já não foram mortos por isso?

Misturando peso, sólidas melodias, corais e partes orquestradas, vem “Left Behind”, uma canção onda Uria e Matan criam uma base rítmica bem sólida e com boa técnica. A letra versa sobre os que permanecem na caverna, mas que desejam se libertar de sua condição de ignorância, da condição de medo e tormentos. O deslumbre do testemunho do Profeta/Messias os faz ansiar por uma nova vida.

Janusz Korczak
Tons orientais progressivos se fundem a passagens harmônicas densas e com declamação quase sussurrada das letras em “My Brother’s Keeper”. A letra fala do sentimento do profeta que o leva a voltar e tentar ajudar os outros. E “Não existo para ser amado ou admirado, mas para amar e agir. Não é tarefa dos que estão à minha volta me amar. Pelo contrário, é minha tarefa ser preocupado com o mundo, como o homem”, citação de Janusz Korczak (22/07/ 1878 ou 1879 - 05 ou 06/08/1942), famoso médico e pedagogo Polonês de origem hebraica, precursor das idéias de direitos das crianças e do reconhecimento da igualdade plena das crianças que conhecemos nas Escolas Democráticas dos dias de hoje. Foi assassinado juntamente com seus educandos no campo de concentração de Treblinka. Poderia ter se salvado fugindo, condição que lhe fora dada no mínimo duas vezes, mas não quis abandonar as crianças e funcionários de seu orfanato.

Mostrando melodias orientais mixadas a partes orquestrais e com belas guitarras, vem a longa e sinuosa “Take My Hand”, uma das canções mais empolgantes. Aqui, é narrada pregação do Profeta/Messias que visa arrancar as pessoas da escuridão, onde ele clama para que segurem sua mão e ele possa guiá-los para um mundo de luz (conhecimento).

George Santayana
Com uma pegada que mixa melodias orientais, partes orquestrais e uma boa dose de brutalidade, vem “Only the Dead Have Seen the End of the War”, com boas mudanças de ritmo e vocais guturais bem agressivos. A participação especial de Tomas Lindberg, do AT THE GATES, mostra toda a vocação mais extrema da canção. A frase que inspira o título, “apenas os mortos viram o fim da guerra”, é erroneamente atribuída a Platão, sendo do filósofo e poeta espanhol George Santayana (16/12/1863 - 26/09/1952), quer por não ser casado ou ter sido visto em relacionamentos heterossexuais, e por sua amizade com bissexuais e homossexuais assumidos, levantou suspeitas de muito sobre sua sexualidade (vejam que tal fato se dá no final da década de 40 do século passado, e era um enorme tabu). Aqui, a reação da turba contra o Profeta/Messias, acreditando que as tribulações causadas pela busca da liberdade foram causadas por eles, que anseiam pela ignorância. Eles o acusam e enfim, o assassinam, para que ele não mais possa mais “enganá-los”. Percebe-se que em certos pontos, a linguagem que foi usada nas letras remete ao mesmo tipo de linguagem que pode ser encontrado no livro de Salmos.

E fechando essa obra de arte em formato musical, “The Manifest - Epilogue”, uma canção densa e que possui citações do Torá (“você não é obrigado a completar o trabalho, mas também não está livre para desistir dele”) e “canções de bravura serão sempre canções novas, sempre”, que é de Víctor Jara (28/09/1932 - 16/09/1973), um professor, diretor de teatro, poeta, cantor, compositor, e músico que causou uma revolução cultural em seu país natal. Ele foi preso, torturado (suas mãos haviam sido esmagadas por coronhas de armas) e executado depois do golpe militar do Chile (sim, o golpe dado por Pinochet), sendo seu corpo jogado em uma rua de uma favela em Santiago, a Estrada Sul, na parte posterior de um cemitério, junto com outros três cadáveres. Possui 44 ferimentos de balas e vários ossos quebrados. Seu crime: a conscientização das camadas mais pobres da sociedade chilena, pois Víctor era um ativista político de esquerda. Aqui, se percebe que a luta dos Profetas e Messias não deve parar por nada, e que mesmo que demore milênios, as trevas cessarão um dia. Nossas esperanças de um mundo melhor não podem morrer conosco, mas devem seguir adiante, como herança para as futuras gerações.

Víctor Jara

Se os leitores não perceberam, cada uma das figuras históricas citadas na resenha são Profetas muitas vezes anônimos e Messias mortos pela sede de poder, riqueza e outros que desejam que os homens permaneçam na cegueira escura da caverna. Ou mesmo dos próprios ignorantes que desejavam permanecer em sua zona de conforto, pois toda mudança em direção ao conhecimento demanda esforços e sacrifícios.

Como a ida do Egito até a Terra Prometida, atravessando um deserto por longos anos...

Como a mudança de comportamento para com as crianças, entendendo que elas são seres humanos...

Como a oposição a um tirano sangrento, pois o medo escraviza...

Como a aceitar as pessoas como boas, independente de etnia, sexualidade ou outros, pois todos somos humanos...

Como se opor aos interesses da indústria armamentista, e fazer cessar os rios de sangue que inundam o mundo...

Como buscar a compreensão entre inimigos históricos, que muitas vezes nem sabem mais os motivos de sua luta...

Como promover a Luz do conhecimento que dissipa a escuridão da ignorância...

Jesus de Nazaré

A mensagem de “Unsung Prophets & Dead Messiahs” é clara, e apesar do teor denso e melancólico, é um chamado para todos. A esperança ainda brilha... Os Profetas e Messias iluminados pelo conhecimento ainda nascem entre nós. Basta ouvi-los em seus sermões, e a ignorância e escravidão imposta por mídia, políticos, religiões e outros irão cessar. Abrace sua liberdade, pois ela é sua.

Ainda existe existe uma versão dupla Deluxe, com 8 músicas bônus vindas do Boxed Set Orphaned Land & Friends 25th Anniversary”.

No mais, o ORPHANED LAND lança mais um disco que é forte candidato a se tornar um clássico do Metal no futuro, e já é um dos grandes discos do ano. Talvez seja um dos grandes discos dos últimos 20 ou 30 anos.

Obrigado, Shinigami Records, por não nos deixar órfãos desse clássico!


“Aquele que desejar mudar o mundo deve começar mudando o sistema de educação” (Janusz Korczak).

“O mundo não será destruído por aqueles que fazem o mal, mas por aqueles que os observa sem fazer nada” (Albert Einstein).

Nota: 100+%