Ano: 2018
Tipo: DVD (Documentário/Ao
vivo)
Selo: Sapólio Rádio Records
Nacional
Tracklist:
1. Documentário
Show:
2. Sua Lei, Minha Lei
3. O Campo
4. Nas Entranhas do
Sol
5. Couro Cru
6. Opressor
7. Moleque de Pedra
8. Modus Vivendi
9. Who Are the True (VULCANO cover)
10. Aos Pés da Grande
Árvore
11. Noite
Banda:
Manu “Joker” - Vocais
Christian Franco -
Guitarras
Thiago Soraggi -
Guitarras
Maurício “Murcego”
Pergentino - Guitarras
Raphael “Ras” Franco
- Baixo, vocais
Marco Henriques -
Bateria, vocais
Ficha Técnica:
Vouglas Eremita - DJ
em “Couro Cru”
Juarez “Tibanha”
Távora - Vocais em “Moleque de Pedra”
Mestre Mustafá - Percussão
em “Noite”
Tatiane Ribeiro - Percussão
em “Noite”
Lílian Salgado - Percussão
em “Noite”
Contatos:
Site Oficial: http://www.uganga.com.br/
Facebook:
https://www.facebook.com/ugangaband
Assessoria: http://somdodarma.com.br/pt/artistas/uganga/
(Som do Darma)
E-mail:
Texto: Marcos Garcia
Fazer Metal ou qualquer estilo de Rock no Brasil sem apoio
de público ou da grande mídia é um ato de coragem. Sim, de muita coragem, de
resistência e vontade de ferro, pois em um país de terceiro mundo, onde o aspecto
financeiro pouco ajuda (e até mesmo atrapalha), tudo é mais difícil, mesmo as
iniciativas seminais. Mas para os raçudos como o pessoal do UGANGA, isso parece ser algo motivador.
E “Manifesto Cerrado”, DVD que
celebra os 20 anos da banda, é uma mostra disso.
Óbvio que falar do Thrashcore/Crossover eclético do grupo é
desnecessário. É denso, sujo e com cheiro de becos, mas cheio de influências de
dos mais variados estilos de Metal, e mesmo algumas coisas de fora. Por isso
cai bem, pois pouco tem com bandas que rebuscam uma sonoridade mais anos 80, e
pouco com as bandas Hardcore mais jovens e melodiosas.
Antes de tudo, é preciso esclarecer que o DVD é composto de
duas partes:
1. Documentário: onde os 20 anos da banda são contatos;
2. Show ao vivo: uma apresentação especial do grupo em uma
antiga estação de trem, o espaço Stevenson, em Araguari (MG).
Primeiramente, falemos do documentário.
Em 20 anos de atividade, muita coisa acontece. E o
interessante é que existe documentação em vídeo, com takes de participação em
programas na MTV (um deles, com o vocalista Manu ainda na bateria), cenas de shows antigos (inclusive um onde
levaram um cover para “Tearing” do ROLLINGS BAND), filmagens da gravação
do primeiro disco, entre outras, inclusive gravações de quando a banda ainda se
chamava GANGA ZUMBA, entre outros.
Mas um dos momentos mais legais é mesmo quando a banda é
exibida durante as gravações de “Opressor”
(último disco de estúdio do grupo), onde o produtor Gustavo Vazquez fala de sua visão sobre o disco (inclusive a
pré-produção, pois temos takes de Gustavo
na troca da caixa de bateria, para ilustrar essa parte do processo de criação
do disco). Ainda encontramos Arthur
do VULCANO comentando o cover para “Who Are the True”, Murillo do GENOCÍDIO falando da participação de Manu em “I Deny” (do CD “In Love
With Hatred”) e de sua participação no solo de “Who Are the True”, Juarez
do SCOURGE aparece gravando sua
participação em “Opressor”, de Ralf Klein (do MACBETH)... É muita coisa, tanto que boa parte do documentário é
focado nas gravações e estresses ocorridos nesse período.
Nos takes da passagem do quinteto pela Europa, há momentos
hilários de pura descontração que contrastam com a energia crua do quinteto em
suas apresentações. Os comentários da galera do TERRORDOME ilustram bem isso. Há ainda depoimentos de Eliton Tomasi (manager e assessor de
imprensa da banda), falando de como estava sendo o contato da banda com o Velho
Continente.
Já na volta ao Brasil, temos um pedaço da entrevista de Manu no programa “Pegadas de Andreas Kisser”, cenas do casamento de Thiago (o pessoal mais true não vai
comprar esse DVD por isso). Mas há também os comentários sobre as contusões dos
integrantes na época (todo mundo teve uma), e outros problemas eternos que
realmente levaram os integrantes a outro nível de estresse que realmente quase
levou o grupo a seu fim.
Mas pelo visto, isso foi só para fortalecer o grupo. As
dúvidas que a banda tinha foram levadas diretamente do documentário para o
show.
Nisso, podemos falar sobre a apresentação ao vivo.
Na época, o processo de pré-produção desgastou a banda, e os
problemas de saúde, pessoais, familiares e outros que são narrados no documentário
realmente os colocaram em um momento de “ou dá ou desce”, ou seja, de
questionamento se valia a pena continuar a banda ou pararem por ali. A cereja
do bolo é o afastamento de um ano de Christian
por conta da saúde.
No depoimento escrito que antecede o show, se percebe a
intensidade do que eles passaram, tanto que apresentação é bem diferente, com a
banda tocando em círculo, ou seja, os integrantes olhavam apenas uns para os
outros. Além disso, a apresentação só teve familiares, amigos, parceiros,
equipe. Traduzindo: somente pessoas próximas estiveram presentes nessa
apresentação.
No repertório, pancadas retas e diretas que remetem a todos
os discos do grupo, em um setlist bem variado. Percebe-se que realmente há uma
energia densa, quase que palpável, cercando o quinteto. E essa energia se
distribuiu bastante por todas as canções, resultando em versões arrasadoras
para “Sua Lei, Minha Lei” (caos
total, energia positiva fluindo aos montes),
“Nas Entranhas do Sol” (uma canção mais densa, pesada e azeda, cm clara
influência do BLACK SABBATH em muitas partes), “Couro Cru” (uma versão mais atual
desse Hardcore bruto e direto, com a presença de “scratchs” de DJ Eremita),
a agressividade rasgada de “Moleque de
Pedra” (onde Juarez do SCOURGE faz uma participação, mesmo
acidentado, mostrando o que é a fraternidade de quem é da “Old School” aos mais
jovens), a mais cadenciada “Modus
Vivendi”, a insanidade caótica da versão para “Who Are the True” do VULCANO
(a participação de Maurício “Murcego”
Pergentino acrescentou ainda mais peso e um toque de Rock ‘n’ Roll às
guitarras), e “Aos Pés da Grande Árvore”
(outra pancada). Encerrando, com um toque tribal/mulato à apresentação, os
atabaques de Mestre Mustafá, Tatiane
Ribeiro e Lílian Salgado em “Noite” (um encerramento meramente
percussivo que serve para evocar o significado do nome UGANGA). E através dessa energia que fluiu da música durante todo
o show realizou um exorcismo e revitalizou o quinteto, que já está pronto para
novos desafios.
O trabalho da edição e captação de vídeo de Eric Shunway, mais a captação, mixagem
e masterização de Gustavo Vazquez
valorizaram muito “Manifesto Cerrado”,
pois tanto em termos de imagem quanto de som não há o que reclamar. Alías,
diga-se de passagem: pela que se vê e ouve no show, o som do UGANGA é bem orgânico, longe da busca
da perfeição em estúdio. O som é o que eles tocam ao vivo, pura e simplesmente.
O lado gráfico ficou ótimo, pois além da capa muito boa
criada por Marco Henriques (baterista
do grupo e irmão de Manu), mas o
encarte é muito legal, recheado daquelas colagens de fotos tão comuns dos anos
80, e que são bem pouco utilizadas nos dias de hoje.
Encerrando: “Manifesto
Cerrado” mostra que a família UGANGA
está mais unida que nunca, e que está afiada para novos compromissos sonoros. E em uma boa iniciativa do Poder Público, o DVD foi financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Araguari (MG), sendo que o documentário foi exibido no Museu da Imagem e do Som (MIS) / Cine Santa Tereza, no mês de Junho de 2017 como parte da programação oficial do projeto “Mostra Minas no Metal”, evento que foi paralelo ao festival “Monster Of Metal”.
Ah, sim: tanto o documentário quanto o show foram disponibilizados pela banda no Youtube, visando democratizar ao máximo o acesso das pessoas ao lançamento. Mas merece muito a aquisição da versão física.
Ah, sim 2: este autor se permitiu abordar o documentário antes do show por mera conveniência.
Ah, sim 2: este autor se permitiu abordar o documentário antes do show por mera conveniência.
Nota: 96%
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