segunda-feira, 18 de junho de 2018

UGANGA - Manifesto Cerrado


Ano: 2018
Tipo: DVD (Documentário/Ao vivo)
Nacional


Tracklist:

1. Documentário

Show:

2. Sua Lei, Minha Lei
3. O Campo
4. Nas Entranhas do Sol
5. Couro Cru
6. Opressor
7. Moleque de Pedra
8. Modus Vivendi
9. Who Are the True (VULCANO cover)
10. Aos Pés da Grande Árvore
11. Noite


Banda:


Manu “Joker” - Vocais
Christian Franco - Guitarras
Thiago Soraggi - Guitarras
Maurício “Murcego” Pergentino - Guitarras
Raphael “Ras” Franco - Baixo, vocais
Marco Henriques - Bateria, vocais


Ficha Técnica:

Vouglas Eremita - DJ em “Couro Cru”
Juarez “Tibanha” Távora - Vocais em “Moleque de Pedra”
Mestre Mustafá - Percussão em “Noite”
Tatiane Ribeiro - Percussão em “Noite”
Lílian Salgado - Percussão em “Noite”


Contatos:

E-mail: 

Texto: Marcos Garcia


Fazer Metal ou qualquer estilo de Rock no Brasil sem apoio de público ou da grande mídia é um ato de coragem. Sim, de muita coragem, de resistência e vontade de ferro, pois em um país de terceiro mundo, onde o aspecto financeiro pouco ajuda (e até mesmo atrapalha), tudo é mais difícil, mesmo as iniciativas seminais. Mas para os raçudos como o pessoal do UGANGA, isso parece ser algo motivador. E “Manifesto Cerrado”, DVD que celebra os 20 anos da banda, é uma mostra disso.

Óbvio que falar do Thrashcore/Crossover eclético do grupo é desnecessário. É denso, sujo e com cheiro de becos, mas cheio de influências de dos mais variados estilos de Metal, e mesmo algumas coisas de fora. Por isso cai bem, pois pouco tem com bandas que rebuscam uma sonoridade mais anos 80, e pouco com as bandas Hardcore mais jovens e melodiosas.

Antes de tudo, é preciso esclarecer que o DVD é composto de duas partes:

1. Documentário: onde os 20 anos da banda são contatos;
2. Show ao vivo: uma apresentação especial do grupo em uma antiga estação de trem, o espaço Stevenson, em Araguari (MG).

Primeiramente, falemos do documentário.

Em 20 anos de atividade, muita coisa acontece. E o interessante é que existe documentação em vídeo, com takes de participação em programas na MTV (um deles, com o vocalista Manu ainda na bateria), cenas de shows antigos (inclusive um onde levaram um cover para “Tearing” do ROLLINGS BAND), filmagens da gravação do primeiro disco, entre outras, inclusive gravações de quando a banda ainda se chamava GANGA ZUMBA, entre outros.

Mas um dos momentos mais legais é mesmo quando a banda é exibida durante as gravações de “Opressor” (último disco de estúdio do grupo), onde o produtor Gustavo Vazquez fala de sua visão sobre o disco (inclusive a pré-produção, pois temos takes de Gustavo na troca da caixa de bateria, para ilustrar essa parte do processo de criação do disco). Ainda encontramos Arthur do VULCANO comentando o cover para “Who Are the True”, Murillo do GENOCÍDIO falando da participação de Manu em “I Deny” (do CD “In Love With Hatred”) e de sua participação no solo de “Who Are the True”, Juarez do SCOURGE aparece gravando sua participação em “Opressor”, de Ralf Klein (do MACBETH)... É muita coisa, tanto que boa parte do documentário é focado nas gravações e estresses ocorridos nesse período.

Nos takes da passagem do quinteto pela Europa, há momentos hilários de pura descontração que contrastam com a energia crua do quinteto em suas apresentações. Os comentários da galera do TERRORDOME ilustram bem isso. Há ainda depoimentos de Eliton Tomasi (manager e assessor de imprensa da banda), falando de como estava sendo o contato da banda com o Velho Continente.

Já na volta ao Brasil, temos um pedaço da entrevista de Manu no programa “Pegadas de Andreas Kisser”, cenas do casamento de Thiago (o pessoal mais true não vai comprar esse DVD por isso). Mas há também os comentários sobre as contusões dos integrantes na época (todo mundo teve uma), e outros problemas eternos que realmente levaram os integrantes a outro nível de estresse que realmente quase levou o grupo a seu fim.

Mas pelo visto, isso foi só para fortalecer o grupo. As dúvidas que a banda tinha foram levadas diretamente do documentário para o show.

Nisso, podemos falar sobre a apresentação ao vivo.

Na época, o processo de pré-produção desgastou a banda, e os problemas de saúde, pessoais, familiares e outros que são narrados no documentário realmente os colocaram em um momento de “ou dá ou desce”, ou seja, de questionamento se valia a pena continuar a banda ou pararem por ali. A cereja do bolo é o afastamento de um ano de Christian por conta da saúde.

No depoimento escrito que antecede o show, se percebe a intensidade do que eles passaram, tanto que apresentação é bem diferente, com a banda tocando em círculo, ou seja, os integrantes olhavam apenas uns para os outros. Além disso, a apresentação só teve familiares, amigos, parceiros, equipe. Traduzindo: somente pessoas próximas estiveram presentes nessa apresentação.

No repertório, pancadas retas e diretas que remetem a todos os discos do grupo, em um setlist bem variado. Percebe-se que realmente há uma energia densa, quase que palpável, cercando o quinteto. E essa energia se distribuiu bastante por todas as canções, resultando em versões arrasadoras para “Sua Lei, Minha Lei” (caos total, energia positiva fluindo aos montes), “Nas Entranhas do Sol” (uma canção mais densa, pesada e azeda, cm clara influência do BLACK SABBATH em muitas partes), “Couro Cru” (uma versão mais atual desse Hardcore bruto e direto, com a presença de “scratchs” de DJ Eremita), a agressividade rasgada de “Moleque de Pedra” (onde Juarez do SCOURGE faz uma participação, mesmo acidentado, mostrando o que é a fraternidade de quem é da “Old School” aos mais jovens), a mais cadenciada “Modus Vivendi”, a insanidade caótica da versão para “Who Are the True” do VULCANO (a participação de Maurício “Murcego” Pergentino acrescentou ainda mais peso e um toque de Rock ‘n’ Roll às guitarras), e “Aos Pés da Grande Árvore” (outra pancada). Encerrando, com um toque tribal/mulato à apresentação, os atabaques de Mestre Mustafá, Tatiane Ribeiro e Lílian Salgado em “Noite” (um encerramento meramente percussivo que serve para evocar o significado do nome UGANGA). E através dessa energia que fluiu da música durante todo o show realizou um exorcismo e revitalizou o quinteto, que já está pronto para novos desafios.

O trabalho da edição e captação de vídeo de Eric Shunway, mais a captação, mixagem e masterização de Gustavo Vazquez valorizaram muito “Manifesto Cerrado”, pois tanto em termos de imagem quanto de som não há o que reclamar. Alías, diga-se de passagem: pela que se vê e ouve no show, o som do UGANGA é bem orgânico, longe da busca da perfeição em estúdio. O som é o que eles tocam ao vivo, pura e simplesmente.

O lado gráfico ficou ótimo, pois além da capa muito boa criada por Marco Henriques (baterista do grupo e irmão de Manu), mas o encarte é muito legal, recheado daquelas colagens de fotos tão comuns dos anos 80, e que são bem pouco utilizadas nos dias de hoje.

Encerrando: “Manifesto Cerrado” mostra que a família UGANGA está mais unida que nunca, e que está afiada para novos compromissos sonoros. E em uma boa iniciativa do Poder Público, o DVD foi  financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Araguari (MG), sendo que o documentário foi exibido no Museu da Imagem e do Som (MIS) / Cine Santa Tereza, no mês de Junho de 2017 como parte da programação oficial do projeto “Mostra Minas no Metal”, evento que foi paralelo ao festival “Monster Of Metal”. 

Ah, sim: tanto o documentário quanto o show foram disponibilizados pela banda no Youtube, visando democratizar ao máximo o acesso das pessoas ao lançamento. Mas merece muito a aquisição da versão física.

Ah, sim 2: este autor se permitiu abordar o documentário antes do show por mera conveniência.

Nota: 96%


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