Por “Metal Mark” Garcia
Nesses tempos em que crenças pessoais e ideologias
militantes assolam o Metal, muitas bandas têm metido os pés pelas mãos e caído
em arapucas. Por isso, pouquíssimos são aqueles que poderiam entrar no time de
SEPULTURA, ANGRA e KRISIUN como bandas brasileiras que têm relevância no
mercado internacional. E a idéia é simples: todos têm aniquilado seu potencial
comercial por motivos a serem dissertados nesse texto.
Por “potencial comercial”, entenda-se a capacidade de uma
banda de Metal tem de crescer sob certas condições, e assim, alcançar sucesso
comercial (ou seja, em vendas de discos e merchandising). Ou seja, é quanto a banda pode crescer tendo os devidos investimentos.
Ilustrando o que quero dizer por meio de alguns exemplos históricos.
Nos anos 80, era muito comum que bandas que vinham de selos independentes
ter uma sonoridade com energia e mais crua, e ao entrarem em uma grande
gravadora, sofriam alterações. As gravadoras contratavam produtores para
moldarem (o mais certo seria “polir”) a música de determinado grupo ao público
vigente, o que era uma estratégia que podia render bons frutos, mas que também
poderia significar fracasso. Nisso, as gravadoras estavam tentando maximizar o
potencial comercial desses grupos, mas obviamente erravam mais que acertavam.
Não era uma questão bem X mal, mas meramente financeira.
RAVEN: Este é um ótimo exemplo no sentido negativo de potencial
comercial.
RAVEN antes da era da Atlantic Records |
O trio inglês vinha em uma ascensão em termos de público desde
que lançaram “Rock Until You Drop”, e com 3 discos, era uma potência dentro
do underground, tanto que o METALLICA
foi banda de abertura na época da “Kill
‘em All For One Tour”. Mas bastou entrarem em uma “major” (a Atlantic Records) que fizeram “Stay
Hard” (em 1985, para se exato), um disco que assustou os fãs da época, pois
era bem mais voltado ao que fazia sucesso no mercado norte-americano (ou seja,
Hard/Glam como MÖTLEY CRÜE, RATT e
outros) que a seu jeito Hard/Heavy clássico. Foi um golpe duro aos fãs mais antigos, e a situação piorou ainda mais
com “The
Pack is Back” (de 1986). A coisa foi tão feia que a banda, que poderia
ter sido um novo IRON MAIDEN ou JUDAS PRIEST em termos de sucesso (sim,
eles tinham potencial para tanto) ficou apequenada pelo resto de sua carreira.
Se de um lado perderam muitos fãs (que os trocaram por bandas emergentes
daqueles anos), não conseguiram criar uma base sólida de novos fãs que os
permitissem crescer mais. O potencial comercial do grupo (que não era pequeno) foi
perdido por uma enorme falta de estratégia de como lidar com a banda e sua
música. E se completou com a perda do “timing”, pois a NWOBHM estava perdendo
forças e o Thrash Metal começava a crescer e ter apoio das gravadoras grandes.
Basta ver o sucesso comercial de “Master of Puppets”, também de 1986).
O RAVEN teve que se contentar em ser
uma banda “Cult” pelo resto de sua existência, mesmo fazendo ótimos discos de
1987 para cá.
Capa de “The Pack is Back”. Reparem na diferença de visual entre o passado e esse disco. Mais Glam impossível. |
Outros como PICTURE
(tanto que “Traitor”, de 1985, eclipsou quase tudo que a banda havia feito
de bom antes), SAVATAGE (“Fight
for the Rock”, de 1986 só não causou estragos piores porque, um ano
depois, lançaram o ótimo “Hall of the Mountain King”, mas
nunca cresceram o que podiam) caíram nessa mesma arapuca. O hoje chamado
clássico do ACCEPT, “Metal
Heart” (de 1985), teve uma recepção cheia de narizes torcidos por parte
dos fãs naqueles tempos por conta de elementos mais acessíveis em suas músicas.
Uma clara mostra que os fãs desse tipo de Metal não aceitavam mudanças, e como o próprio público estava mudando (lembrando: a NWOBHM e bandas de Metal tradicional em geral estavam perdendo espaço para o Thrash Metal, enquanto o Hard/Glam e o AOR reinavam supremos nas paradas de sucesso).
Uma clara mostra que os fãs desse tipo de Metal não aceitavam mudanças, e como o próprio público estava mudando (lembrando: a NWOBHM e bandas de Metal tradicional em geral estavam perdendo espaço para o Thrash Metal, enquanto o Hard/Glam e o AOR reinavam supremos nas paradas de sucesso).
Exemplo positivo: METALLICA.
RAVEN e METALLICA durante a “Kill ‘em All For One Tour” |
Talvez seja o maior exemplo de todos de quem sabe aproveitar
oportunidades.
Disco após disco, sempre cresceram até o sucesso de “Metallica”,
mas se observarmos direito, eles sempre usaram estratégias de marketing
interessantes, e nunca perderam o “timing”. Estavam sempre no lugar certo, na
hora certa e fazendo a coisa certa. Mesmo as idas na direção oposta (o fato de
não gravarem vídeos, os discursos contra o Hard/AOR que infestava o cenário dos
EUA), e mesmo as brigas com Dave Mustaine na imprensa e a (infeliz) passagem de Cliff Burton os ajudou. Óbvio que tudo isso sempre embasado em músicas de alto nível. Aliás, a banda não fazia concessões, era do jeito deles ou não era (apenas em “Metallica” isso foi mudado, pois a visão de Bob Rock os ajudou a chegarem no próximo nível).
Fonte: Metalhead Zone |
O mesmo vale para KISS
(ou acreditam que a presença de Bob Ezrin
na produção de “Destroyer”, a guinada para o Hard/Glam nos anos 80, o final da
fase mascarada, e mesmo a turnê com a formação original e usando as maquiagens
não foram estratégias bem pensadas?),
IRON MAIDEN (na biografia “Run to the Hills” se vê como as
presenças de Rod Smallwood e de Martin Birch foram importantes em
termos de estratégia e mesmo de música) e outros que estão ou no time dos
gigantes ou dos grandes. Mesmo o AC/DC
com toda sua atitude ‘fuck you’ teve que se curvar diante da sabedoria comercial
de “Mutt” Lange (duvido que queriam ter que trabalhar em empregos comuns na Austrália depois de terem tantos discos lançados). É preciso algo além
da música em si para se chegar lá. É preciso estratégia de marketing, e tudo mais que
for possível para que a banda atinja o maior número de fãs possível. Mesmo
algumas polêmicas podem ajudar (Ozzy
que o diga).
Estabelecida a definição de potencial comercial e seus exemplos, podemos
analisar um momento histórico problemático: a atual fragmentação do cenário nacional em torno de ideologias políticas. Elas podem ser abordadas como um problema severo e perigosas ao potencial comercial de qualquer grupo (menos os que são gigantes, pois estão acima do bem e do mal).
No Brasil, vemos um tiroteio ideológico de todos os lados.
Uns exigem que as bandas se postem politicamente (como se alguém fosse obrigado
a isso); o outro lado, por sua vez, defende que o Metal não possui uma
ideologia partidária. Em ambos os casos, um bom profissional diria que não se
deve cair nesse tipo de armadilha, justamente para não se limitar em termos de
público. Em uma visão simplesmente pragmática em termos de marketing, não existem fãs de esquerda ou direita em termos financeiros, apenas
fãs que pagam pelo trabalho das bandas. Repetindo de forma mais simplificada e clara: não existem fãs opressores e nem fãs oprimidos, existem fãs!
Vejam bem: no momento em que os ânimos estão divididos entre
esquerda e direita, exigir que uma banda se posicione de um lado nessa briguinhas de crianças no pátio de escola (perdoem-me ser sincero, mas é a impressão que tenho) é desagradar um ou outro
segmento. A conseqüência óbvia é a perda de uma fatia de público, e isso em uma
época em que a venda de discos e audições via streaming não rendem quase nada
para os grupos. Estes sobrevivem com venda de merchandising e cachê de shows
(aquelas que são suficientemente grandes para tanto), logo, isso significa a
perda de dinheiro, e assim, a banda vai definhando até sumir de cena. Sinto
muito, mas sentimentalismos underground (e ideologias) não pagam as contas... E ninguém fica gastando do próprio bolso ad infinitum sem ter alguma compensação, a menos tenha ótimas condições (o que o feria opositor de um dos segmentos citados).
Se isso ocorresse nos anos 80, no auge do poder das grandes
gravadoras, é certo que alguém delas daria uma bela bronca em engraçadinhos do tipo. Sim,
isso daria um belo chute nos fundilhos de quem queria se posicionar. A
gravadora queria lucrar, logo, nada mais simples que dispensar os insatisfeitos com suas decisões, pois eles, se não vendem, são dispensáveis.
Sendo sincero: todas as bandas que se meteram nesse balaio
de gato ideológico deram um imenso tiro no pé (se é que sobrou algo do pé depois de tantas palhaçadas). Em uma perspectiva futura, o número
de audições nas plataformas digitais diminuirá, e a mesma coisa pode ocorrer
com a presença do público em shows. Se as mesmas já tocam fora, é possível
minimizar esse dano, mas as restritas ao Brasil vão sentir isso mais duramente. Danificaram
a potencialidade de angariar público, ou seja, de aumentar a receita financeira
que oxigena a carreira do grupo, pois nenhum fã gosta de ser ofendido em suas pessoalidades (ao qual todos têm direito, mesmo que o leitor discorde disso). Talvez
por isso uma das bandas que mais se posicionou politicamente antes do pleito do ano passado tenha encerrado as
atividades: viram a conseqüência dos próprios atos. Tanto é assim que viraram
piada nas redes sociais, até bem mais que foram apoiados. Perderam mais que
ganharam, não importam ideologias.
Óbvio que este autor sabe (e viu) da tal lista de bandas ditas
“antifas” que anda rolando pela internet, e que traduzindo em miúdos, são as que se posicionaram politicamente
em prol da esquerda. Por tudo que posso ver, o encolhimento comercial de cada
uma delas é questão de tempo. Inclusive os músicos estão marcados por uma
enorme parcela do público, que pelo visto, os perseguirá de tal forma que tudo
que tentem pode dar burros n’água. Repetindo: comercialmente, uma banda não tem
fãs de esquerda ou direita, mas tem fãs. Ao autor da lista, se ler estas palavras, digo que seu tiro saiu pela culatra: o número de pessoas que afirmou que usará esta lista para evitar essas bandas é enorme. Jogou contra o próprio patrimônio. Se tem banda, se é produtor, enfim, alguém que depende um pouco que seja de capital de giro, errou, ainda mais em tempos que sigilo é algo praticamente inexistente em redes sociais.
Há aqueles que desejam ficar fora dessa estória, inclusive
com declarações óbvias. O fato de KORZUS,
TORTURE SQUAD e outros estarem com essa posição neutra significa que estão, muito
provavelmente, preocupados com suas carreiras a longo tempo, e porque (sabiamente) discordam de ambos os lados nessa peleja cômica (ambas as bandas falaram isso com todas as palavras nos eventos em que existiram manifestações políticas por parte dos fãs). E como dito antes,
ninguém tem que ter posição política explícita, a lei garante isso. Se
posicionar pró ou contra o atual governo do Brasil, pró ou contra os
anteriores, vai terminar em desgaste com o público e perdas que podem não ser reparadas, a
menos que as bandas tenham suporte financeiro do exterior (ou seja, já tenha público cativo no exterior).
O melhor conselho: deixar que a música falar por si (para as
bandas que gostam desse tipo de tema) sem alimentar polêmicas desnecessárias nesse assunto, e não fazer de seus shows comícios. Aliás,
uma crítica: qual banda dessas que foi chamada para fazer comício político? Há
anos o Metal sempre foi ignorado por partidos e candidatos políticos, enquanto
pagam fortunas por artistas mais populares. Sim, nenhum deles vai lá sem ganhar
grana ou alguma divulgação (lembremos que a MPB está, criativamente falando, falida há anos, logo, seus
artistas precisam se mostrar vez por outra, pois musicalmente é um estilo
esgotado). Deixem de ser bobos, façam música, toquem e pronto, ninguém quer
saber de suas vidas ou ideologias, quanto mais de suas opiniões partidárias ainda mais quando
tentam enfiar isso goela abaixo dos outros, em uma mostra de que não sabem viver em democracia e não respeitam o direito de expressão e pensamento alheios. Querem para si, mas nunca para quem não bate palmas para maluco dançar nessa tragicomédia em que transformaram o cenário.
KORZUS |
Óbvio que todos podem (e devem ter) um pensamento político,
e mesmo partidário, pois é direto constituído. Agora devem manter isso em seus devidos particulares, sem agredirem a outros (como teimam em fazer no Brasil) por pensarem diferentes, pois fãs agredidos são fãs que não pagam pelos seus trabalhos, são fãs que não vão mais aos seus eventos, não usam suas camisas, não ouvem suas músicas. E se serve de termômetro,
são menos “likes” em suas páginas no Facebook.
Se alguém viu partidarismo aqui, lhes direi apenas para
tirarem a venda dos olhos. Estou falando de aspectos financeiros e adjacências,
e sendo mais honesto que muitos bobocas políticos são. Não bato palmas para
maluco dançar como alguns professores falidos fazem, te vendendo luxo como lixo em uma série de mentiras em que eles mesmos não acreditam. Desculpem, mas ninguém é fascista-machista-homofóbico e outros gritos de ordem vazios só porque discorda de vocês e de sua agenda ideológica, e nem me venham com perguntas estilo “você acha que...”, pois não caio em arapucas do tipo. Este autor é PRÓ METAL, entenderam? P-R-Ó-M-E-T-A-L, letra por letra, para ver se soletrando suas mentes emperradas pegam no tranco! Não preciso mandar mensagens subjetivas, mando na lata!
Cabe um testemunho: nos anos 80, existiam diferenças
políticas entre os fãs. Isso sempre existiu. O que não existia: NINGUÉM tretava
com o outro por causa disso. Basicamente, a geração dos nascidos nos anos 70 parece
ter, por conta da educação familiar, entendido o bom e velho “me respeite para
ser respeitado”. Não são todos (tem uns velhos por aí que andam aprontando das suas), mas era mais ou menos por aí.
Pronto, tudo preto no branco. Agora, se querem continuar com isso,
sigam em frente. Escrevi e avisei, e não posso evitar que se destruam, mas não me envolvam
em sua pantomima infantil e cega. Não quero e não vou participar de seus
joguinhos de intrigas, fofocas e outros!
Encerrando: a banda ter os pés no chão e avaliar suas
possibilidades, o público-alvo e a buscar formas de despertar a curiosidade
para começar a estender sua base de fãs, e evitar mexer em temas que dividam seu público
(como política, militâncias e partidarismos). No mais, que cada um cuide de sua
carreira conforme desejar.
No mais, o Metal é para todos, quer gostem, quer não gostem... Aliás, aos que não gostaram, a porta da rua é serventia da casa.
Passar bem!
Passar bem!
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