O Rock ‘n’ Roll brasileiro vai muito além do que o grande
público sequer imagina.
Longe dos nomes mais conhecidos do dito Rock Brasil dos anos
80 e seus seguidores, muita coisa boa foi feita por aqui. E ainda é, pois a criatividade
musical não é volátil como o grande público brasileiro (que está mais
preocupado em “estar na moda” como muitos do que estar satisfeito consigo
mesmo). Uma prova é “#Rock”, disco
de BLUYUS.
Pela ampla experiência do mentor do trio, o
guitarrista/vocalista Alexandre Bluyus (que
já passou por nomes como Scavenger,
Gestalt, Other Dogs, entre outros), já se pode apostar que vem um disco
muito bom por aí. E vem, pois aqui temos o mais puro Rock ‘n’ Roll com uma forte
conotação comercial, ou seja, um trabalho musical com o jeito Rocker duro e
direto, mas com melodias de fácil assimilação, ótimos refrões e boa dose de
técnica e feeling. E é uma ótima opção para os ouvidos cansados do dia a dia de
tanto lixo musical que somos forçados a consumir nas ruas e pela TV.
A produção é do próprio Alexandre,
tendo Fred Semensato na mixagem e a
masterização feita pelo Estúdio PSP.
Fica óbvio que a opção é pela qualidade sonora mais simples e orgânica
possível, sem exagerar em infinitas edições digitais. Tudo soa bem feito e
orgânico, mas sem exageros. Tudo apenas para que possamos assimilar com mais
facilidade e música do trio.
Sendo o segundo trabalho do BLUYUS, fica claro que a busca por algo que soe acessível, mas que
seja Rock, que seja feito com energia e vontade. E mesmo sendo um músico de boa
formação (Alexandre é formado pela Faculdade
de Música Santa Cecília, pertencente à turma de graduados de 1997), se percebe
que o ecleticismo mezzo Rock, mezzo Blues, e com boa fluência no Pop
bem feito, funciona muito bem.
Das 12 canções de “#Rock”,
se destacam o jeitão intimista com um toque de Blues e certo swing de “Asas” (reparem no uso bem pensando no
wah-wah em vários momentos), a força acessível e envolvente de “Bússula”, o intimismo suave e tocante
de “De Pai Para Filho” e “Jardim” (ambas com boas conduções de
ritmo, ou seja, com baixo e bateria fazendo um bom trabalho), o toque distorcido
que se encaixa perfeitamente nas melodias de “Promessas”, e a rocker e cheia de energia “Velhos e Bons Tempos”.
Ou seja, “#Rock” é um disco delicioso de se ouvir. Ouçam e
aproveitem!
Desde que o Rock saiu da evidência nas grandes mídias, e retornou
ao Underground nos anos 90, muitos acreditam que o estilo está morto. Óbvio que
sabemos que a coisa não é por aí, pois o público continua presente, apenas
fragmentado (sim, estamos falando dos que adoram viver dentro de subdivisões).
Sempre existem boas bandas surgindo aqui e ali, e só mesmo os que estão mais
despertos conseguem percebê-las. E um grupo muito legal é o GLOWING TREE, quarteto paulista que nos
chega com “Bucolic”, seu primeiro
disco de estúdio.
Surgido como um projeto do vocalista/guitarrista Jean, que trabalha como produtor de
Rock Progressivo e Rock Alternativo, o que temos plena convicção é que o
quarteto tem uma forte vocação para misturar ambos os estilos, mais uma boa dose
de Classic Rock e Hard Rock, o que nos mostra uma música cheia de energia,
melodiosa, e que ora é mais elétrica e empolgante, ora mais densa e
introspectiva, mas sempre um trabalho bem feito e que seduz o ouvinte, pois
eles evitam algo tecnicamente muito complexo (existe técnica, mas não é o foco deles).
É ouvir e assimilar.
A produção buscou algo mais orgânico e seco em termos de
sonoridade para “Bucolic”, tentando
fugir das infinitas edições digitais. Está limpa na medida certa para
compreendamos o que o grupo faz, com uma boa dose de peso e sujeira, embora pudesse
ser melhor, pois o trabalho da banda pede (e merece, pois é muito bom). E a
arte da capa de Jolene Casko ficou
muito boa, transparecendo o que eles buscam sonoramente.
Por ser o primeiro registro de uma banda jovem (embora os
músicos pareçam calejados), “Bucholic” mostra
um trabalho musical que tende a evoluir mais e mais, pois as possibilidades
deles são muitas. Mas mesmo assim, já é algo de respeito, e que vai ganhar
muitos fãs.
Em 10 canções, o grupo se mostra inspirado.
O jeitão mais rocker e sujo de “Animals (This Sounds Black!)” (com guitarras muito boas e ótimas
melodias mais simples) e de “Johnny
Parker” (onde algumas partes mais introspectivas se fazem presentes,e que mostra um refrão muito legal), os
toques Progressivos evidentes de “Reasons
to Cry”, os toques de Bossa Nova que permeiam a atmosfera claramente Prog de
“Slacker Generation”, as belas
passagens de teclados que ornamentam a ambientação ‘Rock Progressivo’ anos 70
de “Pictures of Life” (que belas
guitarras, e com um jeitão meio JETHRO
TULL em alguns momentos), e a pegada mais Hard Rock de “Seeing Red” evidenciam que o grupo tem talento e futuro.
Eles são bons, como “Bucholic”
mostra, mas a tendência é que evoluam mais, e o futuro promete.
E o disco pode ser ouvido nas seguintes plataformas:
E nos Estados Unidos, no início dos anos 80, as bandas do
Big Four norte-americano disseram: “que haja o Thrash Metal”, e de lá para cá,
muita água rolou embaixo da ponte.
Óbvio que os nomes são bem conhecidos de todos os fãs. Mas
um dos mais influentes é o do quinteto nova-iorquino ANTHRAX. Muitos elementos criados pelo grupo são encontrados na
musicalidade das bandas mais jovens do gênero. E coroando o bom momento que eles
estão vivendo, eis que temos em mãos “Kings
Among Scotland”, disco ao vivo (e duplo). E a Shinigami Records em parceria com a Nuclear Blast Brasil lançou esta jóia por aqui.
Gravado no show do grupo em 15 de fevereiro passado em um
show completamente lotado em termos de público (os ingressos estavam esgotados)
no Barrowland Ballroom, em Glasgow (Escócia), a verdade é simples: o quinteto
ao vivo ainda mostra a mesma intensidade, o mesmo sentimento de quando ainda
eram jovens. A sonoridade está excelente, e assim, fica evidente a
participação, bem como a forma excelente do grupo. Nem parece um grupo já com quase
40 anos de vida.
As gravações ao vivo sempre são um desafio, mas a mixagem de
Jay Ruston (que produziu “For All Kings”, último trabalho de
estúdio do quinteto) deu vida e brilho ao som do grupo, sem que a
espontaneidade e energia de um show de Metal sejam perdidas (o que realmente é
algo difícil de conseguir). E na arte de Andy
Buchanan, uma homenagem/sátira à capa de “Rock and Roll Over” do KISS
(lembrando que eles são fãs declarados do quarteto).
Mesmo experiente, a energia ao vivo do ANTHRAX é algo absurdo. E o setlist é ótimo, pois ao lado de
clássicos como “A.I.R.”, “Madhouse” e “Caught in a Mosh”, estão “Breathing
Lightning”, “Blood Eagle Wings”,
mostrando que eles não estão com a mínima vontade de viver de passado, ou mesmo
perto da aposentadoria. Aliás, no setlist, percebe-se que eles tocaram o “Among the Living” completo, e por
isso, músicas de “Fistful of Metal”
e “Persitence of Time” acabaram
ficando de fora, o que não desqualifica o disco. É óbvio que sempre falta
alguma coisa em discos ao vivo de bandas tão antigas, e estamos falando de um
disco com duas horas de duração!
O poder de fogo de “Kings
Among Scotland” é para dar torcicolos crônicos em muitos, pois a energia é
absurda.
Nem dá para destacar esta ou aquela música, pois a solidez
da atual formação é imensa e nada deve às anteriores. Mas não tem como o
coração não bater com força quando tocam canções como “A.I.R.” (reparem na solidez do trabalho insano de Frank e Charlie
na base rítmica), o hino “Madhouse”
(um dos primeiros grandes sucessos do grupo, onde o veterano Scott e o novato Jonathan mostram entrosamento na muralha de riffs da canção, e com
o solo de guitarra que busca ser fiel ao original), “Medusa” (uma das canções em que Joey se apresenta melhor), “Fight
‘Em ‘Til You Can’t” (que energia intensa), “Be All, End All” (reparem como o público participa bastante), “Breathing Lightning” (uma das melhores
canções mais novas da banda, mostrando que o grupo realmente é fiel ao que faz,
mas que sabe se renovar). E isso só no CD 1.
No CD 2 ainda existem massacres para o pescoço como “Among the Living”, a clássica e
obrigatória “Caught in a Mosh” (sem
essa, não é um show do ANTHRAX), a pancadaria
pesada e cadenciada de “I Am the Law”,
a dobradinha insana de “A Skeleton in the
Closet” e “Efilgnikcufecin (N.F.L.)”
(se não entendeu, leia de trás para frente, e eu sempre quis escrever isso
em um review deles), o clássico absoluto “Indians”
(a introdução de bateria fez com que o público fosse à loucura, com Joey pausando a música e chamando o
povo para o moshpit), e a versão Thrasher do grupo para o velho clássico do grupo
francês TRUST, “Antisocial” (que muitos ainda devem achar que é deles, já que esta
música marcou ossos).
Não é o primeiro disco ao vivo do ANTHRAX, mas com certeza “Kings
Among Scotland” é um dos melhores, se não for o melhor.
Discos lançados: “Defiled Corridors of Ruptured Oblivion” (EP)
Formação atual: Bruno Schmidt – Vocais, guitarras, programação de bateria
Cidade/Estado: Curitiba - PR
BD: Como a banda começou? O que o incentivou a formar uma
‘one man band’?
Bruno Schmidt: Olá, primeiramente obrigado pela oportunidade
de estar no Heavy Metal Thunder! Olha sempre toquei em outras bandas de metal,
mas o DIVULSOR começou a tomar forma eu compus riffs mais velozes e queria gravar
e tocar ao vivo, mas todos sabem da dificuldade em manter uma formação fixa em
banda. Não penso como sendo uma one-man-band na verdade, mais como Death Metal
mesmo.
BD: Falem um pouco sobre este atual EP. Como foi feita a
parte de composição, gravação e lançamento?
Bruno: A composição do EP “Defiled Corridors of
Ruptured Oblivion” foi um apanhado de ideias antigas e novas, cada riff me vem
na cabeça com uma bateria específica e então monto tudo. Gravação acabou
tomando um pouco mais de tempo que pensei, mas não será o caso do full length que
está por vir esse ano. Lançamento por enquanto somente a Sevared Records nos
EUA lançou o EP, mas creio também que pro próximo trabalho a distribuição será
um pouco maior.
BD: Quais as maiores dificuldades que está enfrentando no
cenário?
Bruno: Bem as dificuldades são as coisas dos
underground, que é o que todos conhecem, mas não me queixo muito porque todos
tem sido bem receptivos com o DIVULSOR, nos lugares que vou tocar e as pessoas
não conhecem o som, mas acabo recebendo bastante apoio e o público tem gostado.
As dificuldades também são aquelas coisas do país, estradas ruins, correios
péssimos, com atraso de envio, essas coisas.
BD: Como estão as condições em sua cidade em termos de
Metal/Rock? Conseguem tocar com regularidade? A estrutura é boa?
Bruno: Olha aqui em Curitiba tem poucos lugares na
verdade, antigamente tinham mais casas, tenho tocado com alguma frequência, mas
tenho tocado mais em outras cidades do que aqui.
BD: Hoje em dia, muitos gostam de declarar o fim do Metal,
já que grandes nomes estão partindo, e outros parando. Mas e você, como encara
esse tipo de comentário?
Bruno: É triste ver nomes grandes e importantes se
aposentando ou integrantes morrendo, sou curioso para saber quais serão os
nomes que estarão tocando daqui a vamos dizer, 20 anos. Morrendo não está, na
verdade vejo que o metal nunca esteve tão popular quanto hoje.
BD: Em termos de Brasil,
o que ainda falta para o cenário dar certo? Qual sua opinião?
Bruno: No Brasil
o Metal se vira do jeito que pode, antigamente era tudo mais difícil, hoje
estamos muito mais na rota de shows, temos disponibilidade de equipamentos
melhores. Tem muita pilantragem e preguiça de investir em qualidade de
estrutura eu vejo, e os problemas corriqueiros do país agravam tudo isso.
BD: A banda já trabalha em um novo álbum certo? Fale um pouco mais dele para os
nossos leitores.
Bruno: Bem no momento as demos estão terminadas e
será um disco de curta duração, em torno de 30 min, mais brutal e não vejo a
hora de apresentar essas músicas novas.
BD:Além deste novo
material, quais são os projetos futuros da banda?
Bruno: Olha, a prioridade do DIVULSOR é fazer shows
e permanecer dentro do circuito Death Metal.
BD: Deixe sua mensagem final para os leitores.
Bruno: Mais uma obrigado pelo espaço concebido no
Heavy Metal Thunder Brasil, aos leitores que forem curiosos em ouvir, o som do DIVULSOR está disponível nas plataformas online, adquirir em formato físico do
EP comigo e interesse para shows também é só entrar em contato. Valeu pela
força e pelo apoio às bandas autorais aí.
O que poderíamos, em um cenário musical em que a inovação é
quase que um pecado mortal (tendo em vista o número absurdo de bandas retrô que
surgem todos os dias), definir como uma banda que se diferencia?
Em uma aproximação de caráter subjetivo, poderíamos dizer que uma banda
desse tipo é aquela que transcende os rótulos, aglutinando influências musicais diversificadas, e que assim é capaz de recriar-se conforme o tempo passa, e se colocar acima daquelas que apenas repetem fórmulas musicais já erodidas. A criatividade não se faz
em cima de clichês musicais exauridos, mas em algo que tenha frescor, que vem da alma do músico e nos dá aquela
sensação de novidade. E isso é algo para os que sabem ousar, aqueles que não
têm medo de reações adversas e narizes torcidos. Dessa maneira, chegamos à conclusão que o sexteto carioca IMAGO MORTIS é um gigante em termos de ser criativo, e comprovando
isso, eis que após 12 anos de espera, eles acabam de soltar “L.S.D.”, seu mais novo trabalho.
Mais uma vez, o grupo usa de um conceito único em suas
letras: a sigla L.S.D. significa “Love, Sex and Death”, uma alusão às
substâncias químicas que provocam a “paixão”. Na realidade, o romantismo aqui é
tratado de uma forma totalmente poética e subjetiva, embora adornada com
pensamentos que rementem à filosofia de Platão, Schopenhauer, e Nietzsche,
bem como estudos da antropóloga Helen E.
Fisher, algo do tantrismo, e mesmo reflexões pessoais sobre o amor, a
morte, a vida em si, e como a espiral formada por esses três elementos nos
envolve cotidianamente. Realmente algo bem papo-cabeça.
Só que estamos falando de música, e isso, o IMAGO MORTIS sempre tem o que mostrar.
Definir o trabalho deles como Doom Metal é ser displicente, já que são tantos
elementos aglutinados que remetem à New Age, Bossa Nova, Jazz, ao Rock
Progressivo, juntamente com influências de Metal moderno, estilos extremos de Metal e tantos outros que fica
difícil tentar pôr um rótulo único. Se podemos aferir algo nesse sentido, temos aqui uma abordagem eclética e moderna de Doom Metal. Por isso, a
melhor coisa a fazer para começar a compreender o que “L.S.D.” musicalmente é fugir de qualquer tipo de limitação. Digamos
que o impacto criativo desse álbum é tão grande como o que conhecemos de “Vida - The Play of Change”, e que ora
soa vigoroso, forte e pesado, ora mais denso, melancólico e introspectivo. É
uma autêntica viagem, e meus caros: que disco!
Sim, “L.S.D.” é
formidável, um desafio que merece ser encarado de peito aberto.
A produção é do Alex
Voorhees, e o trabalho que ele teve não foi simples, pois a sonoridade de “L.S.D.” é digna de muitos discos
gringos, com tudo soando audível, sem que detalhe algum fique escondido de
nossos ouvidos, mas com energia e muito peso. A timbragem dos instrumentoscontribuiubastante já
que ela soa cristalina nos momentos mais suaves; e pesada quando o grupo cai
para o lado mais agressivo de sua personalidade. Tudo feito com esmero e
cuidado para que o grupo posso ser compreendido em sua totalidade (o que não é
simples).
A arte gráfica, muito bem trabalhada, é do veterano artista Alcides Burn, que mostra inspiração e
segue a ideia do conceito à risca. No encarte, tudo muito simples em termos de
texturas de fundo, mas sabendo usar os tons escuros de vermelho e preto para prender
a atenção do ouvinte.
Se já temos dificuldade de rotular o que IMAGO MORTIS faz, quanto mais o disco
vai tocando, mais se percebe que, musicalmente, o álbum está longe de ser simples de ser assimilado. Uma audição
apenas não é suficiente para absorver tantos detalhes e ecleticismo, embora também
não chegue ao minimalismo soporífero de muitos (Não tem nada a ver com técnica musical
exacerbada, mas com riqueza de arranjos). Longe disso, as canções de “L.S.D.” prendem completamente nossa
atenção, graças a belas linhas melódicas que se distribuem por todas as canções
do álbum, e a harmonias bem construídas.
Com mais de 13 minutos de duração, a gigantesca “The LSD Theorem” abre o disco,com muitas partes percussivas e com
belas cordas (quase um ritual hindu tântrico) que chega mostra uma canção rica
em andamentos e com belíssimas mudanças de timbres vocais (as partes interpretativas
são belíssimas). Misturando teclados jazzístiscos com partes brutais e outras
mais técnicas, bumbos velozes e alguns tempos quebrados, temos “Binary Viscerae”, onde muita
influência de estilos mais modernos de Metal extremo dão as caras. Os mesmos
elementos podem ser ouvidos em “Hieros
Gamos”, embora seja um pouco mais simples e focada na agressividade (e onde
baixo e bateria se destacam em uma base rítmica sólida). Mais introspectiva e
bela, “Incantation” possui belos
duetos de guitarras, além de pianosbem
encaixados. Também bem sensível e cheia de melodias caprichadas é “The Promise”, onde temos a
participação especial de Julia Crystal,
cantora deNew Age que empresta seu
talento para criar lindos duetos vocais. “Two
Headed Chimaera” rebusca o contraste de partes melodiosas e pesadas com
momentos brutais, e outra onde temos excelentes duetos vocais, dessa vez com a
presença de Mari Elbereth Figueiredo
(ex-vocalista do MELYRA, e atual CHRONICODE). Em “A Farewell Kiss”, surgem aquelas linhas mais etéreas e pesadas
comuns às bandas de Doom Gothic Metal, mas logo o peso dos andamentos mais
lentos do Doom Metal se impõe, mas sempre adornados com guitarras fantásticas e
teclados bem encaixados. Curta e beirando o Thrash Metal, “Black Widow” é outra canção marcada por uma simplicidade técnica
mais evidente, mas que é genial (e mais uma vez, o peso criado por baixo e
bateria é de primeira). A longa e densa “Alone”
tem um enfoque belo e introspectivo, e aquele leve toque de melancolia dado
pelos teclados que é uma das marcas registradas do sexteto (e que solos de
guitarra). “Exile” é curtinha, uma
instrumental de pianos e teclados que antecede “Epitáfio de Um Amor”, declamada em português, é um poema quase
filosófico permeado por orquestrações e alguns arranjos de guitarras
providenciais, mas sem quebrar o clima soturno. E “Love Sex and Death (Theme)” alterna partes mais melancólicas e
intimistas (onde o baixo debulha na técnica) com outros mais grandiosos, onde
teclados preenchem os espaços e a bateria mostra-se muito pesada (e nas partes
agressivas, com vocais gritados, as guitarras tecem belas linhas melódicas).
Desta forma, a nova encarnação do IMAGO MORTIS se mostra vigorosa e criativa como as anteriores. Logo,
“L.S.D.” é um dos grandes discos do
ano de 2018, logo, merece estar na coleção de qualquer fã de Metal que se
preze. E conforme for sendo assimilado pelos fãs, é um candidato a seguir os passos de “Vida - The Play of Change”: se tornar um clássico do Metal nacional.
Existem momentos na carreira de uma banda em que mudanças
ocorrem, justamente para mostrar o amadurecimento dos seus integrantes. Esta é
uma força que não pode ser contida, logo, o melhor é que se abrace e deixe que
ele (o amadurecimento) faça sua parte. E sendo guiado por sua identidade
forjada a ferro e fogo, mas com a evolução a seu lado, o quarteto sueco MARDUK chega com mais um assalto
musical, seu décimo quarto disco de estúdio, “Viktoria”.
Musicalmente, “Viktoria”
nos mostra o quarteto explorando elementos musicais de seu passado, da época de
discos como “Opus Nocturne” e “Heaven Shall Burn... When We Are Gathered”,
ou seja, aquela agressividade intensa e brutal de sempre, mas com alguns momentos
não tão velozes e extremos como de costume (“Werewolf” é um ótimo exemplo disso). Mas óbvio que ataques com velocidades
estonteantes estão presentes, além de músicas bem cadenciadas e opressivas. E
não, o MARDUK não mudou seu “insight”
lírico, continua explorando temas satânicos e históricos que causam desespero
nos SJW e adeptos do politicamente correto (embora não haja nada errado com
esse tipo de letra). Mas é preciso dizer que a experiência do grupo continua
dando aquela diferenciada entre o grupo e muitos outros. O quarteto possui
identidade, e ponto final.
Sim, “Viktoria” é
mais uma gema preciosa na discografia da banda.
Gravado mais uma vez nos Endarker Studios, tendo os próprios integrantes cuidando da
produção, mixagem, masterização e engenharia sonora, este disco tem uma
produção mais bem cuidada que muitos fãs mais extremistas gostariam, mas a
sonoridade mais bem delineada permite que o quarteto se expresse muito melhor musicalmente.
Tudo está claro aos ouvidos, com timbres ótimos, mas bem pesado, e com a
agressividade e energia fluindo pelos falantes.
Já em termos de arte gráfica, a capa é uma das mais simples
que a banda já teve, se não for a mais simples. Mas é essa a ideia: usando uma
imagem mais direta (que foi trabalhada por Mortuus),
inspirada pelos pôsteres da Reichspropagandaleitung
de do Office of War Information, ela
fixa em nossa memória quase que instantaneamente.
E pode-se aferir que “Viktoria”
é um disco maduro. Vemos que Mortuus
está cantando de maneira formidável, usando muito bem de todos os timbres de
voz que possui (indo de tons rasgados a outros mais urrados sem problemas), bem
como a massa rítmica criada por Devo
(baixo) e Widigs (bateria) é sólida
e técnica, guiando bem os tempos da banda. E Morgan continua sendo um dos melhores guitarristas de Black Metal
de todos os tempos, um mestre com riffs excelentes e que são de fácil
assimilação. Aliado ao talento de cada um de seus membros, existe a inspiração
em termos musicais, sendo arranjar as canções de maneira sóbria (e nenhuma
delas ultrapassa muito dos 4 minutos de duração), mas sempre criativa e de bom
gosto.
As sirenes de ataque aéreo dão início à sinistra “Werewolf”, uma canção brutal, mas onde
a velocidade não é exacerbada, com um trabalho instrumental simples, além de ótimos
vocais. Já mais veloz e na pegada tradicional do grupo, temos “June 44”, os vocais alternam bastante
de timbres, seguindo as mudanças de andamento (que destacam o ótimo trabalho de
baixo e bateria). Em “Equestrian
Bloodlust”, outra com um jeito mais tradicional da banda em termos de velocidade,
onde as guitarras reinam supremas em seus riffs certeiros. Mais cadenciada e
densa é “Tiger I”, com uma energia opressiva
e cativante, e uma aula de interpretação dos vocais. Rapidez e impacto é o que
temos em “Narva”, outra aula de
riffs e arranjos fenomenais em termos de guitarras. “The Last Fallen” mostra alternância entre partes mais lentas, outras
mais tradicionais em termos de Black Metal (aquelas em que as guitarras criam
uma atmosfera muito soturna), e outras muito rápidas,e percebe-se ótimo trabalho de bateria, especialmente nos dois
bumbos. O baixo pulsa bem evidente em muitos momentos de “Viktoria”, especialmente nas partes mais cadenciadas, outra
canção impactante e que funcionará bem ao vivo. Outra que fará a alegria nas
apresentações ao vivo é “The Devil’s
Song”, veloz, direta e seca, mas mostrando ótimos arranjos de guitarras. E
fechando, temos a sinistra e lenta “Silent
Night”, que vem para triturar os ossos, mais uma vez com os vocais fazendo
um trabalho ótimo, com timbres muito bons.
“Viktoria” mostra
como a máquina de guerra Black Metal chamada MARDUK está azeitada e pronta para tomar de assalto o mundo
inteiro. E assim, vai preparando os fãs para a “March of Blood and Iron Tour”, a próxima turnê deles na América do
Sul em setembro e outubro próximos. Até lá, ouçam mais e mais esse disco, onde
o grupo mais uma vez para estar entre os grandes destaques do ano.