Ano: 2018
Tipo: Full Length
Selo: Independente
Nacional
Tracklist:
1.
Sy-gûasu
2.
Gûaîupîá
3.
Îasy
4.
Danhõ’re
5.
Huku Hêmba
6.
Ko Kri (instrumental)
7. Jurupari
8.
Gûaînumby
9.
Îagûara Kûara
10.
Abaré Angaíba
11.
Rowahtu-ze
Banda:
Zândhio Huku -
Vocais, guitarras, viola caipira, instrumentos indígenas
Lís Carvalho -
Vocais, pífano
Guilherme Cezario -
Guitarras
Saulo Lucena - Baixo,
vocais
João Mancha -
Bateria, percussão
Ficha Técnica:
Caio Duarte - Produção, mixagem e masterização
Contatos:
Site Oficial:
Facebook: https://www.facebook.com/aranduarakuaa/
Assessoria:
E-mail: arandurakuaa@gmail.com
Texto: M. Garcia
Em termos de Alma
Mater, o povo brasileiro ainda carece de maior aprofundamento e compreensão
do que vem a ser seu conjunto de características nativas. Óbvio que não se
podem negar as contribuições culturais dos povos europeus e africanos para
moldar a identidade cultural do nosso povo. Mas muitas vezes, deixamos de lado
o aprofundamento intelectual necessário para compreender e assimilar a cultura
do índio, talvez o grupo étnico mais maltratado e desdenhado de todos. Nisso,
já existem bandas de Metal por aqui que rebuscam a essência dos povos
indígenas, e sem sombra de dúvidas, o ARANDU
ARAKUAA continua sendo um dos nomes mais fortes dentro do que podemos
chamar de Folk Metal brasileiro. E é uma honra poder não só ouvir (o que por si
só já é algo prazeroso), mas resenhar “Mrã
Waze”, seu terceiro e mais recente álbum.
A banda mais uma vez lança de elementos indígenas associados
ao Metal em suas vertentes mais variadas (inclusive com partes extremas) para
criar algo único, algo original e diferente, que tem momentos em que impera a
agressividade, e outros onde as melodias se tornam mais interiorizadas mais
introspectivas e melancólicas. A maior das diferenças de “Mrã Waze” e seus antecessores é a coesão, pois a cada disco
lançado, a banda vai ganhando riqueza musical e o seu estilo vai ficando mais e
mais sólido, com ótimas partes instrumentais, vocais diversificados (urros
extremos se entremeiam com doces vozes femininas e timbres masculinos normais
quase xamânicos), além da maior exposição do lado indígena de sua música.
Outra característica única da banda, como já é de
conhecimento de todos, é o uso de linguagens indígenas. Tupi, Xavante, e Akwẽ
Xerente são os idiomas usados (exceto em “KoKri”, uma
faixa instrumental onde o título vem do Krahô), o que torna tudo ainda
mais único.
Sim, “Mrã Waze” é
outra obra prima do grupo. E para os que tanto reclamam de originalidade, eu os
desafio a verem algo similar ao grupo lá fora.
A produção do disco ficou muito boa, tentando ser translúcida
nos momentos mais melodiosos, mas com peso e agressividade quando eles pegam
mais pesado. E digamos de passagem: construir uma sonoridade para “Mrã Waze” não deve ter sido muito
simples, pois conseguir associar tantos elementos diferentes juntos é bem
difícil, mas ficou de alto nível. Até a arte gráfica esboça a dualidade
harmônica do indígena com a natureza que o cerca.
“Mrã Waze” significa
“Respeito à Natureza” no idioma Akwẽ Xerente, e por isso, tem em si um conceito
bem complexo, mas que pode ser resumido a “todos unidos em matéria e espírito”,
algo harmônico para todos. E é a harmonia que surge em seus arranjos musicais,
na dinâmica entre cada uma das canções do disco. É impossível não se sentir
atraído por tamanha diversidade e beleza em termos musicais.
“Sy-gûasu” é uma faixa
totalmente focada nos elementos indígenas, quase como um ritual de
purificação/pacificação de todos, seguida dos contrastes entre o suave e o
agressivo que formam “Gûaîupîá” (que
lindas passagens de vocais femininos e viola caipira, mas as partes agressivas
são excelentes), assim como a tribal “Îasy”
(onde as guitarras mostram riffs muito bons, além de muita criatividade).
Em “Danhõ’re”, muitos
elementos do Sertanejo dão as caras (nada a ver com o estilo em voga e que
tantos amam), e mostrando belas cordas e percussões. Com uma vibração positiva
e sedutora, temos a complexidade dual (em termos de melodias e agressividade)
de “Huku Hêmba”. Na instrumental “Ko Kri”,
novamente temos mais abrangência dos temas regionais guiados pela viola
caipira. Em “Jurupari”, por sua vez, o grupo tem uma pegada
mais direta, seca e agressiva guiada pelas guitarras, mas o trabalho nos ritmos
ditados por baixo e bateria está ótimo. Já em “Gûaînumby” eles
voltam a ter mais enfoque na introspecção, focando mais nas melodias bem feitas
e executadas com cordas limpas, percussões e chocalhos que seguem belas linhas vocais
limpas. Novamente carregando no peso e técnica, “Îagûara Kûara” mostra bem todos os lados do diamante que é a
música do grupo (novamente corais muito bons). Em outra mistura de partes
agressivas com toda uma ambientação indígena e outros momentos mais
introspectivos, temos “Abaré Angaíba”, onde percussões e vocais masculinos dão um tom bem melancólico e denso
ao final da canção (embora encerre com partes mais duras e brutas). E “Rowahtu-ze” vem com um jeito que mixa o azedume extremo com técnicas
não convencionais ao Metal e muitos vocais que lembram um pajé recitando suas
orações.
No fundo, o ARANDU ARAKUAA é uma das bandas
mais criativas do país, e merece respeito por isso. Mas digamos que além de
excelente, “Mrã Waze” vem forte para
ser um dos grandes discos de 2018!
Ele já pode ser ouvido nas plataformas
digitais, mas a versão física de “Mrã Waze”
está quase saindo do forno.
Para melhor informar o caro leitor,
abaixo estão os nomes das canções com suas traduções, e informação de qual
idioma usado.
Sy-gûasu
- Grande Mãe, no idioma Tupi
Gûaîupîá
- Espírito dos Pajés Bons, no idioma Tupi
Îasy
- Lua, no idioma Tupi
Danhõ’re
- Cantar, no idioma Xavante
Huku
Hêmba - Espirito da Onça, no idioma Akwẽ Xerente
Ko
Kri - Água Fria, no idioma Krahô
Jurupari
- Deus dos Sonhos, no idioma Tupi
Gûaînumby
- Beijar-Flor, no idioma Tupi
Îagûara
Kûara - Toca da Onça, no idioma Tupi
Abaré
Angaíba - Padre Mau, no idioma Tupi
Rowahtu-ze - Ensinamento, no idioma Akwẽ
Xerente
Nota: 100%
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